sábado, agosto 04, 2007

Cinema

Atropelando os pequenos


Transformesrs: definição mais que perfeita para blockbuster.

Ficou difícil para o vendedor de pipoca disfarçar o sorriso. A enxurrada de filmes arrasa-quarteirões que têm permeado 2007 foi capaz de devolver as cifras astronômicas de bilheteria às produções made in Hollywood. É claro que o retorno das “verdinhas” foi comemorado pelos estúdios americanos, que enxergam nesse crescimento um possível ponto final para a crise que assolou o mercado no início da década.

O ponto alto desse “pesadelo” aconteceu em 2005, quando a arrecadação com ingressos sofreu uma queda de 2,5 bilhões em relação ao ano anterior. Estúdios já se preparavam para fechar mais um ano no vermelho quando 2006 foi encerrado com a grata surpresa de um crescimento positivo de 6%. Um valor pequeno para grandes comemorações, porém, capaz de fazer alguns executivos respirarem aliviados. Foram 6,5 bilhões de dólares arrecadados em todo o mundo, valor ainda menor que o arrecado em 2004, e que deve boa parte de seu sucesso à generosa contribuição dada por Piratas do Caribe: O baú da morte, filme que, sozinho, somou mais de um bilhão para os cofres da Disney.

A quantia vultuosa serviu de mapa para que outros estúdios copiassem a receita. Era hora de voltar a apostar pesado nos blockbusters, de preferência àqueles capazes de render franquias recheadas de seqüências turbinadas. Plano que já está sendo seguido a risca, com 2007 capitaneado pelos estrondosos sucessos de Homem-aranha 3, Shrek Terceiro e Piratas do Caribe: No fim do mundo, todos capítulos finais de suas respectivas trilogias. Juntos, fizeram mais de 2 bilhões. Somados aos outros sucessos lançados no primeiro semestre, Harry Potter e a ordem da fênix, 300 e Transformers, respondem por mais da metade da arrecadação do ano passado. É amigo, isso em apenas seis filmes.

Os efeitos desta avalanche bilionária foram facilmente sentidos por quem gosta de cinema. Produções mais modestas, de cunho artístico, ficaram relegadas a circuitos extremamente restritos, pois praticamente todas as salas estavam reservadas às superproduções norte-americanas. Se você mora no interior, provavelmente ainda não conferiu filmaços como Maria Antonieta, O homem duplo, O Hospedeiro ou os brasileiros O cheiro do ralo e O céu de Suely. Longas que simplesmente não entraram em cartaz nestas cidades. Entretanto, mesmo os moradores das grandes capitais também têm do que reclamar. Esse tipo de filme geralmente fica em cartaz por apenas duas semanas, e em uma única sala. É a lógica do capitalismo, grande oferta para grande procura.

Política que gera um curioso fenômeno: a migração de cinéfilos, que deixam as filas de cinema para ocupar os saguões das locadoras (quando não sedem a tentação da pirataria). Alguns títulos geram listas de espera de semanas para serem alugados. E ao julgar pelos lançamentos previstos para o próximo ano, o quadro não deve sofrer alterações. Quem quiser ver um filme mais intimista na tela grande terá que juntar dinheiro para comprar uma boa TV de plasma. Comemoram os executivos; do cinema, dos eletrodomésticos e da pipoca, é claro!