quarta-feira, outubro 14, 2009

Cinema

A guerra por Tarantino


Tarantino e sua trupe de bastardos prontos para a glória

À época do lançamento de Kill Bill vol.1, residia em Uberaba-MG. A cidade demorou cerca de um mês para receber o filme de Tarantino, período que serviu para que eu lesse tudo o que podia a respeito do longa e do diretor. Entrevistas, perfis, críticas – oriundas de um sem número de sites, jornais e revistas – compuseram uma almágama de informação que me ajudou a formar a minha visão sobre o cineasta e sua obra. Colaboraram, também, para que eu me tornasse admirador do trabalho da figura.

O assunto Bastardos inglórios, eterna “obra em andamento” de Tarantino, vez ou outra ganhava a pauta. O alardeado roteiro vinha sendo trabalhado há mais de cinco anos, o que levou a imprensa a adotar um tom de desconfiança, tanto em relação à obra quanto a Tarantino. Este, por sua vez, tratava Bastardos como sua obra-prima, o que colaborava bastante com a idéia de que a fita ainda iria demorar, afinal, a percepção geral é a de que um artista quer sempre se superar, principalmente os relativamente jovens, como Quentin.

Desta forma, é impossível deixar de se surpreender com a velocidade com que Bastardos inglórios ganhou contornos concretos. No final de 2008, Tarantino terminou o ambicioso roteiro. Deixou claro que aquele seria seu próximo projeto. O elenco foi definido em novembro, e as filmagens vieram logo a seguir. A velocidade justificava-se pelo cronograma apertadíssimo: o filme deveria estar pronto a tempo de estrear no Festival de Cannes, em maio de 2009.

Uma decisão dessas, feita por qualquer cineasta, seria vista como sintoma de loucura e megalomania. Vinda de Tarantino, só fez crescer a fama de auto-indulgente que ele carrega. Ao carma do demorado parto de Bastardos, somava-se agora a sensação de que o filme não receberia o refinamento necessário. Veríamos um cópia inacabada? Bastardos inglórios assumiria status tão distante da propalada obra-prima de outrora?

Para Tarantino, bastam as mesas de bar como cenário de guerra

Ledo engano. Metódico tal qual os mais avaros engravatados dos grandes estúdios – embora, ainda hoje, seu nome seja sinônimo de cinema independente –, Tarantino planejou seu roteiro de forma que o trabalho de pós-produção se desse de maneira relativamente fácil. Excluindo-se uma ou outra seqüência redundante – como a de Hitler revelando algo sobre o que todos já tinham tomado conhecimento na cena anterior –, Bastardos inglórios firma-se, inclusive, como a produção mais bem acabada do diretor – o que, porém, não significa que ela seja a melhor.

Embora se passe em plena segunda-guerra mundial, Bastardos foge do padrão usual do gênero. A produção é caprichada, mas não investe em grandes batalhas ou cenas de ação. Tarantino preserva seu viés intimista, construindo a maioria das seqüências em torno de ótimos diálogos ao pé das mesas.

Como não poderia deixar de ser em um longa assinado pelo cineasta, a narrativa de Bastardos inglórios caminha entrecortada por tramas paralelas. A primeira conta a historia de Shoshanna Dreyfus (Mélaine Laurent, linda), garota judia que teve a família dizimada em um massacre promovido pelo coronel Hans Landa (Christoph Waltz, simplesmente o melhor do filme – e do ano!). Após quatro anos, ela se depara com a oportunidade de se vingar, de maneira pouco usual, diga-se: incendiando o cinema que herdou dos tios, que servirá de palco para a estréia de uma superprodução alemã, com direito a presença das mais altas patentes do Terceiro Reich.

Porém, não é apenas Shoshanna que pretende banhar a noite de gala com sangue. O serviço secreto inglês corre por fora com idêntico objetivo, ajudados por um grupo de judeus americanos que tem por hobby matar e mutilar soldados alemães – os bastados do título. Liderados pelo tenente Aldo Raine (Brad Pitt, em atuação deliciosamente canastrona), eles se encarregam de garantir aqui outra peculiaridade do cinema tarantinesco: violência exacerbada. Com o auxílio da bela atriz e agente dupla Bridget von Hammersmark (Diane Kruger, exalando classe), eles pretendem invadir a sessão e mandar tudo pelos ares.

Carregado de metalinguagem do início ao fim, Bastardos inglórios é um atestado do amor de Tarantino pela sétima arte. Ex-balconista de locadoras, o cineasta continua indicando filmes e gêneros, porém, encontrou uma linguagem deveras mais satisfatória para o trabalho. Aliás, o diretor só não se leva mais a sério do que o próprio cinema, que, para ele, é uma forma de expressão poderosa ao ponto de poder mudar o curso da história.

Coincidência: a centésima postagem deste blog é uma crítica sobre um filme de “Tarantino”. Não poderia ser melhor, afinal, tudo começou quando resolvi colocar no papel minhas impressões sobre Kill Bill vol.1.

segunda-feira, outubro 05, 2009

Brasília como ela é

Desagradável sinfonia


Mais alguém se lembrou de Tropas Estelares?

Alguém conhece um animal de aspecto mais medonho que o da cigarra? Aquela aparência de mosca hipertrofiada que elas assumem quando adulta só não é mais repulsiva do que o visual delas ao sair dos casulos. O aspecto amarelado de seu exoesqueleto “envernizado” por secreção é das coisas mais repugnantes que encontramos na natureza.

Sei que algumas pessoas até gostam do animalzinho. Por isso, dedico a elas este post. Com a ajuda da Internet, descobri coisas interessantes sobre a repulsiva criatura:

1 – A cigarra é o inseto de vida mais longa que se conhece, o que meio que comprova o chavão “o que é bom, dura pouco”;

2 – Durante sua fase de ninfa, ela se esconde em baixo da terra para se alimentar de raízes – fico feliz por isso, afinal, se ela própria fica tímida durante este estágio, imaginem só como deve aparentar nestes anos;

3 – A cigarra pertence à família dos cicacídeos, que, por sua vez, fazem parte da classe dos homópteros, filão que reúne a cochonilha, o pulgão, a jequitiranabóia e outros mais – todos “graciosos”;

4 – A cigarra tem consciência de que seu canto estridente é pra lá de incômodo. Elas possuem um mecanismo de proteção contra o volume intenso que produzem: um par de grandes membranas que funcionam como orelhas. Elas são os tímpanos, conectados ao órgão auditivo por um pequeno tendão que reage quando o macho canta, dobrando-os para que o som alto não lhes provoque danos. Verdadeiras pentelhas!;

5 – Seu habitat natural são as regiões tropicais e equatoriais. É verdade que a espécie é encontrada em tais ambientes, porém, se existe um lugar que estes animais podem chamar de lar, este local é Brasília. Somente quem mora na cidade é capaz de entender o barulho infernal que o zumbido de milhões de cigarras produz, ao ponto de um imigrante desavisado – como eu fora –, incrédulo, acredite que o barulho provenha de algum sofisticado sistema de segurança;

6 – Esta última eu não precisei de site para constatar: as cigarras soltam uma secreção nojenta quando estão na copa das árvores. É claro que só percebi isso devido à quantidade obscena desses insetos perambulando pelo Plano-piloto...

Bom, desculpem o desagradável assunto deste desabafo, mas é que andar pelas ruas de Brasília torna-se experiência extremamente desestimulante durante o verão...