quinta-feira, novembro 13, 2008

Cinema

Consolo na vingança


Craig teve de suar - e sangrar! - para salvar este fraco 007!!

007: Cassino Royale foi uma agradável surpresa ao final de 2006. O novo James Bond, concebido pelo roteirista Paul Haggis e pelo diretor Martin Campbell, rompia com o tom farsesco que ditou a era Pierce Brosnan para abraçar um realismo nu e cru, inspirado em filmes como Batman: Begins e as aventuras do espião Jason Bourne. A receita envolvia ainda uma trama mais madura e verossímil, além de um interesse romântico verdadeiro para o herói, a inesquecível Vesper Lynd de Eva Green. Daniel Craig era a cereja do bolo, compensando o próprio (ligeiro?) desabono estético com a melhor interpretação de um 007 em todos os tempos (desculpe-me Sean Connery, mas você ficou para trás).

Dessa forma, é fácil entender porque 007: Quantum of Solace gerava tanta expectativa. Pela primeira James Bond teria um filme que representa uma seqüência direta e imediata aos fatos vistos no anterior. E agora sob a batuta de Marc Foster, notoriamente reconhecido por filmes sensíveis e de conteúdo, como Em busca da terra do nunca e Mais estranho que a ficção. Assim, esperava-se uma evolução natural do personagem em mais um grande filme. Porém, o que vemos, se não é um passo atrás, trata-se de um momento dispensável na trajetória do espião inglês.

Em linhas gerais, 007: Quantum of Solace não rompe com as mudanças estabelecidas em seu antecessor. Bond mantém a postura “pró-ativa”, recorrendo usualmente à força bruta, e o vilão da vez – Mathiu Almaric, em grande atuação – novamente possui um plano concebível no mundo real. O problema é que o filme se concentra quase todo em cenas de ação, às vezes de forma gratuita, obrigando o telespectador a fazer cogitações sobre as amarras que faltam ao enredo complicado e mal-estruturado. Bond vai ao encalço dos responsáveis pela morte de Vesper Lynd e se depara com uma organização secreta com ramificações em todo o mundo. Certamente dará material para novos filmes.


Kurylenko é Bond em versão com mais curvas. Até a pose é a mesma!

E como falamos de 007, não podemos nos esquecer das Bond Girls. Li recentemente que a crítica desaprovou a falta de sexo (!?) neste novo longa. De fato, pouco tempo é gasto em conquistas amorosas, e a principal personagem feminina da trama, interpretada por Olga Kurylenko (exuberante!), sequer vai para a cama com o agente secreto. Essa tarefa é reservada a também linda Gemma Aterton, em papel minúsculo. Vale destacar que mais uma vez as Bond Girls são retratadas como mulheres modernas e independentes, tanto que a personagem de Kurylenko ganha até mesmo uma subtrama paralela. Para esta, talvez o rótulo de Bond Girl nem seja o mais apropriado. Melhor seria Female Bond (Bond versão feminina).

A seqüência de abertura é das mais decepcionantes. A música de Jack White e Alicia Keys até consegue empolgar, o problema é a animação! Coisa de amador! O que fica pior quando nos lembramos da sensacional abertura de Cassino Royale.

007: Quantum of Solace não chega a ser um filme ruim. Sem dúvida está muito à frente de qualquer exemplar das eras Pierce Brosnan e Roger Moore. O problema é que Cassino Royale merecia um sucessor à altura. Tomara que aconteça em um próximo capítulo.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Cinema

Ensaio sobre o amor


Johansson, figura cada vez mais recorrente nos filmes de Allen, e no blog!

Foram precisos 33 filmes para que Woody Allen percebesse que era hora de se reinventar. O mestre da comédia saiu da amada Nova Iorque e migrou para Londres, onde teria os investimentos que lhe foram negados nos Estados Unidos. A mudança de ares fez bem ao diretor, pelo menos em um primeiro momento. Seu primeiro longa com sotaque britânico foi o suspense (!?) Match Point, um primor. Pena que a esse se seguiram os fracos Scoop – O grande Furo, e O sonho de Cassandra. A solução? Arrumar as malas e rumar em direção à ensolarada Barcelona.

E não é que a estratégia funcionou? Embora o clima quente, as cores vivas e o temperamento passional do povo latino sejam elementos quase antagônicos ao restante da obra de Allen, o diretor captou-os de forma sublime, sem perder o estilo próprio.
Vicky Cristina Barcelona marca o retorno de Allen à comédia, e do jeito que ele faz melhor. Preparem-se para diálogos inspiradíssimos em um verdadeiro estudo sobre as (in)conseqüências do amor.

Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson) são duas amigas americanas que resolvem passar as férias de verão em Barcelona, hospedadas na casa de uma amiga. Vicky quer concluir sua pesquisa de mestrado, que tem como objeto o trabalho do arquiteto espanhol Gaudí. Cristina quer conhecer a passionalidade da arte e cultura latinas, que em sua opinião são mais autênticas do que a racionalidade americana.

Em meio aos passeios culturais as duas se deparam com Juan Antônio (Javier Barden – Soberbo!!!), pintor local que parece encarnar o espírito do “carpe diem” em seu estilo de vida. Logo no prime
iro encontro, sem mais delongas, ele propões às amigas um passeio pelo interior regado a muita arte, romance e sexo a três. Vicky, conservadora, recusa imediatamente a proposta, pois é comprometida e está prestes a se casar. Cristina, impulsiva, fica tentada pela forma direta da abordagem e, encantada pela figura boêmia de Juan Antonio, tenta encorajar a amiga a embarcar na aventura. Relutante, Vicky concorda em ir, mas já avisa que não terá nenhum tipo de relacionamento sexual com o pintor, um tipo ao qual ela esclarece ter antipatia.


Nada melhor do que deixar as "pratas da casa" roubarem o filme!

Mas como é imprevisível o amor. Impedida de deitar-se com Juan Antonio devido a uma úlcera, Cristina não presencia a transformação da relação entre ele e Vicky. Estes são obrigados a continuar o roteiro de passeios sozinhos, e Vicky, envolta com sua pesquisa, passa a enxergar no pintor um pouco da cultura latina pela qual se apaixonou. Quando Cristina se recupera e passa a investir no relacionamento com Juan, observamos uma transformação no comportamento das duas.

Vicky passa a questionar o que dá sentido ao amor e se ela realmente ama seu noivo. Cristina se envolve em uma relação a três com Juan Antônio e Maria Elena (Penélope Cruz, que simplesmente rouba o filme!), ex-mulher do pintor, pela qual este não esconde ser profundamente apaixonado, embora ela seja meio maluca, já tendo, inclusive, tentado matá-lo. A primeira vista Cristina parece ter encontrado o romance pouco convencional pelo qual ansiava, mas, será que é isso que importa no amor?

Allen é extremamente sábio ao conduzir o roteiro por uma sucessão de acasos que não procuram responder às aflições das protagonistas. A vida não oferece respostas prontas, é preciso viver e amadurecer.
Vicky Cristina Barcelona pode não deixar claro o que importa em um relacionamento, mas fará o espectador rever suas expectativas em meio a uma avalanche de risos.


"Javier, ainda bem que o texto acabou, porque tá difícil resistir..."