quarta-feira, outubro 14, 2009

Cinema

A guerra por Tarantino


Tarantino e sua trupe de bastardos prontos para a glória

À época do lançamento de Kill Bill vol.1, residia em Uberaba-MG. A cidade demorou cerca de um mês para receber o filme de Tarantino, período que serviu para que eu lesse tudo o que podia a respeito do longa e do diretor. Entrevistas, perfis, críticas – oriundas de um sem número de sites, jornais e revistas – compuseram uma almágama de informação que me ajudou a formar a minha visão sobre o cineasta e sua obra. Colaboraram, também, para que eu me tornasse admirador do trabalho da figura.

O assunto Bastardos inglórios, eterna “obra em andamento” de Tarantino, vez ou outra ganhava a pauta. O alardeado roteiro vinha sendo trabalhado há mais de cinco anos, o que levou a imprensa a adotar um tom de desconfiança, tanto em relação à obra quanto a Tarantino. Este, por sua vez, tratava Bastardos como sua obra-prima, o que colaborava bastante com a idéia de que a fita ainda iria demorar, afinal, a percepção geral é a de que um artista quer sempre se superar, principalmente os relativamente jovens, como Quentin.

Desta forma, é impossível deixar de se surpreender com a velocidade com que Bastardos inglórios ganhou contornos concretos. No final de 2008, Tarantino terminou o ambicioso roteiro. Deixou claro que aquele seria seu próximo projeto. O elenco foi definido em novembro, e as filmagens vieram logo a seguir. A velocidade justificava-se pelo cronograma apertadíssimo: o filme deveria estar pronto a tempo de estrear no Festival de Cannes, em maio de 2009.

Uma decisão dessas, feita por qualquer cineasta, seria vista como sintoma de loucura e megalomania. Vinda de Tarantino, só fez crescer a fama de auto-indulgente que ele carrega. Ao carma do demorado parto de Bastardos, somava-se agora a sensação de que o filme não receberia o refinamento necessário. Veríamos um cópia inacabada? Bastardos inglórios assumiria status tão distante da propalada obra-prima de outrora?

Para Tarantino, bastam as mesas de bar como cenário de guerra

Ledo engano. Metódico tal qual os mais avaros engravatados dos grandes estúdios – embora, ainda hoje, seu nome seja sinônimo de cinema independente –, Tarantino planejou seu roteiro de forma que o trabalho de pós-produção se desse de maneira relativamente fácil. Excluindo-se uma ou outra seqüência redundante – como a de Hitler revelando algo sobre o que todos já tinham tomado conhecimento na cena anterior –, Bastardos inglórios firma-se, inclusive, como a produção mais bem acabada do diretor – o que, porém, não significa que ela seja a melhor.

Embora se passe em plena segunda-guerra mundial, Bastardos foge do padrão usual do gênero. A produção é caprichada, mas não investe em grandes batalhas ou cenas de ação. Tarantino preserva seu viés intimista, construindo a maioria das seqüências em torno de ótimos diálogos ao pé das mesas.

Como não poderia deixar de ser em um longa assinado pelo cineasta, a narrativa de Bastardos inglórios caminha entrecortada por tramas paralelas. A primeira conta a historia de Shoshanna Dreyfus (Mélaine Laurent, linda), garota judia que teve a família dizimada em um massacre promovido pelo coronel Hans Landa (Christoph Waltz, simplesmente o melhor do filme – e do ano!). Após quatro anos, ela se depara com a oportunidade de se vingar, de maneira pouco usual, diga-se: incendiando o cinema que herdou dos tios, que servirá de palco para a estréia de uma superprodução alemã, com direito a presença das mais altas patentes do Terceiro Reich.

Porém, não é apenas Shoshanna que pretende banhar a noite de gala com sangue. O serviço secreto inglês corre por fora com idêntico objetivo, ajudados por um grupo de judeus americanos que tem por hobby matar e mutilar soldados alemães – os bastados do título. Liderados pelo tenente Aldo Raine (Brad Pitt, em atuação deliciosamente canastrona), eles se encarregam de garantir aqui outra peculiaridade do cinema tarantinesco: violência exacerbada. Com o auxílio da bela atriz e agente dupla Bridget von Hammersmark (Diane Kruger, exalando classe), eles pretendem invadir a sessão e mandar tudo pelos ares.

Carregado de metalinguagem do início ao fim, Bastardos inglórios é um atestado do amor de Tarantino pela sétima arte. Ex-balconista de locadoras, o cineasta continua indicando filmes e gêneros, porém, encontrou uma linguagem deveras mais satisfatória para o trabalho. Aliás, o diretor só não se leva mais a sério do que o próprio cinema, que, para ele, é uma forma de expressão poderosa ao ponto de poder mudar o curso da história.

Coincidência: a centésima postagem deste blog é uma crítica sobre um filme de “Tarantino”. Não poderia ser melhor, afinal, tudo começou quando resolvi colocar no papel minhas impressões sobre Kill Bill vol.1.

segunda-feira, outubro 05, 2009

Brasília como ela é

Desagradável sinfonia


Mais alguém se lembrou de Tropas Estelares?

Alguém conhece um animal de aspecto mais medonho que o da cigarra? Aquela aparência de mosca hipertrofiada que elas assumem quando adulta só não é mais repulsiva do que o visual delas ao sair dos casulos. O aspecto amarelado de seu exoesqueleto “envernizado” por secreção é das coisas mais repugnantes que encontramos na natureza.

Sei que algumas pessoas até gostam do animalzinho. Por isso, dedico a elas este post. Com a ajuda da Internet, descobri coisas interessantes sobre a repulsiva criatura:

1 – A cigarra é o inseto de vida mais longa que se conhece, o que meio que comprova o chavão “o que é bom, dura pouco”;

2 – Durante sua fase de ninfa, ela se esconde em baixo da terra para se alimentar de raízes – fico feliz por isso, afinal, se ela própria fica tímida durante este estágio, imaginem só como deve aparentar nestes anos;

3 – A cigarra pertence à família dos cicacídeos, que, por sua vez, fazem parte da classe dos homópteros, filão que reúne a cochonilha, o pulgão, a jequitiranabóia e outros mais – todos “graciosos”;

4 – A cigarra tem consciência de que seu canto estridente é pra lá de incômodo. Elas possuem um mecanismo de proteção contra o volume intenso que produzem: um par de grandes membranas que funcionam como orelhas. Elas são os tímpanos, conectados ao órgão auditivo por um pequeno tendão que reage quando o macho canta, dobrando-os para que o som alto não lhes provoque danos. Verdadeiras pentelhas!;

5 – Seu habitat natural são as regiões tropicais e equatoriais. É verdade que a espécie é encontrada em tais ambientes, porém, se existe um lugar que estes animais podem chamar de lar, este local é Brasília. Somente quem mora na cidade é capaz de entender o barulho infernal que o zumbido de milhões de cigarras produz, ao ponto de um imigrante desavisado – como eu fora –, incrédulo, acredite que o barulho provenha de algum sofisticado sistema de segurança;

6 – Esta última eu não precisei de site para constatar: as cigarras soltam uma secreção nojenta quando estão na copa das árvores. É claro que só percebi isso devido à quantidade obscena desses insetos perambulando pelo Plano-piloto...

Bom, desculpem o desagradável assunto deste desabafo, mas é que andar pelas ruas de Brasília torna-se experiência extremamente desestimulante durante o verão...

quinta-feira, setembro 10, 2009

Cinema

Deixando o melhor pro final...


Tarantino virá ao Brasil para divulgar seu Bastardos Inglórios

Foram meses pouco movimentados para o blog Script!. O número reduzido de postagens têm como maior culpada a falta de tempo deste que vos escreve, seja por trabalho, estudo ou – eu confesso – preguiça. Nos últimos dias, preenchi boa parte do meu tempo livre digladiando pelas arenas digitais de Street Fighter 4, fruto das possibilidades abertas por um novo PC.

Entretanto, não pensem que a diversão nos games aplacou minha vontade de escrever. Não! Embora o tempo dedicado ao Microsoft Word tenha diminuído – é incrível, mas até saudade da interface do programa eu senti –, estou certo de que tenho muito o que dizer e sobre o que comentar. Tanto que as últimas postagens foram dedicados a temas variados, fugindo um pouco do foco usual deste espaço: o cinema. Colaborou, e muito, para tanto, a escassez dos lançamentos recentes. Simplesmente não haviam filmes pelos quais me interessava escrever. Culpa das distribuidoras, que prepararam um calendário terrível, deixando o inverno abarrotado de blockbusters sem conteúdo e filmes de viés artístico duvidoso, que afundaram em sua própria presunção.

Pois bem, a boa notícia é que isso vai mudar. O último terço do ano está permeado de lançamentos que devem ganhar o ar da graça nessas mal traçadas linhas. Com vocês, o melhor de 2009 que está por vir:

Bastardos inglórios
Tarantino é um ídolo, o que dificulta uma análise parcial. Diretor mais importante da década de 90, construiu uma carreira sedimentada no amor pela sétima arte. Bastardos inglórios, refilmagem de um obscuro filme italiano, trata-se de muito mais do que um novo filme de guerra. É a mais nova ode de um artista apaixonado pela veículo em que atua. Brad Pitt e grande elenco formam um cruel grupo de assalto que pretende matar Hitler em pessoa, aproveitando-se, vejam só, da van premiére de um longa alemão. Metalinguagem maior, impossível.


Garota Infernal
Megan Fox: o filme
! Este poderia muito bem ser o título do primeiro longa no qual a garota mais comentada do momento é definitivamente a atração principal. A boa notícia é que não se trata de uma tentativa qualquer para promover o rostinho bonito da semana: o roteiro é assinado pela oscarizada Diablo Cody, responsável pelas tiradas geniais vistas em Juno. Aqui, Fox encarna uma garota possuída por um demônio, ávida por devorar (literalmente) os garotos que a cobiçam.

Besouro
Com a retomada do cinema nacional consolidada, bastava aos brasileiros contar os dias para que surgisse um projeto que levasse a plasticidade da capoeira para as telonas. Besouro é uma espécie de “versão tupiniquim” para O tigre e o dragão. A boa notícia é que o trailer empolga, apesar da narração em off “clichezíssima”. Resta torcer para que o diretor João Daniel Tikhomiroff não perca a mão, transformando a boa premissa em um festival de efeitos especiais bregas.

Distrito 9
A produção é assinada por Peter Jackson, o que já diz muito. Distrito 9 vem colecionando elogios da crítica especializada, tendo, inclusive, sido chamado de “filme do ano” em diversas oportunidades. A história gira em torno de um distrito reservado à alienígenas para que eles vivam na Terra até que possam reparar sua nave espacial defeituosa e seguir viagem. A ação deve dividir espaço com a críticas à xenofobia e à predileção do homem a embarcar em guerras.

Abraços partidos
Almodóvar é certeza de bons diálogos, cores fortes e mulheres vibrantes. Ou seriam mulheres fortes, diálogos vibrantes e boas cores? Não importa, pois embora continue imerso no estilo que o consagrou, Almodóvar consegue o feito de não se repetir, mesmo quando repete a vitoriosa parceria com Penélope Cruz. A atriz encarna Lena, uma mulher pela qual dois homens estão loucamente apaixonados: seu marido magnata e um diretor de cinema paralisado por uma cegueira acidental.

The Box
Richard Kelly, diretor de Donnie Darko, volta para novamente brincar com as emoções do público. Cameron Diaz e James Mardsen vivem um casal que se depara com uma proposta inusitada: de posse de uma caixa que contém apenas um botão, são informados de que ganharão 1 milhão de dólares caso resolvam apertá-lo. Mas não sem um preço, já que o ato resultará na morte de uma pessoa desconhecida. O que você faria?

A princesa e o sapo
O retorno da Disney às animações tradicionais é também um regresso às histórias de princesas que marcaram a trajetória do estúdio. O flerte com os novos tempos fica por conta da protagonista, Tiana, primeira princesa negra em um filme Disney, decisão tomada muito antes da eleição de Obama. Que não parem aí!


Avatar
Revolução. Mais do que isso é difícil falar sobre Avatar. O primeiro projeto de James Cameron desde o longínquo Titanic foi concebido para transmutar nossa relação com o cinema 3D. Longe deste ambiente, Avatar parece apenas mais uma grande produção Hollywoodiana, como ficou claro no trailer que ganhou a Internet. Sam Worthington dá vida a um ex-combatente que tem a missão de se infiltrar entre os nativos do planeta Pandora, que nós, humanos, queremos colonizar. A grande certeza é que os ingressos deverão ser adquiridos com grande antecedência, tendo em vista as filas quilométricas que se formam nas sessões de filmes com tecnologia 3D.

É claro que outros grandes lançamentos acabaram passando despercebidos. Por isso, deixo os comentários abertos para sugestões de outros filmes que devem ser conferidos ainda em 2009.

PS: A lista deveria ser encabeçada por Up! – Altas aventuras, mas não consegui vê-lo em função da mais assustadora fila que já vi em Brasília. O 3D é uma mina de ouro!

segunda-feira, agosto 24, 2009

Cinema

É para rir ou assustar?

Que homem não curte ver duas belas garotas "se pegando"?

Sempre quando alguém diz não gostar de um gênero cinematográfico, esclareço não fazer predileções neste sentido. Na minha opinião, ou um filme é bom ou é ruim, simples assim. Não é o gênero que determina a qualidade da obra. Desta forma, nunca tive um predileto. Apesar disso, devo admitir que considero o terror um estilo problemático.

Embora o medo seja uma das emoções mais primitivas, transmiti-lo em película não é das tarefas mais fáceis. Em geral, tememos o desconhecido, o que, desta forma, favorece filmes em que o “monstro” permanece oculto, como em A bruxa de Blair. O simples fato de não conhecermos aquilo que apavora os personagens nos faz esperar pelo pior, uma expectativa subjetiva que dificilmente é atendida. Outro problema dos filmes de terror é que, em muitos casos, a preocupação em criar momentos de tensão e sustos fáceis acabam prejudicando o desenvolvimento do roteiro (assim como explosões e romancezinhos bobos fazem em outros gêneros).

Cientes das dificuldades inerentes ao estilo, muitos cineastas passaram a produzir filmes de terror com um pé fincado na comédia, debochando das próprias convenções . É o “terrir”, fusão da qual Sam Raimi é um dos grandes mestres. Depois de realizar o sonho de adolescente nerd, brincando na trilogia Homem-aranha, Raimi voltou ao território que o revelou com Arrasta-me para o inferno. As comparações com a trilogia Evil Dead são inevitáveis, embora desta vez Raimi, financiado por um grande estúdio, não teve a mesma liberdade para as experimentações vistas nas aventuras de Ash.

Mas isso não impede que o diretor promova um verdadeiro festival nonsense, com direito a litros de líquidos nojentos e pegajosos, de preferência escorrendo até a boca da protagonista Christine (Allison Lohman, talento nato para o grito), analista de crédito que, em busca de uma promoção, acaba negando um novo financiamento para que Sylvia Ganush (Lorna Raver, repulsiva!) possa pagar sua casa. O problema é que Ganush é uma velha cigana versada em magia negra, que não exita em lançar uma maldição sobre a garota.

Lama, ao menos, faz bem para a pele...

Daí pra frente, Christine descobre que tem três dias para resolver a questão, do contrário, o demônio Lâmia virá buscá-la para uma viagem sem volta rumo ao inferno. Nesse ínterim, a situação da moça só piora, com alucinações cada vez mais perturbadoras. O visual proposto por Raimi é um show a parte: escatologia ligada no modo turbo, com espaço até mesmo para bigornas explodindo cabeças alheias.

No final da sessão, o resultado é extremamente satisfatório, até porque o cineasta preparou um final que, embora previsível, é impactante ao ponto de nos lembrarmos que estamos diante de um filme de terror. Não é uma obra-prima, tampouco foi essa a intenção de Raimi. Arrasta-me para o inferno é diversão pura, longa daqueles que é ótimo ver com amigos e namorados(as). Resta torcer para que o cineasta tenha se divertido tanto quanto eu, tendo recarregado as baterias para a nova aventura do aracnídeo.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Cinema

Uma nova dimensão


Pena não ter como reproduzir aqui o potencial do 3D!

Duas semanas atrás, tive minha primeira – tardia! – experiência com o cinema 3D. Fui ver A era do gelo 3, o qual, confesso, não pretendia assistir na tela grande. Embora tenha gostado do primeiro, até hoje não conferi o segundo longa e não considero a série tão brilhante quanto as da Pixar. Apesar disso, não dá pra negar que A era do gelo cumpre o que propõe: diversão garantida – principalmente para a criançada. O caso é que, naquele sábado, quando meu primo ligou para me convidar, estava em casa, sem melhores opções. A novidade é que desta vez ele conseguira convencer meus tios a nos acompanharem. Desta feita, coube-me a tarefa de convidar minha mãe a ir conosco.

O que eu não poderia imaginar era a quantidade de famílias que teriam idêntico programa para sábado – estou impressionado com os números das bilheterias no Brasil: A era do gelo 3 já é a segunda maior da história de nosso país! – mas não era difícil entender o porquê. Além do óbvio carisma dos personagens, que já possuem enorme apelo entre a criançada daqui, o fator 3D pesava na escolha. Um diferencial que ainda não pode ser reproduzido dentro de casa e que, por isso, representa a grande chance de Hollywood para trazer as famílias de volta aos cinemas, tornando-se menos dependente de seu público atual e quase único, adolescentes que, ano após ano, ficam mais fascinados com seus Playstations e Iphones do que com as velhas salas de projeção.


Logo que a sessão começou, fiquei boquiaberto com a experiência 3D. A técnica estava muito boa em A era do gelo 3, mas o trailer de Força G exibido no formato foi muito mais surpreendente. Não sei se por contar com cenas live action, este último passava uma sensação de profundidade incrível, até incômoda em certos momentos (que o diga minha mãe, apavorada por uma barata que saltava da tela!). O único entrave é que, em função do tamanho reduzido da tela, a experiência não é tão imersiva quanto poderia. Tenho certeza de que seria muito mais incrível em uma enorme tela IMAX.

Também tive minha cota de sustos, tentando desviar-me do que saia da tela em minha direção, reação das mais comuns entre os presentes. Aliás, a experiência de “assistir” o público assimilando a nova técnica já valia o ingresso. Atrás dos ainda grandes óculos especiais, rostos sorridentes. Crianças falastronas esticavam as mãos no afã de alcançar os personagens favoritos, o que, ainda, não é possível. Porém, é fácil acreditar que a imersão sensorial total é questão de tempo. A técnica cinematográfica passa por mudanças, e o que veremos no futuro pode ser muito diferente daquilo que estamos habituados. Tomara que o Brasil se prepare logo para esta nova era, não apenas com novas salas e equipamentos de projeção, mas, principalmente, com realizadores que arrisquem navegar por esses novos caminhos.

quinta-feira, julho 23, 2009

Jornalismo

Diploma: ter ou não ter?


Sim: no meio dessa bagunça toda, pode sair coisa muito boa!

Achava que o assunto não merecia uma postagem, primeiro porque fugia muito dos tópicos normalmente aqui abordados; segundo, considerava-o um tanto desestimulante (leia-se: chato). Mas, após conferir o ótimo Intrigas de estado, a chama que me levou a cursar jornalismo na faculdade ganhou novo brilho. Lembrei-me do que admiro na profissão e por que passei quatro anos buscando conhecer a nobreza do ofício.

Para quem ainda não compreendeu aonde quero chegar, explico que falo sobre a pendenga envolvendo a obrigatoriedade de diploma para jornalistas. A verdade é que, mesmo nos meus primeiros dias de curso, já julgava que o diploma não era essencial ao exercício da profissão. Entretanto, posso dizer que meus anos de estudo, envoltos em matérias práticas e disciplinas teóricas, foram de grande ajuda para meu entendimento da atividade – e também para meu crescimento pessoal. Antes do curso, acreditava que existiam sim distorções nas notícias, provocadas por angulações pessoais ou do veículo. Mas era ingênuo. Não compreendia como funcionavam as engrenagens do sistema. Também não sabia que a mídia atua na construção de nossa percepção da realidade, que não somos manipulados, e sim pautados pelos veículos de comunicação e, principalmente, que a ficção tem a capacidade de pintar quadros mais fidedignos da realidade do que a própria realidade.

Poderia aprender tudo isso na prática, lado a lado com os grandes profissionais da área, como defendem aqueles que desmerecem o valor do diploma? Sim, é claro. Assim como um engenheiro poderia aprender a projetar edificações dispondo de um bom tutor, ou um médico poderia ser formado em plena sala de cirurgia, dia e noite observando e aprendendo com os melhores. Um profissional só se forma na prática, em qualquer área do conhecimento. A única questão é onde se dará o processo – sim, existe muita prática jornalística fora das redações, o que a maioria dos “defensores da liberdade” não consegue admitir.

Experiência é importante em qualquer ramo. Um bom advogado experiente certamente entende melhor do ofício do que um recém-formado. Mas de que isso adianta se não há força de vontade em se superar a cada dia? Se assim não for, um currículo recheado nada mais será do que um “farol apontando para trás”. Alguns argumentarão que, quando erram, engenheiros, médicos e advogados causam prejuízos irreparáveis. A estes, peço que perguntem aos diretores da Escola Base de São Paulo o quão fácil é reparar as perdas provocadas por um erro cometido pela imprensa.

Trabalhe em um jornal ou blog, tenha compromisso com o público

Portanto, acredito que um bom jornalista pode se formar na academia ou na redação. O que importa é que tenha grande bagagem cultural e que construa uma conduta ética sólida, contando com a ajuda de bons “professores” que o auxiliem na empreitada.

Dessa forma, o que me deixa curioso é entender qual o real objetivo de toda essa discussão. Seria por vontade dos profissionais mais experientes em permanecer com cadeira cativa em seus respectivos empregos? Ora, antes de tudo isso, dezenas de pessoas atuavam tranquilamente na mídia sem precisar serem rotulados jornalistas.

Certamente, o que motivou a decisão não tem nada a ver com a liberdade de expressão, argumento dos mais falaciosos que já vi sustentar uma tese. Alguém acredita, sinceramente, que veículos como Veja e Folha se tornarão mais plurais caso contratem profissionais sem graduação em jornalismo? É claro que não. Continuarão como estão, agredindo princípios do bom jornalismo, distorcendo notícias, padronizando textos, partidarizando suas coberturas e não dando oportunidade de resposta quando cometem erros. Tal conduta nada tem a ver com formação acadêmica.

Melhor seria se banissem os famigerados manuais de redação, instrumentos de poda que servem para moldar os profissionais ao bel-prazer do veículo. Eliminassem também os patrões, transformando os jornais e TVs em organizações sem fins lucrativos. A quem interessaria distorcer uma notícia se não se pode ganhar com isso?

Na minha opinião, a decisão do STF visa tão somente a enfraquecer os sindicatos de jornalistas. Fica mais difícil argumentar um aumento salarial em tempos nos quais qualquer um pode exercer a sua profissão. Por essas e outras, passo cada vez mais tempo na Internet. Aqui a liberdade de imprensa é real, apesar dos seguidos esforços em censurar a rede. O sucesso dos blogs reside muito no fato de que seus autores perceberam que há muito mais acontecimentos noticiáveis do que a mídia tradicional supõe. Falamos sobre tudo e da forma que bem entendemos. Sem precisar de diploma para tanto, mas podendo fazer bom uso dele nesse propósito.

segunda-feira, junho 29, 2009

Música

O rei e eu


Difícil citar alguém com tanta segurança de si quanto Jackson no palco

Não quero usar este espaço para hipocrisias, dizendo que passei o fim de semana em luto pela morte de Michael Jackson ou coisas do tipo. Deixo tais manifestações para amigos e reais fãs do cantor, categorias nas quais jamais me inseri. Nunca comprei sequer um disco de Jackson e considero que, do ponto de vista artístico, ele já não estava “vivo” há algum tempo. Gosto de algumas músicas e, se bem me lembro, confesso ter passado boa parte de minha infância cantarolando o riff de Black or white e, é claro, tentei por diversas vezes, sem sucesso, executar o passo “Moonwalker” – e quem não tentou?. Mas a memória mais significativa que tenho de Jackson é pra lá de inusitada. Indiretamente, Michael é responsável por ter me tornado um sem-vergonha. E antes que os mais incautos tirem conclusões precipitadas, termino este parágrafo para iniciar as devidas explicações.

É preciso esclarecer que fui um garoto tímido durante a adolescência, apesar dos constantes gracejos que fazia no afã de chamar alguma atenção. Comportamento este que, aliás, não passava de vã camuflagem para a timidez que frequentemente podava minhas vontades e gestos. Dessa forma, para mim, seria inimaginável que algum dia eu roubasse a cena de uma festa entre amigos emulando os passos de Jackson – e sem nenhum cacoete de dançarino, é bom que se diga.

O ano era 2003. Estava no terceiro período de meu curso de comunicação – em tempos de pendenga em relação a diplomas, melhor chamar assim o curso que fiz. Em um sábado, do qual não recordo a data, resolvemos fazer um descontraído encontro na casa de um amigo (o China, grande figura!). Havia bom papo e uma roda de violão, mas havia também um rapaz chamado Gustavo, a quem todos conheciam como Pinguim. Gustavo acabou tornando-se o meu amigo mais próximo nos tempos de faculdade e, se algo o poderia caracterizar na época, era sua personalidade extrovertida.

Durante a festinha em questão, Gustavo acabou encontrando um disco do Michael Jackson entre os CDs do China. Sem titubear, colocou-o no som e começou uma performance de Smooth Criminal, meio que exigindo que China e eu entrássemos na brincadeira. É claro que, no primeiro momento, meu cérebro enviava mensagens para que meu corpo se afastasse o máximo daquela sandice, que procurasse um refúgio daquele imenso mico. Mas verdade também é que aqueles arroubos tresloucados do Pinguim meio que me contagiavam! Era visível que a galera adorava o comportamento dele, então, por que não entrar na onda? Não era minha intenção copiá-lo, apenas soltar-me de amarras que há muito atravancavam minha vida. Perdi o medo e a vergonha (logo, tornei-me um sem-vergonha!!!) ao som dançante de Jackson, e adotei aquele momento como exemplo prático de conduta para outras situações do gênero.

Depois desse dia, tentei não mais reprimir minha “verdadeira natureza” em função de recalques bobos. É claro que nem sempre sou bem sucedido – sou humano e, verdade seja dita, a timidez também tem lá o seu charme. O curioso é que, recentemente, em conversa com o Pinguim, ele me revelou que algo parecido aconteceu com ele durante o colégio. Michael também serviu como gatilho para o comportamento extrovertido de meu amigo. Ao saber disso, foi impossível não divagar sobre quantos mais teriam recebido auxílio semelhante do “Rei do pop”. Uma pauta que nasce e que, sem dúvida, perdurará inacabada...

segunda-feira, junho 22, 2009

Cinema

Trama "impessoal"


O excepcional visual é o ponto forte do novo longa de Tom Tykewer

Sempre que via algum material de divulgação de Trama internacional, não conseguia tirar da cabeça que o filme era sério candidato a melhor do ano. Um thriller sobre corrupção no qual um banco – os malfeitores da vez! – finalmente estaria no papel de vilão. Na batuta do projeto, o estiloso diretor alemão Tom Tykewer (Corra lola corra). Como protagonista, Clive Owen, um de meus atores prediletos, duas vezes considerado o melhor ator na lista anual do blog (2005 e 2006) – e que até mesmo no propositalmente despropositado Mandando bala conseguiu construir um personagem carismático como poucos! Dividindo cartazes com Owen está Naomi Watts, outra queridinha deste blogueiro, já tendo também sido eleita a atriz do ano (2007).

Apesar dos muitos ingredientes positivos na receita, Trama internacional não consegue “descer” muito bem. O longa peca pela falta de identidade, flertando com os mais variados estilos, sem encontrar uma fórmula coesa para tanto, o que resulta em uma mistura requentada que até diverte, mas que fica muito aquém das expectativas.

Durante todo a fita, é fácil perceber que a atual safra de filmes de espionagem “cabeça” serviram como inspiração para Tykewer. As perseguições nos telhados, os assassinatos mirabolantes, o tiroteio em pleno museu Guggenheim e a investigação sagaz parecem saídos dos filmes da Trilogia Bourne. Por sua vez, as intricadas relações de corrupção lembram, e muito, Conduta de risco, elogiado longa de estreia de Tony Gilroy. São comparações que, normalmente, enalteceriam qualquer trabalho. O problema é que sobram pontas soltas onde os dois focos deveriam convergir.

Não se deixe enganar pela divulgação: Naomi Watts é mera coadjuvante

Os protagonistas são propositalmente mal desenvolvidos, visando tornar o tom da narrativa mais documental, retirando, em diversos momentos, a sensação de “onisciência” do espectador. Com tanta informação omitida, fica mesmo difícil prever os rumos da narrativa, tal qual acontece na vida real. Assim, personagens vêm e vão sem maiores explicações – fenômeno que acomete até mesmo a promotora vivida por Watts! – e não há grande preocupação em desenvolver uma curva dramática genuína. Mas a proposta de situar a história em um ambiente plausível parece ter sido providencialmente esquecida em certos momentos, como na investigação que leva ao assassino de um comerciante de armas italiano. Como seguir uma pista tão ridícula?

Se a intenção de Tykewer for a de que história ali contada fosse apenas um fragmento de algo muito maior, que não caberia em um filme, ele atingiu plenamente o resultado. Mas a verdade é que os fins não justificam os meios, e Trama internacional falha por, durante toda a projeção, vender um suspense sem clímax e uma investigação sem solução. Para isso já temos os telejornais...

domingo, maio 24, 2009

Televisão

#SaveEarl

Na semana passada, para meu desepero, a rede NBC confirmou o cancelamento de My name is Earl, verdadeira pérola da comédia americana. Rumores indicam que a série pode ganhar uma segunda chance em outra emissora – a FOX e o canal a cabo TBS estariam entre os possíveis destinos. A chance de que a série ganhe sobrevida animou os fãs – eu incluso –, que começaram a inundar o site de microblogging Twitter com posts com a tag #SaveEarl. O objetivo é tornar a campanha de "salvamento" um dos assuntos mais comentados no Twitter todos os dias.



* Como hoje em dia é preciso arrumar uma data para tudo, amanhã, dia 25/05, será comemorado o "Dia do orgulho Nerd". A data foi escolhida por tratar-se do aniversário da estréia do primeiro filme da franquia Star Wars, talvez o maior ícone nerd de todos os tempos. Acho a ideia boba, como a esmagadora maioria das datas comemorativas. Tenho orgulho de ser quem sou e como sou todos os dias – a não ser quando faço uma burrada... Se pelo menos fosse feriado para os nerds... De qualquer forma fica o registro e uma homenagem: Megan Fox, a musa nerd da vez, vestindo a camisa!

quinta-feira, maio 21, 2009

Cinema

De que lado você está?


Enquanto Wolverine advoga em nome da ação descerebrada...

Dois filmes, uma proposta. X-MEN: Origens – Wolverine e Star Trek iniciaram a temporada de blockbusters de verão com objetivo único: garantir mais alguns milhões de dólares aos seus estúdios por meio de franquias já consolidadas. Mas embora os fins fossem os mesmos, os meios empregados se mostraram bastante distintos. Enquanto o filme protagonizado pelo nervoso mutante canadense – pra lá de ruim representa um claro retrocesso para a franquia “X”, Star Trek desponta como a ressurreição de um mito há anos dado como “morto”.

Uma análise dos números das bilheterias das duas produções propicia um olhar curioso a respeito da “dualidade” mercadológica que atualmente toma conta de Hollywood. Wolverine aposta em um roteiro de ação ininterrupta e descerebrada, visando claramente o público adolescente. No começo, a receita deu certo – foram arrecadados aproximadamente 87 milhões de dólares no fim de semana de estréia. Foi o bastante para que a Fox, preocupada com que tais números fossem prejudicados pelo vazamento prévio do filme na Internet, respirasse aliviada, assegurando também uma continuação. O estúdio só não contava que as péssimas críticas e o boca-a-boca negativo fizessem os números desabarem nas semanas seguintes – queda de quase 70% na primeira semana, acrescidos de mais um rombo de 44% na semana posterior.

Por sua vez, Star Trek apostou em uma fórmula que equilibra ação e conteúdo. O longa de JJ. Abrams honra a memória da série, consagrada pela narrativa amplamente amparada na ciência de ponta. Esse conteúdo, até certo ponto sofisticado, não espantou a audiência. No final de semana de estréia, a produção da Paramount faturou gordas 76 milhões de verdinhas. Diferentemente do longa da Fox, Star Trek foi exaltado pela crítica e ajudado pela propaganda positiva feita por quem já lhe havia assistido. Com isso, Trek teve uma queda menor de bilheteria em sua segunda semana em cartaz do que o filme do “carcaju” – apenas 43%, o que deve fazer com que a arrecadação total de Trek supere a de Wolverine até o vindouro fim de semana –, algo que amplia o debate em torno de quão “sofisticado” devem ser os novos arrasa-quarteirões.

... Star Trek defende que uma trama deve ter algo além de explosões.

Em uma sociedade onde jovens recebem uma gigantesca carga de informação providenciada por games, Internet, quadrinhos, música e todo o tipo de entretenimento, é de se espantar que o cinema ainda considere fazer sucesso com filmes que não possuem preocupação mínima com um enredo. Ora, simples escapismo está atualmente acessível na palma da mão, basta ter um celular um pouco acima da média. Imaginem então o que faz uma jovem com um bom computador e uma Internet de alta velocidade! Violência, sexo, efeitos especiais e uma trilha sonora pra tudo isso de graça, com a vantagem de, em muitos casos, poder interagir diretamente com a mensagem.

Está na hora do cinemão americano repensar seu modus operandi. Não foi a primeira vez que um filme pipoca de roteiro mais elaborado que o usual dominou as bilheterias. O argumento único da “experiência sensorial” proporcionada pela tela grande não resistirá muito tempo face à escalada tecnológica da alta definição dos home theathers. É preciso garantir um retorno maior ao espectador que se dispõe ir ao cinema. Algo que transcenda as duas horas de exibição. Em suma, é preciso conteúdo. Que os roteiristas se preparem, pois a onda do cinema cabeça chegou para ficar.

sexta-feira, maio 15, 2009

A vida como ela é

A nova ordem musical


AC/DC não tem tudo a ver com MC Créu e Mulher Melancia?

Não, não, não. Estou vivo e bem. Meu sumiço se deve ao fato de ter embarcado em um novo emprego. Estudar e trabalhar não deixam muto tempo para atividades "bloguistícas".

Escrevo para contar um episódio curioso que aconteceu comigo, ontem, enquanto voltava para casa de ônibus. Duas "patricinhas" adolescentes sentaram atrás de mim e começaram a fofocar, em alto e bom som, para que todo mundo ouvisse sobre as incríveis desventuras amorosas que preenchiam a vida delas. Era um "já peguei" pra cá, um "esse eu pegava" pra lá, quando de repente, elas resolvem colocar uma musiquinha no celular: como desgraça pouca é bobagem, um funk bem tosco, mais uma vez em ALTO e bom som.

Refleti com meus botões: "A molecada realmente gosta disso? Ninguém mais tem bom gosto nessa faixa etária?". Enquanto isso, o assunto das meninas desviava o foco. Passaram a falar sobre música, criticando as preferências de um colega emo. Subitamente, elas providenciaram a surpresa do dia, ao argumentarem o porquê da desaprovação do estilo do colega:

– Se ele pelo menos curtisse um rock bacana, tipo Guns ou AC/DC...

Peraí... Eu entendi certo? As garotas "funkeiras" curtem AC/DC? Será que estou tão velho assim para compreender a miscelênia por trás dos gostos musicais da nova geração? O que vocês acham?

quarta-feira, abril 22, 2009

Brasil

Singela homenagem


Ministro Joaquim Barbosa, um GRANDE brasileiro!

quinta-feira, abril 16, 2009

Cinema

Sparring da vez


Ao lado de Eva Mendes, quem não ficaria convencido?

Quem frequenta este blog há algum tempo já percebeu que sempre arrumo um espacinho para resenhar adaptações de quadrinhos. O motivo é simples: bem antes de me interessar seriamente por cinema, era ávido leitor de HQ’s. E como todo bom fanboy (vá lá, perdoem-me, qual adolescente não foi um?), tinha o meu próprio roteirista herói, o ídolo supremo, o cara no qual me espelharia quando crescesse. O nome da figura? Frank Miller.

Não posso precisar o que me atraiu no estilo de Miller logo de cara. Cada vez que lia seus trabalhos, encontrava novas qualidades, o que pode fazer a memória me trair. Sei que hoje admiro a concisão do texto, os ótimos diálogos, a criatividade dos roteiros e a capacidade dele em narrar tão bem na primeira pessoa, mediante toneladas de recordatórios. Estilo que passava uma sensação de realidade que eu jamais vira antes nos quadrinhos. Os pensamentos e avaliações dos personagens do Demolidor roteirizado por Miller fluíam com tamanha naturalidade que se confundiam aos meus.

Os anos passaram e descobri o cinema e, com este, Quentin Tarantino. Lembro-me que de cara encontrei muita similaridade entre o estilo do cineasta e o do quadrinhista. Tarantino emulava Miller, traduzindo tudo aquilo pelo qual me apaixonara durante a adolescência para a telona. O que não significava tratar-se de uma cópia, pois o diretor o fazia com estilo próprio, que rapidamente passei a admirar. Tão logo assisti a Pulp Fiction, pensei ser Tarantino a pessoa certa para adaptar a obra de Miller para o cinema. Nas discussões com os amigos, argumentava sempre que ele deveria dirigir Sin City. A medida exata! Imaginem então o tamanho da minha empolgação quando soube que ele e Robert Rodriguez iriam, de fato, realizar Sin City, e mais, com Miller a tiracolo.


The Spirit é ruim, mas dá para assistir. O bichano é simpático!!!

Naquele momento, percebi que uma trajetória cinematográfica seria inevitável na carreira de Miller. Sin City foi o sucesso que esperava e 300 gerou burburinho ainda maior, embora entre as obras de Miller, esta não seja uma de minhas favoritas. O próximo passo foi deixá-lo dirigir um filme por sua própria conta, e ele optou por The Spirit, adaptação da obra de Will Eisner, ídolo do Miller quadrinhista.

Colocá-lo no banco de diretor não me surpreendeu, tampouco a pronta aceitação por parte dele. Miller era visto como promessa em Hollywood, status bem diferente daquele que ostentava na indústria de quadrinhos à época. Nesta, seus trabalhos mais recentes variavam entre os incompreendidos por público ou crítica (All star Batman) e os de má qualidade (O Cavaleiro das trevas 2). Era consenso que os quadrinhos já não fascinavam Miller como antigamente. Quem sabe ele não encontraria no cinema nova vazão para seu talento...

O problema é que, contra ele, havia uma legião de ex-fãs e críticos ansiosos por um fracasso. Ninguém engolira bem a sátira que Miller fazia do atual mercado dos quadrinhos em All Star Batman, e muitos acharam petulante a decisão do autor de desembarcar em Hollywood, principalmente porque Alan Moore, o outro “papa dos quadrinhos”, faz questão de dar 500 entrevistas por semana repudiando toda a indústria cinematográfica americana. Miller ainda tratou de agravar o quadro, adotando uma postura insuportavelmente blasé durante entrevistas e convenções, portando-se como gênio supremo. Parecia ter saído há pouco de um mergulho de cabeça no mais fundo poço do pedantismo...

E por essa postura, muito mais do que pela qualidade de seu trabalho, Miller pode estar dando adeus ao sonho hollywoodiano. The Spirit fracassou com público e crítica, embora o filme não seja tão ruim quanto muitos pregam. É, sim, uma obra bem fraca e repleta de passagens constrangedoras, mas ali salvam-se um ou outro momento nos quais brotam faíscas do talento do Miller de outrora. O que não serve de álibi para meu antigo ídolo. Frank Miller alçou o posto de saco de pancadas da vez, e ninguém parece querer maneirar nos golpes. Um tombo que pode muito bem ajudá-lo a colocar a cabeça no lugar, servindo inclusive como motivação. Resta saber como estará a boa vontade do público para a próxima investida do artista, seja no cinema ou nos quadrinhos.


The Spirit: ótimo pretexto para postar outra foto da Scarlett... Ai, Ai!

sábado, março 28, 2009

Cinema

Em time que está ganhando...


Eastwood com um trabuco na mão: cena emblemática do cinema ianque

Sempre me impressiona o fato de Clint Eastwood conseguir emendar bons lançamentos em espaços tão curtos de tempo. Como aos melhores vinhos, a idade tem feito bem ao velho caubói. Seus últimos filmes conseguem sempre figurar entre os melhores lançamentos do ano e, o mais impressionante, entre os melhores da carreira do próprio. Porém, o mais instigante nessa história toda – pelo menos para mim – é o fato de Eastwood conseguir nos surpreender mesmo sendo extremamente redundante em suas obras. Gran Torino, novo longa do diretor, talvez seja o melhor exemplo disso.

O protagonista, Walt Kowalski, é um veterano da guerra da Coreia que acaba de perder a esposa. Típico exemplar do americano branco cristão, em alguns momentos ele aparenta ser não mais que um estereótipo: não gosta de imigrantes; acha que a mulher deve ser subverniente ao homem; não compreende os jovens e tampouco se conforma com a decadência americana configurada nos últimos anos. O cinéfilo mais atento certamente sabe que essas são adjetivações recorrentes no cinema de Clint. E o próprio Kovalski mais parece uma mistura de outros personagens encarnados pelo diretor. Estão lá facetas do justiceiro Dirty Harry, do treinador-tutor Frankie Dunn (Menina de ouro), do caubói descrente Bill Munny (Os imperdoáveis), entre outros.


"Não, não Thao, você não é o Menino de ouro!!!"

Kowaski é o último de sua leva em um bairro dominado por imigrantes orientais. A família o considera um velho rabugento, e não esconde a ansiedade em o ter debaixo da terra. Sozinho, ele só tem alento nas tarefas rotineiras, que incluem jardinagem e cuidar de sua relíquia automotiva, um Gran Torino 1972 original. Não que ele quisesse alguma proximidade dos vizinhos, que ele despreza. O problema é estes passam a vê-lo como herói depois que ele salva os irmãos Sue e Thao de gangues do bairro. Aí a história ganha contornos parecidos com os vistos em Menina de ouro. Sue torna-se uma inusitada amiga, graças à coragem e petulância da garota em confrontar Walt – como a boxeadora Maggie Fitzgerald do longa supracitado. Thao transforma-se em pupilo, última esperança de Walt em criar um descendente que honre os valores nos quais acredita.

Gran Torino constrói-se nessa necessidade mútua de Thao e Walt, em que um precisa de uma figura paterna e o outro de uma nova chance para criar um filho. Tal qual Menina de ouro. Trama e personagens podem não ser originais na filmografia do cineasta, mas o maior mérito de Clint como diretor não é surpreender. Seu talento reside em saber contar uma história em todas as suas nuances, na mise en scène apuradíssima, nos pequenos detalhes e na incrível dedicação em tornar suas narrativas as mais verdadeiras possíveis. Eastwood surpreende sim, mas pela perseverança, pois, perto dos oitenta anos, não mostra sinais de preguiça ou de ego inflado, mas sim uma incrível dedicação aos pequenos detalhes e diferenças que tornam cada obra única e relevante.

quarta-feira, março 11, 2009

Cinema

Em celulóide


A "adptação impossível" é muito boa, mas não é perfeita.

Wacthmen, a HQ, é uma obra especial para mim. Tanto que passei os últimos três dias queimando neurônios no afã de encontrar a melhor forma de começar esta resenha sobre Watchmen – O filme. Caso tivesse embarcado na empreitada instantes depois da sessão, iniciaria atacando o diretor Zack Snyder, por omitir algumas das partes que mais gostava no quadrinho. No dia seguinte, sábado, já tendo esfriado um pouco a cabeça, adotaria um tom mais ameno: o de decepção, pois filme não representará para o cinema aquilo que representa para os quadrinhos. Na segunda-feira, com tudo melhor digerido e após muita reflexão, enalteceria a coragem de Snyder em adaptar para a telona um texto tão complexo e de pouco apelo comercial. E de forma bastante fidedigna.

Agora me parece claro que Snyder se sairia melhor na função de produtor do longa. Não que ele seja um diretor ruim, não é este o caso. A questão é que o estilo caricato dele não combina com o clima realista e reflexivo da HQ em vários pontos. Um bom exemplo é a cena em que Walter Kovacs explica como se tornou Rorscharch. Nela, Snyder faz uso do seu habitual gosto pela violência crua e gráfica ao colocar o herói matando o bandido à machadadas, em momento digno de Jason Vorthes – ou seria Chucky, o brinquedo assassino? No original, Rorscharch queima o bandido e observa a cena de longe.

A crueldade do quadrinho é a mesma – quem sabe até maior – porém, na HQ a cena nos é apresentada com sutileza. Não há a preocupação em mostrar um corpo humano se desfazendo em chamas. A atenção é centrada no olhar do anti-herói,
frente ao fogo, distanciado, o que aumenta o impacto da transformação do homem comum com uma máscara em um novo ser, que julga entender a maldade humana e saber como lidar com esta. Como esperar que o público reflita sobre algo do tipo quando a versão de Snyder arranca risos da platéia?


Cenas como essa dizem muito sobre a profundidade de Watchmen.

Snyder provou que a história de Watchmen cabe em um filme. É verdade que algumas passagens fizeram falta, principalmente para alguém que já perdeu as contas de quantas vezes leu o original, mas a essência da narrativa foi preservada. Graças à postura de fã adotada pelo diretor, que batia o pé cada vez que os executivos almejavam mudar o contexto, almejando ganhar a simpatia do espectador médio.

Watchmen não foi concebido para tal público, e Snyder sempre soube disso. Mesmo fãs de gibis mais tradicionais já torciam o nariz para toda aquela profundidade, um universo no qual é difícil determinar as fronteiras entre bem e mal, esquerda e direita, humano e divino, só pra citar algumas. Dessa forma, nada melhor do que ver essa história contada por um diretor que também fugisse da média. Alguém com traços mais “kubrickianos” e que não se perdesse nos detalhes. Aronofsky talvez? Não sei. O certo é que Snyder ainda não está nesse patamar (visionário? só para o departamanto de marketing da Warner). Admirador e bom-entendedor do quadrinho que é, ele deveria ter percebido e admitido isso, entrado no projeto como produtor para garantir a fidelidade e encontrado alguém com estilo mais próximo à essência do texto de Alan Moore. É claro que versão é vesão, cada um faz a sua, e agora não adianta chorar. Nem é preciso, uma vez que o trabalho de Snyder é, de fato, bem aceitável – em sua maioria, transposição literal. Um filme nota 7 (talvez 8 com a versão estendida) de 10. Fidelidade por fidelidade, sejamos fiéis à HQ, que é nota 11!


"Aí gata, curtiu o filme? Que tal agora batermos em alguém pra relaxar?"

sexta-feira, março 06, 2009

Cinema

Cosmética da fome


Danny Boyle pasteuriza a pobreza a ponto de transformá-la em diversão?

Excelente a crítica Pablo Villaça sobre Quem quer ser um milionário?. Ele insere o longa de Danny Boyle no conceito da "cosmética da fome", várias vezes utilizada para rechaçar algumas produções nacionais. A análise de Pablo sai, até certo ponto, defasada - quase todo mundo já tinha escrito algo sobre o filme -, provando que, quase sempre, o tempo é aliado do crítico. De nada adianta se esforçar para ser o primeiro a postar impressões sobre uma obra se estas não vão além de obviedades. Também é curioso notar que muitos dos que aplaudem Quem quer ser um milionário? reclamam da produção cinematográfica brasileira, que insiste em mostrar o que o Brasil tem de pior... Coincidência?

O link para a crítica do Pablo.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Cinema

Timing preciso


Seria Danny Boyle tão sortudo quanto Jamal?

O sucesso Quem quer ser um milionário? se deve:
a) à perfeita noção de timing de Danny Boyle e da Fox Searchlight, que apostaram em um filme de temática otimista prevendo a atual crise mundial e o desejo de mudança que ecoaria nos EUA e se expandiria pelo globo;
b) à percepção de que a cultura indiana estava prestes a “bombar” no ocidente, a ponto de servir como pano de fundo para a novela das oito global;
c) à abordagem semi-documental da vida das favelas, aos moldes de
Cidade de Deus, já devidamente consagrada pela crítica; com direito a uma pasteurização na crueza e ao “bom, velho e compreensível” idioma de Shakespeare;
d) ao destino.

Ok. Admito que forcei um pouco a barra para iniciar minha crítica sobre
Quem quer ser um milionário?. O filme não é só isso, possuindo, sim, qualidades. Mas, embora o clichê “Filme certo, na hora exata” soe um tanto reducionista, não há definição melhor para explicar o sucesso desse longa. Quem quer ser um milionário? obteve vitórias esmagadoras na maioria das premiações da temporada, inclusive no Oscar, onde levou 8 estatuetas. Também foi bem recebido pela grande maioria da crítica (94% de aprovação no Rotten Tomatoes!), mas de forma alguma se trata do clássico que alguns tentam pintar. É certo que o sucesso o colocará nos anais da história, mas é bem possível que no futuro as pessoas se lembrem dele muito mais pelo papel de divisor de águas, colocando Hollywood em direção a histórias mais otimistas que as vistas nos últimos anos, permeados por filmes sombrios. Mudança que não necessariamente significará melhores filmes, pois estes são bons ou ruins, sendo otimistas ou não.



Nada como uma "pura" brincadeira infantil para conquitar a platéia

Quem quer ser um milionário? é muito bom durante sua metade inicial, caindo em qualidade no segmento final. Culpa da montagem impactante, que, para conquistar o público de cara, concentrou todas as surpresas e inovações narrativas no início. Entender o que se passa com Jamal logo após ele ter ganho 10 milhões de rúpias em um derivado indiano do Show do milhão cria um suspense inesperado. Também é fascinante descobrir como o jovem pobre, órfão e favelado sabia as respostas que o levaram a um prêmio do qual nem mesmo “doutores” chegaram perto. O ótimo elenco infantil também ajuda, uma vez que a infância dos órfãos Jamal, Salim e Latika é o centro das atenções nessa parte da história. Apesar de sofrida, essa fase da vida dos protagonistas possui um charme encantador, exalando um frescor narrativo que captura o público.

Mas aí chega a adolescência e o início da vida adulta e, com essa última, o programa de TV que pode mudar o destino de Jamal. O problema é que aqui o roteiro torna-se previsível, o uso dos flashbacks já não possui a força do início e a história passa a ser dominada pela pieguice. A facilidade em prever como cada situação irá terminar certamente frustrará o cinéfilo mais exigente, embora não comprometa a diversão descompromissada. Sorte de Danny Boyle que não são poucos os que anseiam por escapismo fácil para fugir da terrível realidade da crise mundial. E para quem quer a resposta para a questão inicial, todas estão corretas, desde que se acredite em destino...

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Cinema

Ser ou não ser você mesmo?


Randy "The Ram"? Mickey Rourke? Discussão vazia? Você escolhe...

O lugar comum em que caem boa parte das críticas sobre O lutador soa como campanha contra a eventual vitória de Mickey Rourke na cerimônia do Oscar. Posto que é impossível negar que o ator esteja perfeito no novo filme de Darren Aronofsky, os detratores trataram de adotar uma tática diferente: relativizar. Para esses, a atuação de Rourke nem mesmo assim deveria ser classificada. O ator não estaria sequer representando um personagem, mas tão somente sendo ele mesmo.

Ora, como se conseguir mostrar-se de forma transparente diante das câmeras já não fosse um esforço soberbo de interpretação (que o diga Eduardo Coutinho!). Quem nunca se intimidou diante das câmeras? Quem nunca posou como alguém diferente, tentando se passar por uma figura mais interessante? Quem se comporta de maneira absolutamente idêntica em todos os círculos de convivência social? Pois bem, estamos sempre encenando o nosso próprio “papel” de forma diferente. Somos a soma dos personagens que criamos para nós mesmos. Como condenar Rourke por sua autenticidade e perfeita unidade no papel do
wrestler Randy “the Ram”?

As trajetórias de ator e personagem são, de fato, parecidas. Ambos estiveram no auge de suas carreiras no final dos anos 80, mas na década seguinte, por circunstâncias diferentes, acabaram condenados ao limbo do esquecimento. Passaram anos lutando em pequenas arenas – Rourke largou os pequenos papéis para se dedicar a uma carreira no boxe, o que fermenta ainda mais as comparações. Agora, tentam se auto-afirmarem e reconstituírem a parte da vida que ficou perdida durante os anos mais amargos.

Se é mais fácil interpretar a si mesmo em frente às câmeras, não sei dizer. Talvez a resposta varie caso a caso. E aí reside minha bronca com quem tenta diminuir o trabalho de Rourke. Boa parte das opiniões parecem carregadas com certo preconceito. Dois pesos, duas medidas.

Rourke não pertence ao primeiro escalão (ainda). Passou anos no ostracismo e teve poucos papéis que realmente mereçam elogios. É fácil criticá-lo. O mesmo não acontece com Jack Nicholson, por exemplo. Sua caracterização do Coringa para
Batman sempre foi coberta de elogios. “Apagou até o Batman!”, dizem os mais exaltados. Porém, uma olhadinha mais cuidadosa nas entrevistas de Nicholson, no comportamento deste longe das câmeras ou em documentários em cujo ator seja objeto de observação nos mostra uma figura bem parecida com a vista no filme de Tim Burton. Mas como criticar Nicholson, um verdadeiro “monstro” do cinema, quase uma unanimidade? Ou talvez seja eu que esteja sendo chato, incapaz de perceber que a maquiagem carregada seja capaz de tornar certos comportamentos tão distintos de outros.