domingo, dezembro 31, 2006

Cinema

Alimentando a esperança


Clive Owen, especialista em atuar nos melhores longas do ano

Inúmeras obras já fizeram a associação entre crianças e o sentimento de esperança. Desde sempre, os pequenos simbolizam o futuro, período de tempo em que residem nossas maiores expectativas, as esperanças de dias melhores. Não se trata, portanto, de uma idéia original, mas o longa Filhos da esperança consegue elevar o conceito até um novo patamar, justamente porque constrói toda sua narrativa na premissa de que uma sociedade sem crianças é uma sociedade sem esperança. A diferença aqui é que o filme é capaz de nos convencer totalmente da idéia.

Estamos em 2027. Há dezoito anos a humanidade foi abalada por uma súbita crise de infertilidade. Sem poder constituir famílias e levar adiante nosso legado, a população passa a se revoltar com a própria existência sem sentido, transformando o mundo num cenário sombrio, devastado por inúmeras guerras e pelo desespero diante do armagedom inevitável. Apenas a Inglaterra sobrevive como uma nação típica e estruturada, condição garantida graças ao feroz regime totalitarista que tomou o poder, perseguindo a qualquer custo os imigrantes que tentam desfrutar da “ordem” vigente.

Para piorar, o mais jovem humano (o “bebê Diego, um argentino de dezoito anos que se tornou uma celebridade instantânea) acaba de ser assassinado por um fã, apenas por ter recusado um autógrafo. Não que isso seja capaz de abalar Theo Faron (Clive Owen). Na verdade, o protagonista da história aproveita toda comoção gerada em cima do funeral para conseguir um dia de folga para passear na fazenda do amigo Jasper (Michael Caine), única atividade que ainda lhe traz um pouco de alegria.

Theo é o herói típico. Passou a juventude lutando contra os desmandos do governo, em busca de uma sociedade mais justa, capaz de entregar um mundo melhor para as gerações posteriores. Encontrou sua cara-metade em Julian (Julianne Moore) e com ela decidiu constituir família. Porém, o sonho de felicidade do casal terminou rápido, após a perda do filho ainda pequeno. A misteriosa onde de infertilidade impossibilitou o casal de ter mais filhos. Consternados, eles acabam se separando. Theo, desiludido, passa a aguardar o fim de tudo sem resignar-se. Julian, por sua vez, vai buscar forças na militância do passado. Nada disso aparece no filme, mas em poucos diálogos somos capazes de presenciar toda a situação.

O destino se encarrega de reencontrá-los quando Julian pede ajuda a Theo para realizar uma operação que pode mudar o curso da humanidade. Theo é o único que pode conseguir um passaporte para Kee, garota que se torna a chave para resolver o problema da infertilidade. A volta da mulher amada e a natureza da missão em si reascendem a esperança de Theo de que seus esforços possam garantir um futuro melhor.

Apesar da estrutura, Filhos da esperança não pode ser classificado apenas como um filme de ação (mesmo contando com algumas das melhores seqüências da história do gênero). A produção também assume contornos panfletários, ao realizar um excelente paralelo entre àquele futuro sombrio e nossa realidade pouco animadora. O longa também funciona como um excelente drama, graças aos personagens profundos e interpretações pra lá de dedicadas.

A única falha está no final do filme. Não que eu discorde do rumo que a história segue, apenas acredito que ele termina de uma maneira um tanto abrupta. Mas nem isso é capaz de tirar o brilho desta aula de cinema dirigida pelo mexicano Alfonso Cuáron (E sua mãe também). Aqui, ele se supera: além de ter tirado o máximo de um elenco estrelado, rechear o longa com diálogos e cenas emocionantes, o diretor constrói tudo com uma perfeição técnica absurda em todos os aspectos. Destaque para o plano-seqüência que mostra a fuga de Theo e seus aliados.

A seqüência começa em uma conversa corriqueira, onde a câmera gira por dentro do carro para mostrar o diálogo de todos os ângulos. De súbito, um carro incendiado aparece logo à frente, e o que parecia ser apenas uma conversa reveladora torna-se uma dramática perseguição. A câmera entra e sai do carro, mostra a cena em todos seus detalhes para voltar ao carro e nos apresentar as conseqüências e depois repetir todo processo. É quando você se dá conta de que não há cortes, pelo menos não aparentes. São quase oito minutos de ação ininterrupta, o que eleva o suspense ao nível máximo do suportável. Um show, digno de todos os prêmios possíveis.

Na minha modesta opinião, o filme do ano. Mais que isso: um dos melhores que já pude assistir.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Quadrinhos

Poder Supremo


Panini 2007: uma quase "exclusividade" no mercado de HQ's

Acabou o mistério. Depois de alguns meses cheios de dúvidas e especulações a Panini correu atrás e renovou o contrato que garante a publicação das séries de quadrinhos da DC Comics em terras tupiniquins. A notícia consolida o status de superpotência dos quadrinhos nacionais que a editora italiana passará a exibir em 2007. Além das histórias da DC, a editora publicará séries regulares da Marvel, Top Cow, diversos mangás, títulos europeus e a Turma da Mônica, que muda para a nova casa em janeiro. De tiragem relevante ficaram de fora apenas títulos da Disney, alguns fummetos e títulos da Wildstorm, Image e Vertigo. Estima-se que a empresa responda por cerca de 80% a 90% do mercado no próximo ano.

Tal notícia, ironicamente, apresenta vantagens e desvantagens para os apreciadores de hq´s. As primeiras dizem respeito à qualidade do trabalho da Panini, principalmente no filão dos super-heróis. É impressionante o volume de material que chega às bancas e lojas especializadas, entre séries regulares e encadernados especiais, títulos que geralmente contam com acabamentos muito superior aos dados pelas antigas responsáveis por tais publicações. Louvável também foi a iniciativa da Panini em colocar encadernados de luxo nas bancas, com pequenas tiragens de distribuição setorizada. O sucesso desta empreitada abriu espaço para que outras editoras fizessem o mesmo, o que possibilitou que nós brasileiros conferíssemos muitas obras que em no passado dificilmente chegavam por aqui.

Mas nem tudo são flores, e o “quase” monopólio da Panini seguramente trará prejuízos para os consumidores. Sem concorrentes, a “gigante” sofrerá menos pressão para resolver os constantes problemas de atrasos, erros de impressão e má qualidade do papel de alguns títulos. Também diminui-se a esperança de uma queda de preços, ou mesmo que estes permaneçam sem reajuste.

A história poderia ter sido bem diferente caso a DC realmente migrasse para a Pixel Media. As negociações começaram em agosto deste ano, e faziam parte da estratégia da DC em transportar a concorrência com a Marvel para a esfera global. Como em diversos países os principais títulos das duas “majors” americanas são publicados pelas mesmas editoras, a disputa entre as duas não ocorre de maneira plena.

Contra a Pixel pesou a falta de tradição e pequeno porte, características típicas de uma jovem empresa, que apesar de realizar um ótimo trabalho em algumas publicações da Image Comics, possivelmente teria dificuldades com na distribuição de títulos de maior peso em todo o território nacional, um problema que aflige até mesmo a Panini.

E mesmo sem ter de temer a concorrência, algumas dores de cabeça ainda deverão atormentar a Panini no próximo ano. Apesar do aumento da oferta de títulos, o mercado brasileiro atualmente amarga um processo de encolhimento em suas tiragens. Hoje a Panini sofre com encalhes de edições de tiragens de apenas 20 mil exemplares. Há também a questão da pirataria através da Internet, onde edições inteiras são escaneadas e colocadas para download gratuito. Apesar do enorme poder que desfruta hoje, o cenário ainda é pouco animador para a Panini. Resta torcer para que o poder não suba a cabeça e que a editora não se contente apenas em manter o mercado que já possui, e sim investir para atrair novos consumidores, com produtos e preços cada vez mais atrativos.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Cinema

Voltando à boa forma


Nicholson: "É sério, depois da segunda estatueta aquilo tudo perde a graça..."

Leonardo DiCaprio pode ser perdoado. Se ainda existiam suspeitas de que o ator fosse responsável pela baixa qualidade dos últimos filmes de Martin Scorsese (Gangues de Nova York e O aviador, respectivamente) estas terminam após uma sessão de Os Infiltrados, filmaço que entra fácil em qualquer lista de melhores longas do ano e recoloca Scorsese no posto do qual nunca deveria ter saído: de um dos maiores gênios da história da sétima arte.

O filme conta a história de Colin Sullivan (Matt Damon) e Willian Costigan (Leonardo DiCaprio). O primeiro é protegido do mafioso irlandês Frank Costello (vivido magistralmente por Jack Nicholson, atuação que deve assegurar mais uma indicação da academia). Colin se infiltra na polícia de Boston para conseguir informações que ajudem Costello a assegurar o controle do crime organizado. Graças a informações passadas pelo mafioso, “Collie” consegue uma ascensão meteórica na polícia, chegando aos postos mais altos, onde ele tem acesso às informações mais restritas do departamento. Já Willian Costigan faz o caminho inverso: policial, é designado para se infiltrar no bando de Costello por possuir antepassados com antecedentes criminais na máfia irlandesa, o que diminuiria as suspeitas acerca dele ser ou não um “rato” infiltrado.

Desta maneira, o foco narrativo gira em torno da tensão da atividade dos dois infiltrados, que a cada nova ação podem ser descobertos pelo outro lado, ou mesmo descobrirem um ao outro, já que ambos ficam sabendo da existência de um “rato” em suas respectivas bases. O roteiro funciona como um cabo de guerra, onde as novas descobertas e informações de um lado forçam o outro a agir em resposta com igual intensidade.

A situação se complica quando Sullivan começa um relacionamento amoroso com, psicóloga da polícia, designada para dar assistência ao personagem de DiCaprio, que também não demora a flertar com a moça. Os desencontros dos infiltrados e seus constantes esforços para conseguir mais respeito Costello para poder finalmente desequilibrarem o jogo criam uma atmosfera densa e delicada, gerando um show de reviravoltas que obrigam o espectador a não desviar a atenção da telona por nenhum um segundo.

Tudo isso enriquecido por ótimos personagens coadjuvantes, como a dupla de policiais Queenan e Dignan, vividos por Martin Sheen e Mark Walbergh, responsáveis por toda a logística para que Costigan não seja descoberto pelo inimigo. E não posso esquecer dos diálogos, simplesmente geniais, como aquele em que Sullivan diz que não “precisa de bandidos para ser policial, pois se eles acabassem, ele passaria a prender inocentes”.

Apesar de se tratar de uma refilmagem de um longa de Hong Kong (Conflitos Internos), Os infiltrados é Scorsese puro. Aqui o diretor prova mais uma vez entender o universo masculino e como funciona a cabeça dos homens. Neste mundo movido à testosterona (só existe uma personagem feminina com relevância para a trama), Scorsese mostra que os "machos" são movidos pela necessidade de respeito (reconhecimento), poder e sexo. Ao se depararem com a falta ou oferta de um destes elementos, não é raro que estes apelem para a violência. O diretor entende estas motivações e transforma a violência de seus filmes em algo cheio de significado, sempre de forma inteligente, algo que alguns puristas defensores das boas maneiras talvez não sejam capazes de entender...

sexta-feira, novembro 10, 2006

Música


Lily Allen: sensação musical graças a maneira "despojada" de ser


Se você está à procura de um popzinho suave e descolado, capaz de rolar na MTV, mas com personalidade própria, uma boa pedida é conferir o álbum Alright, Still... da inglesa Lily Allen. Muito bem executado e com letras pra lá de inusitadas, Allen é séria candidata a se tornar a nova queridinha da mídia.

Tudo graças à sua sinceridade. Depois de um mal sucedido disco de estréia, “Lily the Kid”, como é conhecida na Inglaterra, não deu bola para os executivos de sua gravadora e manteve o teor sarcástico de suas canções, de letras bem pessoais e, em alguns casos, sem muito pudor.

A decisão fez com que a cantora não recebesse o aval dos “engravatados da música”. Ainda sim Allen se mantinha irredutível, e já que estava sem gravadora, resolveu divulgar suas canções através de sua página do Myspace:
http://www.myspace.com/lilymusic. Não demorou para que Lily conquistasse o maior suporte que um artista pode contar: uma legião de fãs. Em pouco mais de um mês as músicas já haviam sido acessadas mais de 1 milhão de vezes. Lily se tornou a mais nova celebridade do mundo virtual, um sucesso tão retumbante para qual nenhuma gravadora poderia fechar os olhos.

Quando já podia escolher em qual selo ficar, Lily optou pela EMI, mas não abandonou a Internet. A cantora continua atualizando regularmente sua página pessoal do Myspace e um blog: http://www.lilyallenmusic.com/. Neles podemos conferir um pouco das desbocadas letras que garantiram o sucesso da cantora. Um exemplo? Que tal o hit Smile: “When you first left me I was wanting more. but you were fucking the girl next door, what you do that for?” “Quando você me deixou eu queria mais, mas enquanto você fodi@#$ a vizinha, o que você queria?”. Tudo isso produzido de forma açucarada, prontinho para ser o sucesso da estação. Alguém duvida?



Confira o talento da moça para o pop grudento no hit "LDN"

segunda-feira, novembro 06, 2006

Cinema

Poema em Celulóide


Fonte da vida: Hugh Jackman mostra o quanto pode brilhar

Minha expectativa para conferir Fonte da vida era enorme. Quase do tamanho da fila para entrar na primeira sessão do filme no Festival Internacional de Brasília. Quando as portas da sala 1 do Cine Academia se abriram uma pequena multidão passou a correr afoita em busca de um bom assento. Tudo porque o diretor do filme é Darren Aronofsky, o revolucionário responsável pelos magníficos Pi e Réquiem por um sonho.

O longa marca a volta do cineasta após um hiato de seis anos, período em boa parte dedicado a um ambicioso projeto que entrecruzaria três narrativas distintas, cada uma delas separadas quinhentos anos no tempo. Brad Pitt e Cate Blanchet estrelariam a produção, batizada de Fonte da vida, mas logo começaram a surgir as famosas “diferenças criativas” entre ator e diretor, culminadas com a saída de Pitt. Como o longa era todo construído em cima do personagem de Pitt, Blanchet pulou fora pouco depois. A produção ficou estagnada e a Warner optou por bloquear os oitenta milhões de dólares reservados ao projeto.

Aronofsky também pensou em abandonar o barco. Se envolveu nas pré-produções do novo longa de Batman e na adaptação de Watchmen, tudo para esquecer a desilusão de não filmar sua menina dos olhos. Mas o diretor não se identificou com estes projetos e em pouco tempo já procurava formas de recomeçar a produção de Fonte da vida
. Após enxugar o roteiro e reduzir os custos de produção em quarenta milhões, ele recebeu novamente o sinal verde da Warner. Hugh Jackman e Rachel Weisz tomaram os lugares reservados a Pitt e Blanchet, e a ambição de Aronofsky pode se completar.

A história de Fonte da vida não chega a ser tão complexa quanto as primeiras sinopses pintavam: é uma história sobre a fragilidade humana e nossa difícil relação com a morte, Jackman interpreta três personagens, um conquistador espanhol atrás da antiga lenda maia sobre a “fonte da vida”, um médico em busca da cura do câncer e um astronauta viajando em direção ao um agrupado de estrelas que, segundo as mesmas lendas maias, tem a capacidade de conceder vida eterna.

Para cruzar as linhas narrativas paralelas, Aronofsky constrói a trama que envolve o conquistador espanhol como um livro que Izzy (Weisz) escreve durante sua luta contra o câncer. Nada mais que um espelho da obstinação de seu próprio marido, que pesquisa as propriedades de cura de uma antiga árvore apenas para garantir que a mulher amada, objeto de sua adoração, sobreviva. O astronauta pode ser interpretado como o final da jornada do conquistador, mil anos no futuro, ou mesmo a destino do médico Tommy (Jackman), após encontrar o segredo da vida eterna em sua pesquisa. Os três podem ser considerados apenas um personagem, pois nenhum consegue lhe dar com a perda da mulher amada, e todos estão em busca da “fonte da vida”.

O enredo é muito simples e mesmo assim o filme é capaz de provocar as relações mais distintas e complexas. Algumas pessoas simplesmente não conseguiram compreender as conexões entre as tramas. Outras, por motivos religiosos ou filosóficos, não conseguem entender a dificuldade que os personagens de Jackman têm em aceitar a morte. Outros simplesmente acharam mo filme "vazio". O fato é que a produção é uma síntese perfeita da própria humanidade, que durante toda sua história (daí as narrativas separadas pelo tempo) se mostra incapaz de lidar com a morte, criando os mais diversos subterfúgios para aceitar o destino final, ou apenas diminuir a dor. Um tema que merece reflexão.

O longa é permeado por inúmeros efeitos especiais e planos pouco convencionais, marca registrada de Aronofsky, mantendo o estilo lisérgico das produções anteriores. Mas desta vez o diretor acaba escorregando em seqüências exageradamente grandiosas, que apesar de lindas, acrescentam muito pouco ao resultado final.

O mesmo não se pode dizer da interpretação de Jackman, uma das melhores já vistas no cinema. O ator é o pilar de sustentação do filme. Toda a dor e dificuldade de resignação só podem ser assimilidas graças à inacreditável sinceridade de Jackman em cena, transbordando emoção durante toda a fita. Aronofsky acertou em cheio neste ponto. Sem um um grande ator seria impossível rodar um roteiro tão minimalista. Weisz, por sua vez, cumpre seus papéis de forma correta, compondo o oposto de Jackman: uma pessoa conformada com seu destino. Interessante notarmos que a atriz é esposa de Aronosky, algo que deve ter contribuído para que o diretor se esforçasse tanto em transformá-la no motivo daqueles personagens viverem, a verdadeira “fonte da vida” de cada um deles.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Cinema

Volta as origens


Volver marca o retorno de Almodóvar aos temas femininos.

Olho no relógio: 20:30! O coquetel de abertura do Festival Internacional de Cinema de Brasília 2006 estava marcado para oito da noite, mas quem comprou ingresso foi obrigado a ficar do lado de fora, espiando alguns figurões desfilarem seus modelitos fashion pelo saguão do Cine Acadmia enquanto se empanturram com vinhos e salgadinhos. É preciso garantir o conforto de gente como o governador eleito do Distrito Federal, José Roberto Arruda, justo ele, que até um mês atrás não media esforços para ser visto no meio do povão...

Mas nem mesmo todo este constrangimento foi capaz de apagar o brilho desta sessão de estréia. Após degustar alguns salgadinhos e amendoins e esperar os políticos garantirem os melhores lugares, recostei minha cabeça na poltrona e esperei a projeção começar. Antes, uma pequena apresentação sobre o festival.

O filme escalado para abrir a mostra deste ano foi Volver, do espanhol Pedro Almodóvar, antecedido pelo curta Tarantino’s Mind, de Manitou Felipe e Bernardo Dutra. Os diretores brasileiros apresentam uma tese sobre o cinema de Quentin Tarantino, onde o personagem vivido por Selton Mello costura ligações entre todos os filmes dirigidos e roteirizados pelo diretor americano. Certamente os grandes fãs de Tarantino já haviam feito algumas das associações apresentadas, mesmo assim, o curta consegue ser bem divertido quando nos depara com referências que passaram batido. Um ótimo cartão de visita para a dupla de estreantes.

Era chegada a hora da atração principal. Volver (voltar em espanhol) logo se mostra um excelente título para o novo trabalho de Almodóvar. O reencontro conturbado entre mãe e filha é também a volta do diretor ao seu habitat natural. Aqui Almodóvar se reencontra com a musa Penélope Cruz, as cores vibrantes, a vida cotidiana e, principalmente, com o universo feminino, que ele compreende como poucos. As mulheres de Volver são fortes e independentes, e mantém uma relação de desconfiança com o os homens. Todas já tiveram grandes decepções com o sexo oposto, mas Almodóvar é sutil, ao ponto de não transformar seu trabalho em mais um panfleto para a eterna guerra dos sexos.

E trabalhar novamente com o universo que lhe é habitual não fez com que Almodóvar se repetisse. Longe disto! Volver apresenta um frescor raro no cinema atual, com um narrativa fluída, calcada na tradição oral de contar histórias do povo latino. Um “que” de realismo mágico permeia a produção e o cineasta brinca com o telespectador enquanto sugere levar a história para rumos pouco convencionais, mesmo sem fazer as experimentações estruturais apresentadas em longas como Má educação. Volver é linear e o desenrolar da história se dá como nos melhores segredos de família, onde cada peça do quebra-cabeça é descoberta meio que por acaso, justificando as atitudes tomadas pelos personagens anteriormente.

E que personagens!!! Bastaram poucos minutos de projeção para que a sala, completamente lotada, se visse conquistada pelo incrível carisma daquelas mulheres! Apesar da família composta por Irene e suas filhas Raiumunda e Soledad possuir características tão ímpares, é impossível não se indentificar com a forma como elas interagem entre si. Risadas e expressões de angústia ecoavam em uníssono no cinema, só terminando ao final história, um desfecho tocante, sem ser piegas. Bem diferente da maioria das produções que permeiam o mercado. Após a projeção, palmas mais do que merecidas.

Se você perdeu a exibição de estréia, não se desespere. Volver não irá demorar a aportar no circuito convencional. Sua estréia nacional acontece no dia 10 de novembro. Mas procure não perder esta segunda oportunidade, afinal, não é sempre que podemos assistir no cinema a um filme que já nasce clássico.

terça-feira, outubro 31, 2006

Cinema

Sem desculpa pra ficar em casa


Fonte da vida, uma das atrações do Festival Internacional de Brasília

Com dois grandes festivais engatilhados, novembro promete para os cinéfilos brasilienses. Logo de cara, no dia primeiro, começa o Festival Internacional de Brasília, mostra que reúne trabalhos de cineastas dos quatro cantos do globo. O final do mês fica reservado para a Mostra Nacional, com o melhor do cinema tupiniquim.

É verdade que o Festival Internacional de Brasília ainda não conta com o mesmo prestígio dos primos carioca e paulista, que concentram os principais lançamentos em suas sessões. Mesmo assim, o FIC deste ano exibe um cast de respeito, em parte pelo próprio atraso do festival, que ocorre tradicionalmente em julho, mas graças a "concorrência" da Copa do Mundo e das eleições, precisou ser adiado.

Este atraso possibilitou a inserção de produções muito aguardadas, que não poderiam estar presentes no mês habitual, ou por não estarem prontas, ou para não “furar” o Festival do Rio, que acontece em setembro. Películas de gente consagrada como Pedro Almodóvar, que aparece com Vover, e Darren Aronofsky, com Fonte da Vida, certamente irão atrair um grande público para a mostra. Totsy – Infância Roubada, documentário vencedor do Oscar, e Um bom ano, novo de Ridley Scott, são outros que devem lotar suas sessões.

Os organizadores garantem que os filmes com menor destaque na mídia não serão prejudicados pela concorrência com estes “arrasa-quarteirões” cult. Eles argumentam que as películas de grande projeção servem como iscas para o grande público, que acaba atraído pelas produções de menor divulgação, mas igual qualidade presentes no festival. Tomara que eles estejam certos!!! Aposto que filmes como Viva Zapatera! de Sabrina Guzzanni e CRAZY – Loucos de amor de Jean-Marc Vallé devem dar o que falar!!

As sessões serão no Cine Academia, as margens do Lago Paranoá, entre os dias 1° e 9 de novembro. Para conferir as salas e horários, ou ainda outros detalhes sobre o festival, visite o site oficial:
www.ficbrasilia.com.br

Em breve eu volto para falar sobre o Festival Nacional, que só acontece no final do mês, e para falar sobre o que vi nas salas de projeção da FIC.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Cultura

Como uma pedra rolando


Capas da Rolling Stone: estilo exaustivamente copiado em todo o mundo

Ávido freqüentador de bancas de revistas que sou – não passo um dia se quer sem visitar ao menos duas – observo com entusiasmo o grande aumento de publicações relativas à cultura pop nos últimos anos. Cinema, música, quadrinhos, seriados de TV e derivados nunca tiveram tanto espaço na mídia.

Apaixonado por todos estes temas, me vejo todo mês na ingrata tarefa de selecionar o que devo ou não levar para a casa. Com uma oferta tão vasta e pouco dinheiro na carteira, sou obrigado a folhear diversos títulos atrás daquele que apresente melhor relação custo-benefício. Algumas revistas já se tornaram praticamente obrigatórias, mas sempre pinta alguma surpresa. Neste mês de outubro ela atende pelo nome Rolling Stone.

Originária dos EUA, berço da esmagadora maioria da produção pop mundial, a Rolling Stone foi criada na década de sessenta, auge da contracultura. Nasceu para disseminar os ideais contestadores daquela geração. Seu jornalismo original, transgressor e de grande consciência política garantiram à publicação um lugar de destaque naqueles anos de revolução da arte. Os anos dourados chegaram ao fim e a revista seguiu em frente, tornando-se um verdadeiro ícone do universo que ela mesmo cobria.

Com todo este sucesso e importância na bagagem, sempre estranhei o fato da Rolling Stone não ter aportado pelas terras tupiniquins há mais tempo – não sabia que já houveram algumas experiências frustradas. Ora, uma revista que aborda todos os temas citados no início do texto e prima por reportagens aprofundadas e opinativas certamente teria seu espaço. Principalmente em um mercado repleto de publicações que parecem não fazer mais do que publicar releases das gravadoras e distribuidoras.


Capa da primeira edição


Número 1
A primeira edição estampa Gisele Bündchen na capa, “a maior pop star brasileira”, cparafraseando a revista. Isto revela que a edição nacional está preocupada em ser vista como um produto legitimamente nacional – mesmo que Gisele seja um ícone do Brasil com “Z”. A matéria de capa, de Ademir Correa, é bem escrita, mas não consegue fugir do lugar comum que são as entrevistas com a supermodelo.

Se destacam mesmo as matérias de menos destaque, como a entrevista com “Anel”, advogado do PCC; a reportagem que traça o perfil de Mariana Ximenes (na minha opinião, a atriz mais talentosa da nova geração); um panorama a produção cultural do Acre e a entrevista com o ator Jack Nicholson. Também se destacam as ótimas análises sobre os principais lançamentos no mundo da música, cinema e literatura. O legal é que apesar de ser um veículo extremamente comercial, a revista consegue dar grande espaço para produções independentes (indies).

Outro ponto forte, principalmente para quem gosta de quantidade, é o próprio tamanho da revista (138 páginas de 36x30 cm). Diagramada em quatro colunas por página e utilizando fonte Times New Roman tamanho 10, a revista é um verdadeiro oceano de informação. Se uma revista como a SET, com 82 páginas, pode ser “devorada” facilmente em apenas uma tarde, a Rolling Stone exigirá pelo menos o triplo de tempo para ser “absorvida”.

Em suma, uma ótima pedida para quem quer se manter antenado no mundo da música e cultura pop em geral. Espero apenas que a revista corrija alguns deslizes para sua próxima edição. Se a revista quer realmente ter uma imagem de produto feito no Brasil deve corrigir detalhes como o excesso de expressões estrangeiras. Se o motivo era tentar ser mais "cool", posso dizer que não ficou, de fato, "legal".

Mas a Internet é uma inimiga?
Este aumento de publicações que percebo nas andanças por bancas de revistas me deixa, no mínimo, curioso. Vivemos na era da Internet, a enciclopédia-mor da linguagem pop, e tenho certeza de que o grande público visado por estas publicações já está inserido neste contexto virtual. Então por que as pessoas passaram a procurar mais informações sobre algo que elas poderiam encontrar na rede facilmente?

É certo que a maioria destas novas publicações mal chegam a um ano de vida, fruto do mau planejamento que assola todos os campos de negócios em nosso país. Mas para cada uma que desaparece, outras duas dão as caras.

Isto deve provar definitivamente que a Internet e sua linguagem de hiperlinks são um estímulo para pessoas procurarem cada vez mais informação sobre o que lhes interessa. A rede pode até ser inimiga de algumas publicações, mas usada corretamente, se configura em uma grande isca para leitores em potencial.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Política

Cine Trash


Collor, uma das estrelas da "Volta das assombrações, parte 666"

Não existe melhor analogia para descrever o ciclo do poder no Congresso Nacional do que aquela que o compara a um tenebroso filme de terror, daqueles extremamente mal produzidos, os famosos filmes “B”. Ao observar o retorno ao poder de gente como Jader Barbalho, Fernando Collor, Paulo Maluf e José Sarney - novamente eleito pelo estado do, pasmem, Amapá (!?) - fica impossível não se lembrar de Jason Worthes, protagonista da franquia Sexta-feira 13, sujeito bizarro, que julgamos estar morto e enterrado ao final de cada história, mas assim como os maus políticos, sempre dá um jeitinho de voltar para nos assombrar uma vez mais.

O que acontece na cabeça do eleitor brasileiro? Será que merecemos os governantes que temos?

Levanto duas hipóteses para tentar explicar o fenômeno que costuma se repetir no Brasil à cada quatro anos. A primeira diz respeito à qualidade da informação que o eleitorado tem acesso. Fica evidente que nem todas as pessoas tem a real dimensão do que os "mensaleiros" e "sanguessugas" representam para o país e, por conseqüência, para cada cidadão. A outra hipótese diz respeito a desigualdade social existente no Brasil, que deixam milhões de eleitores reféns do coronelismo político adotado por algumas destas “assombrações” eleitorais.

Aparentemente, a única forma de reverter este quadro é investir na educação da população, e aqui não me refiro apenas as camadas mais carentes da sociedade. Boa parte das classes mais favorecidas são coniventes com este tipo de políticos. As pessoas precisam entender que uma boa gestão traz benefícios para toda a população, melhorias equivalente àquelas prometidas por alguns candidatos a pequenos grupos de pessoas (o curral eleitoral), que geralmente não são cumpridas. Para isso, nada melhor do que uma sociedade bem preparada, qcapaz de exigir dos governantes e da imprensa informação de qualidade para avaliar quem deve ou não receber seu voto de confiança.

Felizmente alguns cidadãos já fizeram o dever de casa e tomaram consciência de sua importância na processo democrático, deixando de fora do poder algumas figurinhas carimbadas, que nunca mereceram por os pés no Congresso Nacional. Uma salva de palmas para os eleitores que legitimamente “cassaram” os mandatos de gente como Ney Suassuna, Severino Cavalcante, a "dançarina" Ângela Guadagnin, os protegidos de ACM e 45 dos 50 sanguessugas que assolaram o país durante o último mandato.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Atualidades

Na hora de contratar


O reality show de Roberto Justus levanta a questão: estariam os empresários realmente preparados para contratar os melhores profissionais?

O programa O Aprendiz 3 da Rede Record entrou em sua reta final. Agora resta apenas uma prova para Roberto Justus decidir quem deve ficar com o emprego na Wunderman, agência de marketing sediada em Nova York. O grande prêmio dá direito a um salário de 500 mil reais por ano e condena o adversário a ouvir o famoso bordão do apresentador.

Os finalistas são o advogado radicado nos EUA, Anselmo Martini, e a empresária de branding de moda, Márcia Beatriz de Queiroz. Para chegar até aqui eles tiveram que passar por uma bateria de seleção com mais de 10 mil candidatos inscritos, além de 14 provas, onde cada um dos demais concorrentes foram eliminados. Apesar destes números e retrospectos, a sensação para quem acompanhou o programa desde o início é de que nenhum dos finalistas seja o candidato mais indicado para o cargo.

Anselmo já mostrou em algumas ocasiões que pode agir como um verdadeiro poço de criatividade, porém, totalmente desprovido de bom senso, como aconteceu no já lendário episódio do touro mecânico. Já Beatriz irritou à todos com seus chiliques gerados pelas dificuldades em trabalhar em grupo e, apesar de se mostrar uma pessoa inteligente e preparada, fica nítida a percepção de que ela está na final muito mais por questões de audiência do que competência (lembrem-se, estamos falando de um programa de TV).
Apesar de nenhum dos demais participantes ter exibido um desempenho irretocável durante o programa, um deles parecia apresentar um rendimento superior ao de seus concorrentes: a consultora de planejamento Karine Bidart. Sempre apontada como a mais inteligente entre os candidatos, Karine mostrou-se uma pessoa de grande criatividade e determinação. Perdeu porque não conseguiu se destacar na entrevista de emprego realizada com empresários convidados por Justus.

E é aí que devemos fazer o seguinte questionamento: as empresas estão realmente preparadas para escolher os melhores candidatos a uma vaga de trabalho? A opinião unânime dos convidados de Justus, que aconselharam a demissão de Karine, foi prontamente refutada pela dos conselheiros Walter Longo e Edílson Rodrigues Jr. Ambos acompanharam os candidatos desde o começo, conheciam os prós e contras de cada um e, por conseqüência, sabiam do potencial de Karine. Porém, os convidados deixaram Justus em uma situação delicada: se não demitisse Karine ele iria desmoralizar a opinião de empresários renomados, tornando àquela prova uma mera formalidade.

Observando a situação de Karine fica fácil imaginar que muitas vezes um profissional mais preparado foi preterido neste tipo de entrevistas, estas, muitas vezes, recheadas de questões pouco pertinentes. O próprio caso de Karine é emblemático: o maior “defeito” da candidata apontado pelos empresários foi a grande disparidade entre as carreiras que ela já havia trilhado. Chegou-se a um “consenso” de que, devido a sua grande inteligência e criatividade, Karine rapidamente se entediava com o que fazia, indo procurar novos desafios em outra atividade.

Tal leitura é extremamente subjetiva. Poderíamos atribuir estas mudanças de carreira ao fato de que Karine jamais encontrava uma atividade que pudesse dar vazão a sua criatividade, algo que a comunicação poderia lhe propiciar. O problema é que um comunicador demora muito para ter o talento reconhecido e estabelecer-se na carreira, algo capaz de afugentar pessoas inteligentes que querem obter retorno material mais rapidamente. Talvez esta pressa para alcançar a tranqüilidade financeira se configure em um empecilho para contratar jovem comunicador em busca de um estágio ou de um primeiro emprego, mas nunca para alguém que luta por um cargo de meio milhão de reais ao ano.

Em meu antigo blog (http://luisfelipesilva.zip.net) já havia comentado o quanto era falho o processo de seleção de concursos públicos e vestibulares, que priorizam o conhecimento estático em detrimento da real capacidade dos candidatos. Depois de observar as falhas de processos de entrevista realizados por algumas empresas, fica claro que os dois meios de avaliação se apresentam incapazes de selecionar os candidatos mais preparados. Fica aqui a dica para que empresas, universidades e órgão públicos olhem com mais carinho para o método da avaliação proposto por Paulo Freire, onde os alunos são avaliados de forma contínua durante determinado período de tempo.

Este formato pode ser transposto para o universo empresarial na forma dos tradicionais portfólios. É claro que tal postura se configura como uma grande ruptura, e talvez nem todas as empresas estejam preparadas ou seguras para adotar tal modelo, mas se elas ainda não confiam plenamente nesta metodologia, não seria difícil ao menos combiná-la ao seu atual processo de seleção. Afinal de contas, muito se cobra dos profissionais para que eles tenham o perfil adequado para determinado cargo. O mínimo que as empresas devem fazer é criar mecanismos que possam detectar estes perfis com maior precisão.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Expocom

É campeão!!!


O vídeo-documentário Prata da Casa conquistou o 1° LUGAR na 13° Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom), categoria Cinema e Vídeo Científico, em solenidade ocorrida em Brasília, na noite de 08 de setembro, durante a XXIX Intercom. A Expocom é a maior exposição de trabalhos produzidos por estudantes de Comunicação Social em todo o Brasil. A mostra seleciona e reúne apenas os melhores projetos realizados em todo o país.

O filme mostra o cotidiano dos produtores artesanais de queijo na cidade de Pratinha. O dia-a-dia de uma gente que luta por melhores condições de vida e pelo resgate da cidadania. O Projeto Pratinha, como foi batizado, tem a presença da Uniube, através da participação de professores e alunos dos cursos de Medicina Veterinária e Nutrição e é coordenado pela Professora Ana Cláudia Chesca.

Prata da Casa se tornou uma parte de minha vida meio que por acaso, como quase tudo que acaba marcado na vida da gente. Foi um daqueles raros casos em que a notícia veio atrás do jornalista, quando Ana Cláudia Chesca, professora do curso de nutrição, sugeriu que o curso de jornalismo fizesse uma pequena matéria sobre um interessante projeto que ela desenvolvia com os produtores de queijo da cidade de Pratinha. No início, não apostava muitas fichas nesta história de queijo produzido em uma cidadezinha com quatro mil habitantes, mas foi necessário apenas uma visita para que me apaixonasse por aquela história toda, colocando todo meu empenho para fazer o melhor filme que pudesse. Pratinha estará guardada para sempre em um lugar privilegiado de minha memória, assim como os amigos que fiz por lá”.

Luis Felipe Silva


Além de Prata da Casa, outros trabalhos realizado por alunos da Universidade de Uberaba
conquistaram prêmios na Expocom, uma prova da qualidade do ensino da instituição.

domingo, setembro 03, 2006

Humor

Política X Futebol

Hoje resolvi fugir um pouco do cotidiano para publicar uma charge minha. Não sou um grande desenhista, mas achei que tinha uma boa idéia... Espero que gostem!!!

terça-feira, agosto 29, 2006

Cinema

Sem anjos da guarda


Meninas como escravas sexuais: triste realidade em nosso país

Quando filmes como Anjos do Sol chegam aos cinemas não faltam críticos puritanos para afirmar que o cinema brasileiro é uma porcaria, já que nossos filmes “só mostram o que o Brasil tem de pior”. Foi assim com Cidade de Deus, Central do Brasil, Carandiru e tantos outros. Nada mais injusto, afinal, todos estes filmes retratam muito bem tristes facetas de nosso país, que não devem ser esquecidas, e portanto, não podem ser escondidas.

Anjos do Sol aborda a terrível realidade de milhares de garotas brasileiras: a prostituição infantil e a exploração sexual. O drama vivido por Maria (vivida pela pequena Fernanda Carvaho) e suas “colegas de trabalho” foi inspirado em diversas matérias de jornais de todo o Brasil, o que confere à trama uma verossimilhança perturbadora, afinal estamos falando de crianças que são tratadas como mercadorias, valendo pouco mais que nada e sem nenhuma perspectiva de melhorar de vida. Sem dúvida um roteiro triste, que não exultará o patriotismo ou tampouco tornará os brasileiros mais otimistas em relação ao futuro do país, e mesmo assim o filme se revela uma das melhores produções do novo levante do cinema nacional.

A história começa quando os pais de Maria decidem vendê-la por alguns míseros trocados e a promessa de que ela seria recebida como doméstica na casa de uma boa família, que teria condições de dar uma vida melhor à menina. Inocentes, os pais de Maria nem poderiam imaginar que a filha estava sendo levada para Nazaré (Vera Holtz), uma cafetã que vê na pouca idade de Maria um atrativo a mais para elevar seu preço de venda. A partir daí a menina se transforma em uma mercadoria, de pouco valor, passada de mão em mão até chegar ao bordel comandado pelo impiedoso Saraiva (Antônio Calloni), onde se torna uma escrava sexual, submetida aos mais cruéis castigos pelo cafetão, sem praticamente nenhuma chance de fuga.

O tom cruel da narrativa adotada pelo diretor Rudi Langemann, um estreante no ofício, faz com que assistir à Anjos no Sol seja como levar um golpe no estômago. Nos sentimos impotentes ao testemunharmos o sofrimento ao qual Maria é submetida, conscientes de que cenas como àquelas devem se repetir diariamente pelo nosso país. A excelente fotografia, que exalta ainda mais a tristeza de toda esta realidade, somada aos ótimos diálogos, enxutos e extremamente realistas, nos traz a terrível percepção de que tudo aquilo que estamos vendo é verdadeiro demais, nos enojando, o que explica facilmente porque filmes como este sejam tão mal compreendidos.

Desta forma, o grande mérito do filme é nos expor a este terrível cenário, nos obrigando a discutir soluções para o mesmo, por mais que elas pareçam difíceis ou inexistentes. O próprio filme teve conhecimento desta dificuldade, e o final da história não pode deixar ninguém esperançoso.

Mas se a história contada pela produção não é capaz de despertar o orgulho dos brasileiros o mesmo não acontece quando analisamos as fantásticas interpretações do elenco, em especial de Antônio Calloni como o cruel Saraiva, naquela que é, provavelmente, a melhor interpretação de sua carreira. Sua ótica distorcida de toda a situação, capaz de convencer a todos em sua volta de que ele é na verdade um empresário comum, ou até mesmo um benfeitor para as meninas, mostra como será difícil reverter este quadro fora das telas. Aqui percebemos que seu talento é muito maior do que o que o visto na televisão. Vê-lo em cena é capaz de evocar nosso patriotismo, mesmo interpretando o que existe de pior em nosso país...

domingo, agosto 13, 2006

Expocom

Prata da Casa na Expocom!!!


Documentário sobre produção de queijo é destaque nacional!

O vídeo-documentário Prata da Casa foi indicado para participar da 13° Expocom, na categoria Cinema e Vídeo – Modalidade Científico. Promovida pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), a Expocom é uma mostra que seleciona e reúne os melhores trabalhos de estudantes de graduação em todas as escolas de Comunicação do país.

A Expocom é a maior exposição de trabalhos produzidos por estudantes de Comunicação Social em todo o Brasil. Apenas quatro trabalhos são indicados em cada modalidade. Concorrendo contra Prata da Casa estão os vídeos Ceará Selvagem, produzido pela Universidade de Fortaleza; Peixes de Bonito, da Uniderp e Tubo de Ensaios, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. São representantes extremamente distintos entre si, o que mostra a diversidade cultural na produção intelectual de nosso país. A premiação acontecerá no dia oito de setembro, na Universidade de Brasília, durante a XXIX Intercom.

Prata da Casa é um vídeo documentário de aproximadamente 30 minutos de duração, que mostra o cotidiano do município de Pratinha - MG, usando a tradicional produção de queijo da cidade como fio condutor de sua narrativa. O documentário foi produzido como projeto de conclusão de curso de jornalismo pelo aluno Luis Felipe Silva em parceria com Guilherme de Oliveira Marinho, sendo coordenado pela professora Celi Camargo da Universidade de Uberaba (Uniube).

O documentário acompanha as dificuldades que os produtores enfrentam para comercializar seu produto tradicional, que enfrenta uma grave crise. O vídeo também registra os esforços para qualificar o queijo da cidade através do projeto Identidade e Qualidade do Queijo Minas Artesanal Pratinha, desenvolvido pela Uniube em parceria com a Emater - MG.Por não possuir uma identidade própria o queijo da região acaba sendo comercializado como se pertencesse a outras localidades, impossibilitando assim a consolidação de uma marca forte, capaz de atrair novos mercados.

Além de Prata da Casa, outros três trabalhos produzidos pela Universidade de Uberaba estarão presentes na Expocom em outras categorias. Isso demonstra a qualidade do trabalho desenvolvido pelo Curso de Comunicação da instituição, que consolida seu nome como um dos melhores do país.


Confira a relação completa de trabalho indicados para a 13° Expocom:
http://www.intercom.org.br/congresso/2006/trabalhosaprovadosexpocom.shtml

sexta-feira, agosto 11, 2006

Cinema

2006 - O ano que não acabou!!

Metade de agosto e a grande maioria dos blockbusters americanos já estrearam pelas terras tupiniquins causando um alvoroço nas férias. Mas quem gosta de cinema sabe que o ano ainda está muito longe de acabar... Anotem aí alguns dos filmes mais promissores (alguns ainda não tem data de estréia no Brasil, ou mesmo título em português) pois 2006 ainda é uma criança!!


A scanner darkly: com visual inovador é candidato a "cult" do ano

A scanner darkly – 25 de agosto
Dirigido por Richard Linklater, este filme tem tudo para se transformar na produção “cult” do ano, graças a revolucionária técnica de “cell shading” que permeia todo o longa, uma renderização que deixa o filme e os atores com aspecto de animação. Parece que Keanu Reeves acertou de novo...

A dama da água – 01 de setembro
Um filme de Shaymalan sempre merece bastante atenção. O diretor é dono de um senso estético refinado e suas tramas carregadas de suspense quase sempre reservam boas surpresas ao espectador. O melhor de tudo é que nesta empreitada Shayamalan contará com atores do calibre de Paul Giamatti e Bryce Dallas Howard.

Volver – 10 de novembro
O que dizer de Pedro Almodóvar? Quem quiser achar novos elogios para o diretor certamente terá que recorrer ao dicionário. Em Volver ele parece estar em casa, de volta as histórias sobre mulheres, com direito as cores vivas que marcam seu estilo inconfundível. O filme rendeu ao cineasta a Palma de Ouro de melhor diretor no Festival de Cannes deste ano. Alguém duvida que vem obra prima por aí?

O balconista 2
Meu amigo Renato Pena (dono de um excelente blog: http://renatopena.blog.uol.com.br/) sempre me perguntou o que eu via em Kevin Smith. O problema é que ele não assistiu ao primeiro O balconista, e por isso não sabe que Smith é capaz de nos brindar com diálogos maravilhosos sobre o cotidiano, no maior estilo Tarantino, e sem precisar de gangsters para soar convincente (ou não...). Após algumas derrapadas parece que Smith voltou ao que sabe fazer de melhor: um “neo-realismo nerd”. A ovação gigantesca em Cannes só pode ser um bom sinal...

The Fountain
Certamente o que aguardo com mais ansiedade. É Darren Aronofsky pô!! O cara é um gênio e estava afastado das telas a seis anos. O motivo: The Fountain, uma produção tão ambiciosa (e por que não dizer maluca?), que nenhum estúdio estava disposto a bancar. Hugh Jackman e a oscarizada Rachel Weiz estrelam a história que transcende os limites do tempo.

Scoop
Woody Allen + Scarlett Johansson + Londres = Um novo Ponto Final? Não exatamente. Scoop é o retorno de Allen as comédias, acompanhado de sua nova musa. A combinação, que tem Hugh Jackman a tiracolo, tem tudo para repetir o sucesso da primeira empreitada, consolidando de vez o retorno triunfal de Allen.

Apocalypto
Mel Gibson só pode ter pirado: não bastasse ter se arriscado tanto em A paixão de Cristo, agora ele resolve fazer um filme trilhões de vezes mais arriscado? É galera, o bom Mel não só filmou um filme todo falado em Yucateco, antigo dialeto maia, como dispensou todas as estrelas para conseguir dar veracidade a uma história de vingança em plena América pré-colonização. Tudo em nome da arte, quem diria!

Renaissance
Este é nos moldes de A scanner darkly, só que aqui o visual de desenho animado adota o preto e branco, o que lhe confere um charme todo especial. Os produtores prometem uma revulução à Matrix (quantas vezes ouvi isto...), mas depois de ver o trailer acho difícil ser ma furada, ainda mais com Daniel Craig na parada...

The Prestige
Hugh Jackman de novo!? E como par romântico de Scarlett Johansson outra vez!? Putz! Quem é o agente deste cara? Desta vez o “Wolverine” está no centro de uma disputa com Christian Bale pelo posto de maior mágico de sua época. Disputa esta que não promete ser muito amigável, e tudo sob o comando de Christopher Nolan, disparado um dos melhores diretores da atualidade.

O ilusionista
Outro filme sobre mágica, mas desta vez com Edward Norton no papel principal. E como sua presença já é quase uma garantia de um bom filme, o diretor Neil Burger não deve decepcionar em sua estréia atrás das câmeras. E se a presença de Norton não é suficiente para convencer meus leitores, adicione Paul Giamatti (sempre ótimo) e Jessica Biel (sempre linda) a mistura toda. E aí, está convencido? Não? E se eu disser que os produtores envolvidos aqui são os mesmos de Sideways e Crash? Não, ainda não tem data de estréia...

Oh in Ohio
As dificuldades da vida sexual de um casal a beira da meia idade tem sido descritas como hilárias pela mídia americana. Dirigido por Billy Kent e com um elenco de primeira (Parker Posey, Paul Rudd e Danny DeVitto) este filme tem cara de ser uma das raras comédias românticas realmente inteligentes deste ano. Vamos torcer!

Babel
Em um mundo cheio de desentendimentos, como se fazer entender em um lugar onde sua língua não é compreendida? Esta é a premissa de Babel, novo longa de Alejandro Gonzales Iñárritu, outro que figura facilmente em qualquer lista de melhores cineastas da atualidade. A empreitada, que tem a presença de Brad Pitt, era a grande favorita para vencer Cannes. Dizem que não ganhou por muito, muito pouco...

Maria Antonieta – 12 de janeiro (2007)
Tudo bem, este só estréia no Brasil no ano que vem, mas é Sofia Copolla galera. Estou torcendo para que esta fita apareça aqui no Festival de Brasília, afinal, Sofia ousou mais uma vez: contou a história sobre uma perspectiva um tanto “favorável” a Maria Antonieta (vivida pela talentosa Kirsten Dunst). Os franceses não gostaram nem um pouco disto, e trataram de vaiar o filme em Cannes. Já os críticos internacionais preferiram aplaudi-lo em resenhas pra lá de favoráveis.

quarta-feira, julho 26, 2006

Cinema

A lado bom da pirataria


Sejamos francos: não é muito melhor que O Senhor dos Anéis?

Quem nunca gostou de uma boa história sobre piratas? Sejam lendas sobre figuras que assombravam os sete mares, aos moldes do famoso Barba Negra; ou em contos mais singelos, como a história de Peter Pan e seu indefectível Capitão Gancho, o fato é que quase sempre piratas dão personagens carismáticos e, quase como conseqüência, histórias divertidas.

Hollywood parecia ter esquecido disto, e desde o fracasso de Ilha da Garganta Cortada o gênero de piratas estava jogado ao limbo, parecendo estar fadado ao esquecimento. O mesmo destino parecia ser partilhado pelas aventuras promovidas pelos estúdios Disney (responsáveis pelo já citado Ilha da Garganta Cortada), que não conseguiam emplacar mais nenhum blockbuster de verão, o que gerava incertezas sobre as incursões do estúdio nestes mares.

Quando a Disney anunciou a produção de Piratas do Caribe: A maldição do Pérola Negra para o ano de 2003, em parceria com o produtor Jerry Bruckeheimer (outro que não acertava uma em muito tempo) a sensação era de que esta era uma produção fadada a naufragar. Apesar de toda esta desconfiança e do iminente risco de um fracasso, a produção zarpou levando consigo tripulantes do porte de Johnny Deep e Geoffrey Rush, além das ascendentes estrelas de Keira Knightley e Orlando Bloon, trupe esta capitaneada pelo diretor Gore Verbiski. Sem muito alarde o filme apareceu nas salas de cinema e obteve um êxito maior do que o esperado pelo mais otimista analista. Foram seiscentos milhões de dólares de bilheteria, uma cifra que revelava aos executivos da Disney um novo mapa do tesouro a ser explorado.

Como de praxe em Hollywood, uma continuação passou a ser preparada, aliás não uma, mas duas, filmadas de modo simultâneo, tendência que vem ganhando força por reduzir os custos de produção. A tripulação foi novamente reunida, e Piratas do Caribe: O baú da morte chegou as salas de cinema com toda a pompa merecida, mas novamente obtendo um sucesso maior que o esperado, quebrando todos os recorde de bilheteria imagináveis.

Qual o segredo deste sucesso? Verbiski é certamente um diretor talentoso, mas nada fora do comum, sendo que em nenhum momento ele abandona a cartilha das superproduções. Elizabeth (Knightley) e Will Turner (Orlando Bloon) formam um belo par romântico e apesar de terem ganho mais personalidade no segundo filme, ainda lembram bastante os protagonistas de diversos fracassos do gênero. Não! Se existe um responsável por todo este sucesso ele atende por Jack Sparrow, o tresloucado capitão vivido com maestria por Johnny Deep.

Sparrow não é um personagem muito usual em superproduções de verão. Espalhafatoso, egoísta, fanfarrão e interesseiro, o personagem de Deep seria um pesadelo para qualquer pai se fosse amigo de seus filhos, mas se encaixa perfeitamente no universo pirata, criando um tipo único, que assim como os outros personagens citados no início do texto, serve como pilar de sustentação para as histórias, roubando a cena cada vez que aparece e nos surpreendendo com seu comportamento imprevisível.


O trama de Baú da Morte segue a fórmula de seu antecessor: Elizabeth e Will tem seu casamento interrompido e acabam presos. Para se livrarem da prisão eles são obrigados ir ao encalço de Sparrow para trazer sua bússola mágica. Mas como sempre Sparrow esta metido em confusão e depende da bússola para achar um baú que guarda sua única salvação para uma trato feito com o monstruoso pirata-polvo Davy Jones. Os herói mais uma vez se reúnem, mas isso não significa que não existam divergências sobre o rumo das ações que eles devem tomar. Tudo muito parecido com o primeiro filme, sendo que a única mudança significativa está na personagem de Knightley, que deixa de ser a donzela em perigo para participar da ação, chegando até mesmo a se deixar levar pelo charme do capitão Sparrow.

O final da história só conheceremos em Piratas do Caribe: The World´s End (ainda sem título oficial em português), mas não devemos esperar grandes reviravoltas. Com um tesouro tão grande nas mãos já não é difícil imaginar que a Disney descida levar a trilogia adiante, muito além dos limites dos mares conhecidos...

quinta-feira, julho 20, 2006

Cultura

Gênio Indomável



Deve ser estranho para um autor que durante anos lutou contra a síndrome do pânico ganhar as páginas de jornais e as telas de cinema, tornando-se um dos maiores queridinhos da cena cultural “underground” do país. Mas em se tratando de Lourenço Mutarelli, um dos mais criativos escritores de nossa geração, que começou nos quadrinhos mas já espande suas atividades pelas mais diversas mídias, como literatura, animação e o já citado cinema.

Definir um gênero para o trabalho de Mutarelli não é tarefa fácil. O mais honesto seria considerá-lo uma espécie de escritor autobiográfico. Seus personagens são geralmente tipos depressivos, pessoas engolidas pelo caos da vida urbana moderna com os mais diversos tipos de dificuldade para se relacionar com o mundo ao seu redor, ou seja, claramente inspirados nas dificuldades que o próprio Lourenço enfrentou.

Mas ao invés de se entregar ao drama e a tristeza, Mutarelli preferiu lançar um olhar clínico sobre os relacionamentos que ele temia, criticando a superficialidade da sociedade atual, sempre munido de um humor negro peculiar. Logo uma legião de admiradores se formou e, a medida que o número de fãs crescia, a crítica teve que se render a genialidade do escritor.

Alguns mais exaltados chegaram a comparar Lourenço com Machado de Assis, por sua perfeita reconstituição do cotidiano. Talvez seja um exagero, mas o fato é que Lourenço já ganhou a admiração de outros artistas, que se dizem influenciados pela capacidade narrativa do autor, capaz de transformar a linguagem escrita em uma narrativa visual muito próxima àquela dos quadrinhos, seu berço criativo, um estilo próprio (o paralelo mais próximo que consigo fazer é com José Saramago, o que evidencia as qualidades do autor.)

Um destes entusiastas é o diretor Heitor Dhalia, responsável por ingressar Lourenço no universo do cinema com as animações presentes no surreal Nina. Durante a divulgação do longa Lourenço conheceu o ator global Selton Mello (um dos mais talentosos do país), e lhe presenteou com uma cópia de seu livro O cheiro do ralo. Após a leitura Selton já engrossava as fileiras do fã clube de Mutarelli, a tal ponto que não só aceitou ajudar a bancar a adaptação de O cheiro do ralo para os cinemas, sob o comando de Heitor Dhalia, como nem sequer cobrou cachê pela atuação.

A dupla conseguiu até mesmo convencer Lourenço a atuar no longa. Resta saber se ele obterá sucesso também nesta empreitada, mas conhecendo o talento e versatilidade de Mutarelli, não estranharei ele se tornar uma estrela do cinema nacional, com o rosto estampado pelos cartazes mundo afora.


Selton Mello em adaptação de O cheiro do ralo

sábado, julho 15, 2006

Cinema

Retorno triunfal


O homem pode voar!!

“Por que o mundo precisa do Superman?”. A pergunta é o tema central de Superman: o Retorno, filme que marca a volta do maior de todos os super-heróis as salas de projeção após um hiato de 19 anos. No filme, a questão é levantada em uma matéria escrita pela repórter Lois Lane (Kate Bosworth), após o homem de aço ter mais uma vez salvo o mundo de sua destruição iminente. O problema é que tudo isto acontece durante o retorno do herói a Terra, depois de uma ausência de cinco anos, período em que a sociedade se viu obrigada a caminhar sem a proteção de seu salvador.

Este sumiço obrigou a própria Lois Lane a seguir em frente sem seu amado protetor. Agora ela constituiu família e se tornou mãe e está prestes a ser premiada com o Pulitzer (o Oscar do jornalismo) por um artigo onde ela explica porque o mundo não precisa mais do Superman. Tantas mudanças pegaram o herói de surpresa, e configuram no maior desafio que ele poderia enfrentar: capaz de lhe dar facilmente com qualquer tipo de ameaça, o Superman não sabe o que fazer para recuperar o amor de Lois, algo que está além do controle de suas extraordinárias habilidades.

Superman: O retorno é portanto muito mais um romance do que um filme de ação propriamente dito. É claro que as seqüências de ação estão lá, repletas de efeitos especiais de primeiríssima qualidade, capazes de nos fazer crer que o homem realmente pode voar. A maioria destes momentos de aventura são ocasionados pelos confrontos com o arquiinimigo Lex Luthor (Kevin Spacey, dono dos melhores momentos do filme), que acaba de bolar mais um plano para se tornar o “senhor do mundo”. Mas tirando um ou outro problema relacionado à Kryptonita, estas ameaças não chegam aos pés das dificuldades encontradas na conturbada relação amorosa com Lois, o que transforma o herói com características divinas em um ser mais humanizado.


O que nos leva a relação entre Lois e Clark. No filme fica bem claro que os dois são apenas amigos, e que uma mulher como Lois jamais irá nutrir qualquer tipo de sentimento diferente por um tipo tão atrapalhado quanto Kent. Ela ama o Superman, algo capaz de tentar o herói a revelar o segredo escondido pelos óculos e trejeitos de seu alter-ego. Aliás, ponto para Brandon Routh pela interpretação de Kent, que mesmo sem ser tão brilhante quanto a de Christopher Reeve nos longas originais, consegue convencer de que aquele cara tão atrapalhado não pode mesmo ser o maior super-herói da Terra.

Mas voltemos a pergunta suscitada por Lois: “Por que o mundo precisa do Superman?”. A questão caiu no gosto dos críticos, que não sabem porque resolveram fazer outro filme de um herói tão deslocado do atual contexto da sociedade, principalmente quando ele é obrigado a competir com tipos modernos e problemáticos como Wolverine e Batman. Não faltaria um "algo mais" ao Superman? A questão não passou despercebida pelo diretor Bryan Singer, que responde a charada durante um belo diálogo em pleno céu entre Superman e Lois, onde o herói dispara:

- Você disse que o mundo não precisa de um salvador. Mas aqui de cima posso escutar a todo momento diversas pessoas implorando para serem salvas.

E aí reside o fascínio no Superman, um herói altruísta comprometido com os valores de um sociedade justa e honesta, que já transcendeu o modelo americano, sendo amado como um símbolo todo o mundo. Tudo bem que vivemos tempos sombrios, mas me impressiono ao constatar que geralmente as mesmas pessoas que dizem não conseguir entender o fascínio em torno de um herói tão “certinho” são aquelas que lamentam a perda de valores que a sociedade vem enfrentando. Todos nós gostaríamos que o mundo tivesse realmente um salvador. Quando somos crianças sonhamos em ter os poderes dos super-heróis para enfrentar as adversidades, mas, com o tempo, crescemos e descobrimos que este sonho não se tornará realidade. Desiludidos, passamos a desdenhar este ideal para nos preocuparmos com coisas “mais importantes”.

O plano de Luthor (que não vou revelar para não estragar surpresas), de fato, parece extremamente ingênuo quando nos deparamos com as últimas notícias oriundas do Congresso. Aí reside o ponto fraco do filme, já que o grande mérito seria um embate entre este “mundo sombrio” no qual vivemos, representado por Luthor, confrontando o mundo ideal, representado pelo Superman. Com tantos vilões presentes em nosso dia-a-dia até podemos crer no modelo de herói que o Superman representa, mas o mesmo não ocorre com o vilão que Luthor é.

Mesmo assim o saldo final é extremamente positivo, pois o filme cumpre perfeitamente o seu propósito: é uma bela história de retorno, onde somos reapresentados a um universo que já conhecemos, um clima nostálgico na melhor acepção da palavra. As arestas estão amarradas para seqüências, e estas sim, devem trazer um novo tempero para as histórias do azulão.

terça-feira, julho 04, 2006

Crônica

Areias do tempo


Quem poderia imaginar que a selação seria esta bomba?

O tempo é o senhor da razão, já diz a sabedoria popular, com propriedade raramente igualada. Poucos dias antes do início da Copa do Mundo postei uma crônica em que defendia a Seleção Brasileira contra as especulações da imprensa e da população a respeito de uma eventual derrota. Achava que a teoria de que o Brasil perderia por jogar de “salto-alto” não fazia mais sentido após as Copas de 1966 e 1982, pois Parreira teria competência para fazer com que isto não acontecesse. Ledo engano.

Apesar do poder persuasivo do tempo, ainda mantenho algumas opiniões que partilhei com os leitores naquele texto: continuo achando que o Brasil possui os melhores jogadores do mundo e também reconheço que Parreira possui, sem nenhuma dúvida, um currículo vitorioso. Mas admito que estava errado quando disse que o clima de favoritismo não atrapalharia o Brasil.

Acho inclusive que tal afirmação se encaixa muito melhor para explicar a derrota desta seleção ao invés da inesquecível esquadra canarinho de 82. O excesso de confiança pode ter atrapalhado muito daquela vez, mas a seleção jogou bem, o único problema foi que a Itália jogou melhor.

Não que o Brasil tenha jogado melhor do que a França desta vez, longe disto. O fato é que o Brasil NÃO JOGOU nesta Copa do Mundo, exceção feita ao jogo contra o Japão, e provavelmente muito se deve a este excesso de confiança, que na minha opinião, afetou principalmente o técnico Carlos Alberto Parreira. Vejamos só: Parreira insistiu em uma formação que não apresentava resultados mesmo após uma sensível melhora com o esquema utilizado na partida contra o Japão. Ignorou o bom futebol apresentado na Copa das Confederações para ajudar alguns medalhões a quebrarem recordes. Não treinou o time, e não venham me dizer que o que a ESPN mostrava eram treinos!!! Aquilo eram rachões e amistosos contra um combinado de cones, que talvez tenham sido a fonte de “inspiração” (!?) para o Brasil a jogar de forma tão estática. Um treinador que já conquistou um título mundial só cometeria tamanhos erros se tivesse plena certeza da vitória.

Mas tudo bem, sabemos que nem sempre é possível vencer, não é mesmo? Porém, também aprendemos que a pior derrota acontece quando não tentamos vencer. Por mais que esta frase soe como aconselhamentos baratos de auto-ajuda, é algo que pode ajudar bastante a nova geração que estará presente na próxima Copa. E fica a dica para gente como Cafu, Roberto Carlos e Parreira: tirem férias!!! Esta indignação que vocês apresentam a serem justamente criticados só faz com que as pessoas tenham mais raiva de vocês. Afinal, a sabedoria popular também já dizia que não adianta tentar justificar o injustificável...
Caricatura: Baptistão Retirada de seu Blog: http://baptistao.zip.net/

Recomeço!


Novos Horizontes!!


Pois é galera!! Depois de um período postando no endereço http://luisfelipesilva.zip.net, tive que fazer as malas e vim parar aqui, no Blogger!!! Espero que este espaço seja ainda mais produtivo do que o último, e lamento não poder postar tudo o que foi publicado antes aqui, mas de antemão prometo que algumas coisas virão para cá!!! Espero que os comentários aumentem, pois só com o feedback dos leitores poderei repensar com precisão as coisas que escrevo!!! Abraço a todos e sejam bem vindos a esta nova fase!!!