terça-feira, outubro 31, 2006

Cinema

Sem desculpa pra ficar em casa


Fonte da vida, uma das atrações do Festival Internacional de Brasília

Com dois grandes festivais engatilhados, novembro promete para os cinéfilos brasilienses. Logo de cara, no dia primeiro, começa o Festival Internacional de Brasília, mostra que reúne trabalhos de cineastas dos quatro cantos do globo. O final do mês fica reservado para a Mostra Nacional, com o melhor do cinema tupiniquim.

É verdade que o Festival Internacional de Brasília ainda não conta com o mesmo prestígio dos primos carioca e paulista, que concentram os principais lançamentos em suas sessões. Mesmo assim, o FIC deste ano exibe um cast de respeito, em parte pelo próprio atraso do festival, que ocorre tradicionalmente em julho, mas graças a "concorrência" da Copa do Mundo e das eleições, precisou ser adiado.

Este atraso possibilitou a inserção de produções muito aguardadas, que não poderiam estar presentes no mês habitual, ou por não estarem prontas, ou para não “furar” o Festival do Rio, que acontece em setembro. Películas de gente consagrada como Pedro Almodóvar, que aparece com Vover, e Darren Aronofsky, com Fonte da Vida, certamente irão atrair um grande público para a mostra. Totsy – Infância Roubada, documentário vencedor do Oscar, e Um bom ano, novo de Ridley Scott, são outros que devem lotar suas sessões.

Os organizadores garantem que os filmes com menor destaque na mídia não serão prejudicados pela concorrência com estes “arrasa-quarteirões” cult. Eles argumentam que as películas de grande projeção servem como iscas para o grande público, que acaba atraído pelas produções de menor divulgação, mas igual qualidade presentes no festival. Tomara que eles estejam certos!!! Aposto que filmes como Viva Zapatera! de Sabrina Guzzanni e CRAZY – Loucos de amor de Jean-Marc Vallé devem dar o que falar!!

As sessões serão no Cine Academia, as margens do Lago Paranoá, entre os dias 1° e 9 de novembro. Para conferir as salas e horários, ou ainda outros detalhes sobre o festival, visite o site oficial:
www.ficbrasilia.com.br

Em breve eu volto para falar sobre o Festival Nacional, que só acontece no final do mês, e para falar sobre o que vi nas salas de projeção da FIC.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Cultura

Como uma pedra rolando


Capas da Rolling Stone: estilo exaustivamente copiado em todo o mundo

Ávido freqüentador de bancas de revistas que sou – não passo um dia se quer sem visitar ao menos duas – observo com entusiasmo o grande aumento de publicações relativas à cultura pop nos últimos anos. Cinema, música, quadrinhos, seriados de TV e derivados nunca tiveram tanto espaço na mídia.

Apaixonado por todos estes temas, me vejo todo mês na ingrata tarefa de selecionar o que devo ou não levar para a casa. Com uma oferta tão vasta e pouco dinheiro na carteira, sou obrigado a folhear diversos títulos atrás daquele que apresente melhor relação custo-benefício. Algumas revistas já se tornaram praticamente obrigatórias, mas sempre pinta alguma surpresa. Neste mês de outubro ela atende pelo nome Rolling Stone.

Originária dos EUA, berço da esmagadora maioria da produção pop mundial, a Rolling Stone foi criada na década de sessenta, auge da contracultura. Nasceu para disseminar os ideais contestadores daquela geração. Seu jornalismo original, transgressor e de grande consciência política garantiram à publicação um lugar de destaque naqueles anos de revolução da arte. Os anos dourados chegaram ao fim e a revista seguiu em frente, tornando-se um verdadeiro ícone do universo que ela mesmo cobria.

Com todo este sucesso e importância na bagagem, sempre estranhei o fato da Rolling Stone não ter aportado pelas terras tupiniquins há mais tempo – não sabia que já houveram algumas experiências frustradas. Ora, uma revista que aborda todos os temas citados no início do texto e prima por reportagens aprofundadas e opinativas certamente teria seu espaço. Principalmente em um mercado repleto de publicações que parecem não fazer mais do que publicar releases das gravadoras e distribuidoras.


Capa da primeira edição


Número 1
A primeira edição estampa Gisele Bündchen na capa, “a maior pop star brasileira”, cparafraseando a revista. Isto revela que a edição nacional está preocupada em ser vista como um produto legitimamente nacional – mesmo que Gisele seja um ícone do Brasil com “Z”. A matéria de capa, de Ademir Correa, é bem escrita, mas não consegue fugir do lugar comum que são as entrevistas com a supermodelo.

Se destacam mesmo as matérias de menos destaque, como a entrevista com “Anel”, advogado do PCC; a reportagem que traça o perfil de Mariana Ximenes (na minha opinião, a atriz mais talentosa da nova geração); um panorama a produção cultural do Acre e a entrevista com o ator Jack Nicholson. Também se destacam as ótimas análises sobre os principais lançamentos no mundo da música, cinema e literatura. O legal é que apesar de ser um veículo extremamente comercial, a revista consegue dar grande espaço para produções independentes (indies).

Outro ponto forte, principalmente para quem gosta de quantidade, é o próprio tamanho da revista (138 páginas de 36x30 cm). Diagramada em quatro colunas por página e utilizando fonte Times New Roman tamanho 10, a revista é um verdadeiro oceano de informação. Se uma revista como a SET, com 82 páginas, pode ser “devorada” facilmente em apenas uma tarde, a Rolling Stone exigirá pelo menos o triplo de tempo para ser “absorvida”.

Em suma, uma ótima pedida para quem quer se manter antenado no mundo da música e cultura pop em geral. Espero apenas que a revista corrija alguns deslizes para sua próxima edição. Se a revista quer realmente ter uma imagem de produto feito no Brasil deve corrigir detalhes como o excesso de expressões estrangeiras. Se o motivo era tentar ser mais "cool", posso dizer que não ficou, de fato, "legal".

Mas a Internet é uma inimiga?
Este aumento de publicações que percebo nas andanças por bancas de revistas me deixa, no mínimo, curioso. Vivemos na era da Internet, a enciclopédia-mor da linguagem pop, e tenho certeza de que o grande público visado por estas publicações já está inserido neste contexto virtual. Então por que as pessoas passaram a procurar mais informações sobre algo que elas poderiam encontrar na rede facilmente?

É certo que a maioria destas novas publicações mal chegam a um ano de vida, fruto do mau planejamento que assola todos os campos de negócios em nosso país. Mas para cada uma que desaparece, outras duas dão as caras.

Isto deve provar definitivamente que a Internet e sua linguagem de hiperlinks são um estímulo para pessoas procurarem cada vez mais informação sobre o que lhes interessa. A rede pode até ser inimiga de algumas publicações, mas usada corretamente, se configura em uma grande isca para leitores em potencial.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Política

Cine Trash


Collor, uma das estrelas da "Volta das assombrações, parte 666"

Não existe melhor analogia para descrever o ciclo do poder no Congresso Nacional do que aquela que o compara a um tenebroso filme de terror, daqueles extremamente mal produzidos, os famosos filmes “B”. Ao observar o retorno ao poder de gente como Jader Barbalho, Fernando Collor, Paulo Maluf e José Sarney - novamente eleito pelo estado do, pasmem, Amapá (!?) - fica impossível não se lembrar de Jason Worthes, protagonista da franquia Sexta-feira 13, sujeito bizarro, que julgamos estar morto e enterrado ao final de cada história, mas assim como os maus políticos, sempre dá um jeitinho de voltar para nos assombrar uma vez mais.

O que acontece na cabeça do eleitor brasileiro? Será que merecemos os governantes que temos?

Levanto duas hipóteses para tentar explicar o fenômeno que costuma se repetir no Brasil à cada quatro anos. A primeira diz respeito à qualidade da informação que o eleitorado tem acesso. Fica evidente que nem todas as pessoas tem a real dimensão do que os "mensaleiros" e "sanguessugas" representam para o país e, por conseqüência, para cada cidadão. A outra hipótese diz respeito a desigualdade social existente no Brasil, que deixam milhões de eleitores reféns do coronelismo político adotado por algumas destas “assombrações” eleitorais.

Aparentemente, a única forma de reverter este quadro é investir na educação da população, e aqui não me refiro apenas as camadas mais carentes da sociedade. Boa parte das classes mais favorecidas são coniventes com este tipo de políticos. As pessoas precisam entender que uma boa gestão traz benefícios para toda a população, melhorias equivalente àquelas prometidas por alguns candidatos a pequenos grupos de pessoas (o curral eleitoral), que geralmente não são cumpridas. Para isso, nada melhor do que uma sociedade bem preparada, qcapaz de exigir dos governantes e da imprensa informação de qualidade para avaliar quem deve ou não receber seu voto de confiança.

Felizmente alguns cidadãos já fizeram o dever de casa e tomaram consciência de sua importância na processo democrático, deixando de fora do poder algumas figurinhas carimbadas, que nunca mereceram por os pés no Congresso Nacional. Uma salva de palmas para os eleitores que legitimamente “cassaram” os mandatos de gente como Ney Suassuna, Severino Cavalcante, a "dançarina" Ângela Guadagnin, os protegidos de ACM e 45 dos 50 sanguessugas que assolaram o país durante o último mandato.