terça-feira, fevereiro 24, 2009

Cinema

Timing preciso


Seria Danny Boyle tão sortudo quanto Jamal?

O sucesso Quem quer ser um milionário? se deve:
a) à perfeita noção de timing de Danny Boyle e da Fox Searchlight, que apostaram em um filme de temática otimista prevendo a atual crise mundial e o desejo de mudança que ecoaria nos EUA e se expandiria pelo globo;
b) à percepção de que a cultura indiana estava prestes a “bombar” no ocidente, a ponto de servir como pano de fundo para a novela das oito global;
c) à abordagem semi-documental da vida das favelas, aos moldes de
Cidade de Deus, já devidamente consagrada pela crítica; com direito a uma pasteurização na crueza e ao “bom, velho e compreensível” idioma de Shakespeare;
d) ao destino.

Ok. Admito que forcei um pouco a barra para iniciar minha crítica sobre
Quem quer ser um milionário?. O filme não é só isso, possuindo, sim, qualidades. Mas, embora o clichê “Filme certo, na hora exata” soe um tanto reducionista, não há definição melhor para explicar o sucesso desse longa. Quem quer ser um milionário? obteve vitórias esmagadoras na maioria das premiações da temporada, inclusive no Oscar, onde levou 8 estatuetas. Também foi bem recebido pela grande maioria da crítica (94% de aprovação no Rotten Tomatoes!), mas de forma alguma se trata do clássico que alguns tentam pintar. É certo que o sucesso o colocará nos anais da história, mas é bem possível que no futuro as pessoas se lembrem dele muito mais pelo papel de divisor de águas, colocando Hollywood em direção a histórias mais otimistas que as vistas nos últimos anos, permeados por filmes sombrios. Mudança que não necessariamente significará melhores filmes, pois estes são bons ou ruins, sendo otimistas ou não.



Nada como uma "pura" brincadeira infantil para conquitar a platéia

Quem quer ser um milionário? é muito bom durante sua metade inicial, caindo em qualidade no segmento final. Culpa da montagem impactante, que, para conquistar o público de cara, concentrou todas as surpresas e inovações narrativas no início. Entender o que se passa com Jamal logo após ele ter ganho 10 milhões de rúpias em um derivado indiano do Show do milhão cria um suspense inesperado. Também é fascinante descobrir como o jovem pobre, órfão e favelado sabia as respostas que o levaram a um prêmio do qual nem mesmo “doutores” chegaram perto. O ótimo elenco infantil também ajuda, uma vez que a infância dos órfãos Jamal, Salim e Latika é o centro das atenções nessa parte da história. Apesar de sofrida, essa fase da vida dos protagonistas possui um charme encantador, exalando um frescor narrativo que captura o público.

Mas aí chega a adolescência e o início da vida adulta e, com essa última, o programa de TV que pode mudar o destino de Jamal. O problema é que aqui o roteiro torna-se previsível, o uso dos flashbacks já não possui a força do início e a história passa a ser dominada pela pieguice. A facilidade em prever como cada situação irá terminar certamente frustrará o cinéfilo mais exigente, embora não comprometa a diversão descompromissada. Sorte de Danny Boyle que não são poucos os que anseiam por escapismo fácil para fugir da terrível realidade da crise mundial. E para quem quer a resposta para a questão inicial, todas estão corretas, desde que se acredite em destino...

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Cinema

Ser ou não ser você mesmo?


Randy "The Ram"? Mickey Rourke? Discussão vazia? Você escolhe...

O lugar comum em que caem boa parte das críticas sobre O lutador soa como campanha contra a eventual vitória de Mickey Rourke na cerimônia do Oscar. Posto que é impossível negar que o ator esteja perfeito no novo filme de Darren Aronofsky, os detratores trataram de adotar uma tática diferente: relativizar. Para esses, a atuação de Rourke nem mesmo assim deveria ser classificada. O ator não estaria sequer representando um personagem, mas tão somente sendo ele mesmo.

Ora, como se conseguir mostrar-se de forma transparente diante das câmeras já não fosse um esforço soberbo de interpretação (que o diga Eduardo Coutinho!). Quem nunca se intimidou diante das câmeras? Quem nunca posou como alguém diferente, tentando se passar por uma figura mais interessante? Quem se comporta de maneira absolutamente idêntica em todos os círculos de convivência social? Pois bem, estamos sempre encenando o nosso próprio “papel” de forma diferente. Somos a soma dos personagens que criamos para nós mesmos. Como condenar Rourke por sua autenticidade e perfeita unidade no papel do
wrestler Randy “the Ram”?

As trajetórias de ator e personagem são, de fato, parecidas. Ambos estiveram no auge de suas carreiras no final dos anos 80, mas na década seguinte, por circunstâncias diferentes, acabaram condenados ao limbo do esquecimento. Passaram anos lutando em pequenas arenas – Rourke largou os pequenos papéis para se dedicar a uma carreira no boxe, o que fermenta ainda mais as comparações. Agora, tentam se auto-afirmarem e reconstituírem a parte da vida que ficou perdida durante os anos mais amargos.

Se é mais fácil interpretar a si mesmo em frente às câmeras, não sei dizer. Talvez a resposta varie caso a caso. E aí reside minha bronca com quem tenta diminuir o trabalho de Rourke. Boa parte das opiniões parecem carregadas com certo preconceito. Dois pesos, duas medidas.

Rourke não pertence ao primeiro escalão (ainda). Passou anos no ostracismo e teve poucos papéis que realmente mereçam elogios. É fácil criticá-lo. O mesmo não acontece com Jack Nicholson, por exemplo. Sua caracterização do Coringa para
Batman sempre foi coberta de elogios. “Apagou até o Batman!”, dizem os mais exaltados. Porém, uma olhadinha mais cuidadosa nas entrevistas de Nicholson, no comportamento deste longe das câmeras ou em documentários em cujo ator seja objeto de observação nos mostra uma figura bem parecida com a vista no filme de Tim Burton. Mas como criticar Nicholson, um verdadeiro “monstro” do cinema, quase uma unanimidade? Ou talvez seja eu que esteja sendo chato, incapaz de perceber que a maquiagem carregada seja capaz de tornar certos comportamentos tão distintos de outros.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Cinema

Auto-plágio?

Faz quase dez anos que assisti a Forrest Gump pela última vez. Mesmo assim, era impossível não perceber que O curioso caso de Benjamin Button guarda grandes semelhanças com o longa supracitado – ambos foram roteirizados por Eric Roth –, principalmente no campo estrutural, no desenvolvimento dramático. Mas como julguei que os filmes falam sobre temas diferentes, relevei, ao ponto de defender Roth e David Fincher da acusação de "plágio" que alguns blogueiros amigos fizeram. Pois bem, ainda considero O curioso caso de Benjamin Button um bom filme. Continuo achando que os dois filmes despertam sentimentos diferentes no espectador. Só que fica difícil argumentar contra um vídeo tão contundente quanto este aí de baixo... Será que o tempo me fez passar batido?