quinta-feira, julho 23, 2009

Jornalismo

Diploma: ter ou não ter?


Sim: no meio dessa bagunça toda, pode sair coisa muito boa!

Achava que o assunto não merecia uma postagem, primeiro porque fugia muito dos tópicos normalmente aqui abordados; segundo, considerava-o um tanto desestimulante (leia-se: chato). Mas, após conferir o ótimo Intrigas de estado, a chama que me levou a cursar jornalismo na faculdade ganhou novo brilho. Lembrei-me do que admiro na profissão e por que passei quatro anos buscando conhecer a nobreza do ofício.

Para quem ainda não compreendeu aonde quero chegar, explico que falo sobre a pendenga envolvendo a obrigatoriedade de diploma para jornalistas. A verdade é que, mesmo nos meus primeiros dias de curso, já julgava que o diploma não era essencial ao exercício da profissão. Entretanto, posso dizer que meus anos de estudo, envoltos em matérias práticas e disciplinas teóricas, foram de grande ajuda para meu entendimento da atividade – e também para meu crescimento pessoal. Antes do curso, acreditava que existiam sim distorções nas notícias, provocadas por angulações pessoais ou do veículo. Mas era ingênuo. Não compreendia como funcionavam as engrenagens do sistema. Também não sabia que a mídia atua na construção de nossa percepção da realidade, que não somos manipulados, e sim pautados pelos veículos de comunicação e, principalmente, que a ficção tem a capacidade de pintar quadros mais fidedignos da realidade do que a própria realidade.

Poderia aprender tudo isso na prática, lado a lado com os grandes profissionais da área, como defendem aqueles que desmerecem o valor do diploma? Sim, é claro. Assim como um engenheiro poderia aprender a projetar edificações dispondo de um bom tutor, ou um médico poderia ser formado em plena sala de cirurgia, dia e noite observando e aprendendo com os melhores. Um profissional só se forma na prática, em qualquer área do conhecimento. A única questão é onde se dará o processo – sim, existe muita prática jornalística fora das redações, o que a maioria dos “defensores da liberdade” não consegue admitir.

Experiência é importante em qualquer ramo. Um bom advogado experiente certamente entende melhor do ofício do que um recém-formado. Mas de que isso adianta se não há força de vontade em se superar a cada dia? Se assim não for, um currículo recheado nada mais será do que um “farol apontando para trás”. Alguns argumentarão que, quando erram, engenheiros, médicos e advogados causam prejuízos irreparáveis. A estes, peço que perguntem aos diretores da Escola Base de São Paulo o quão fácil é reparar as perdas provocadas por um erro cometido pela imprensa.

Trabalhe em um jornal ou blog, tenha compromisso com o público

Portanto, acredito que um bom jornalista pode se formar na academia ou na redação. O que importa é que tenha grande bagagem cultural e que construa uma conduta ética sólida, contando com a ajuda de bons “professores” que o auxiliem na empreitada.

Dessa forma, o que me deixa curioso é entender qual o real objetivo de toda essa discussão. Seria por vontade dos profissionais mais experientes em permanecer com cadeira cativa em seus respectivos empregos? Ora, antes de tudo isso, dezenas de pessoas atuavam tranquilamente na mídia sem precisar serem rotulados jornalistas.

Certamente, o que motivou a decisão não tem nada a ver com a liberdade de expressão, argumento dos mais falaciosos que já vi sustentar uma tese. Alguém acredita, sinceramente, que veículos como Veja e Folha se tornarão mais plurais caso contratem profissionais sem graduação em jornalismo? É claro que não. Continuarão como estão, agredindo princípios do bom jornalismo, distorcendo notícias, padronizando textos, partidarizando suas coberturas e não dando oportunidade de resposta quando cometem erros. Tal conduta nada tem a ver com formação acadêmica.

Melhor seria se banissem os famigerados manuais de redação, instrumentos de poda que servem para moldar os profissionais ao bel-prazer do veículo. Eliminassem também os patrões, transformando os jornais e TVs em organizações sem fins lucrativos. A quem interessaria distorcer uma notícia se não se pode ganhar com isso?

Na minha opinião, a decisão do STF visa tão somente a enfraquecer os sindicatos de jornalistas. Fica mais difícil argumentar um aumento salarial em tempos nos quais qualquer um pode exercer a sua profissão. Por essas e outras, passo cada vez mais tempo na Internet. Aqui a liberdade de imprensa é real, apesar dos seguidos esforços em censurar a rede. O sucesso dos blogs reside muito no fato de que seus autores perceberam que há muito mais acontecimentos noticiáveis do que a mídia tradicional supõe. Falamos sobre tudo e da forma que bem entendemos. Sem precisar de diploma para tanto, mas podendo fazer bom uso dele nesse propósito.