sábado, junho 16, 2007

Televisão

Cinema em doses homeopáticas


Já bolou sua teoria sobre o final de Lost?


Nem só de cinema vive um bom cinéfilo, pelo menos neste início de século XXI, repleto de alternativas ao bom pipocão. Com produções cada vez mais competentes, a telinha da TV tem deixado muito executivo de cinema de cabelo em pé. Já é grande o número de séries que desbancam poderosos Blockbusters na preferência do público e na linha de produtos licenciados. A qualidade de algumas produções rivaliza com caprichados filmes de Hollywood, atores de renome se aventuram pela empreitada e os recursos limitados da televisão já não são mais tão “limitados” assim.

Com a ascensão do formato digital, os limites para a imaginação dos roteiristas de TV ganharam novos patamares. Já é possível realizar quase tudo também na telinha, o que tem atraído o olhar de talentosos diretores que utilizam a televisão como passaporte de entrada para o cinema. O resultado disso tudo é a melhor safra de seriados da história da TV americana. Separo alguns destaques:

Ação:
Aqui não dá para fugir do óbvio. Lost e Heroes ainda não encontram adversários em suas fórmulas egressas do cinema e dos quadrinhos. Embora não sejam centradas em idéias particularmente novas, ambas só puderam ser produzidas com um mínimo grau de qualidade graças à nova realidade das produções televisivas.

Como ponto fraco a primeira possui seus intervalos entre temporadas, que acabam amenizando a tensão de acompanhar o cotidiano da ilha. Nesses períodos deixamos de pensar como estarão Jack, Kate e cia. e passamos a nos preocupar com outros problemas. Talvez isso explique as seguidas quedas de audiências entre as temporadas. Já a segunda peca pela reverência excessiva às HQ’s, o que rouba a originalidade do produto, que em alguns episódios limita-se a reeditar momentos clássicos de gibis diversos.

Comédia:
Os órfãos de Sienfield podem encontrar refúgio nos inteligentíssimos episódios de My name is earl. A série que sedimenta o lugar de Jason Lee entre os grandes humoristas da atualidade é uma das mais originais dessa nova safra. As peripécias de Earl Hickle, ex-bandido que quer se redimir de seus erros do passado para limpar sua barra com o carma, não apostam em piadas esporádicas, comuns em sitcons. Aqui, a fórmula é centrada em uma ironia perspicaz, capaz de deixar qualquer um como um sorriso largo durante dias. Talvez não provoque gargalhadas, mas é inegável que trata-se de um humor muito mais elaborado e difícil de realizar.

Animação:
Com o cancelamento da série Liga da Justiça: Sem limites, o destaque fatalmente cairia para medalhões como Os Simpsons ou South Park, não fosse a genialidade dos episódios da excelente série Frango: robô. A produção do Cartoon Network satiriza ícones da cultura pop infanto-juvenil, colocando personagens como os Irmãos Mario ou Calvin e Haroldo em situações adultas dominadas por violência e sexo. Para quem não conhece, basta dizer que lembra bastante as esquetes do Casseta & Planeta baseadas em novelas, mas, ao contrário da atração global, aqui dificilmente as piadas deixam de ser originais e engraçadas.

Televisão

Um tiro n'água

A aposta era alta, e depois da fraca recepção para a microssérie A pedra do reino, fica nublado o futuro do Projeto Quadrante, idealizado pela rede Globo em parceria com o cineasta Luiz Fernando Carvalho (Lavoura Arcaica e a minissérie Hoje é dia de Maria). Ambiciosa, a idéia era adaptar para a TV o texto de quatro clássicos da literatura brasileira que fugissem da obviedade do eixo Rio-São Paulo , com os projetos filmados em suas regiões originais (embora Capitu, uma das produções, será rodada no Rio), utilizando mão-de-obra local, incluindo aí os atores .

Carvalho decidiu iniciar o projeto pela região Nordeste, escolhendo o Romance da Pedra do Reino e o príncipe do Sangue do Vai-e-volta de Ariano Suassuna, texto difícil, que o diretor preferiu levar para a tela fielmente. O resultado é um primor artístico invejável, bem superior ao trabalho de Guel Arraes em O Auto da Compadecida, que popularizava o texto de Suassuna para ganhar a simpatia do público. A Pedra do Reino é muito mais fiel ao imaginário do artista e enquadra a beleza do nordeste como poucas obras já fizeram. Apesar de tudo, a série registrou apenas um terço da audiência média do horário da emissora.

Não parecia difícil de adivinhar. A ausência de rostos globais, a estética rebuscada e, principalmente, a narrativa pouco convencional, dificilmente cairiam no gosto popular. É uma pena que a política de não fazer concessões imposta por Carvalho deva ser revista pela emissora. Triste ver que a coragem em levar um produto diferenciado para nossa TV carente de boas produções seja recompensado com o descaso.

sábado, junho 09, 2007

Cinema

Genial em série!


"Por favor senhor Homem-de-ferro, você poderia me dar seu autógrafo?"

David fincher conseguiu outra vez. O diretor de dois dos filmes mais cultuados dos anos 90 (Se7en e Clube da Luta), pegou os fãs de surpresa ao conferir uma nova abordagem para o gênero de seriais killers. Ao contrário do que a lógica poderia propor, Fincher trilha o caminho oposto de Se7en, clássico absoluto do gênero e maior sucesso comercial do cineasta, contando uma história que não objetiva analisar as motivações do assassino, mas a obsessão para desmascará-lo.

O roteiro se baseia no livro homônimo do cartunista Robert Graysmith, que relata uma série de assassinatos cometidos por um homem que denominava-se Zodíaco, além das tentativas frustradas da polícia e da imprensa em descobrir a identidade do criminoso. Até hoje, o autor da onda de crimes assombrou a Califórnia durante a década de setenta não foi descoberto , e aqui o cineasta procura não trair a realidade, sem apontar um culpado e mostrando os suspeitos sob a perspectiva dos investigadores.

Em Zodíaco, Fincher se mostra mais contido na direção, fazendo poucas experimentações com câmeras virtuais ou planos complexos (porém, quando o faz, mostra a maestria de sempre). Aqui ele prefere focar no espetacular trabalho de um elenco pra lá de talentoso. Mark Ruffalo vive o policial David Toschi, responsável pelo caso durante muitos anos; Robert Downey Jr. da vida ao jornalista Paul Awery, que cobria o caso para o jornal San Francisco Chronicle; e Jake Gyllenhaal vivendo Graysminth, a autor do livro. A obsessão em tentar resolver o caso acaba consumindo a vida de todos eles, sendo um retrato extremamente interessante sobre as motivações reais em casos como estes.

Mesmo colocando o público ao lado dos investigadores, Fincher não frustra as expectativas não apontando um culpado. Somos obrigados a tirar nossas próprias conclusões e refletir se os pequenos detalhes esquecidos pelos investigadores eram realmente suficientes para inocentar a lista de suspeitos.

Um thriller pra lá de diferente, sem dúvida nenhuma, que mostra que David Fincher é incapaz de fazer um filme ruim. E antes que alguém alegue que ele é responsável pelo terrível Alien 3, é bom saber que em uma recente entrevista a SET o cineasta revela que o estúdio aproveitou-se de seu nome. Fincher diz ter abandonado o barco sem ter filmado 30% do que vemos na tela. Talvez ele esteja apenas tentando limpar a própria barra, mas após assistir Zodíaco, fica difícil duvidar.

sexta-feira, junho 01, 2007

Cinema

Três, de fato, é demais!!!


Graças aos super-poderes de Sam Raimi, o aranha consegue se salvar...

Há 30 Star Wars inaugurava uma nova era na história do cinema. Muito mais que os efeitos especiais que marcaram época, a saga de George Lucas mudou a forma com que os executivos planejavam seus filmes. Se uma história é boa ou grande demais para ficar restrita a um único filme, o melhor a fazer é transformá-la em uma trilogia.

Embora a semente tenha sido plantada na década de setenta, o formato consolidou-se de fato no início do novo milênio, por meio de trilogias como Matrix, O Senhor dos Anéis e às adaptadas dos quadrinhos. Atores e diretores passaram a assinar contratos para três longas e, para enxugar os gastos, algumas trilogias tinham dois ou até três espisódios gravados simultaneamente. Tais projetos são em geral grandes produções, blockbusters que quase sempre estouram nas bilheterias.

O ano de 2007 veio para coroar de vez o formato. O capítulo final de três das mais rentáveis trilogias da história do cinema aportaram de uma só vez no verão americano, com intervalos de parcas semanas para garantir que o hype em torno de uma produção não roubasse algumas dezenas de milhões de dólares da outra. Homem-aranha 3, Piratas do Caribe: No fim do mundo e Shrek Terceiro são os grandes lançamentos de um ano que já ficou marcado pela alcunha de “ano dos três”.

Em comum, todos conseguiram as piores críticas dentro de suas respectivas trilogias. Homem-Aranha 3 foi o menos “malhado” pelos especialistas, com justiça. Embora a terceira aventura do aracnídeo nas telonas seja inferior as antecessoras, HA3 não deixa de ser um bom filme. Muitos reclamaram da grande profusão de vilões que povoam a trama e a superficialidade com que estes foram desenvolvidos. Tenho de confessar que concordo com a simplicidade com que Sam Raimi conduz o roteiro. Ele não perde tempo tentando explicar o inexplicável (ou alguém acha que existe embasamento científico qualquer que torne crível um homem se transformara em areia viva?). A simplicidade das origens de Venom e do Homem-Areia contribuem para que o diretor desenvolva melhor a personalidade de Peter Parker e seus relacionamentos com Mary Jane e Harry Osborn, que inclusive ganham profundidade. Não podemos esquecer que Peter é o verdadeiro protagonista da história, embora o título teime em nos dizer o contrário.


"Alguém aqui sabe o que está acontecendo?"

Piratas do Caribe segue o caminho inverso e parece servir como atestado para a escolha de Sam Raimi. O terceiro capítulo da aventura bucaneira é muito mais complexo do que deveria (leia-se: confuso). Com uma reviravolta a cada 30 segundos, o longa em nenhum momento parece possuir um fio-condutor, mesmo o mais simples possível. Contribuem para estragar a festa a falta de carisma de Orlando Bloon, que compartilha o defeito com praticamente todo elenco, a exceção de Keira Knightley e Geoffrey Rush, como Elizabeth Swann e Capitão Barbosa respectivamente. Nem mesmo o excelente Johnny Deep consegue se salvar aqui. Se o intérprete de Jack Sparrow carregava os filmes anteriores nas costas, nesse ele perde seu característico charme de malandro para dar lugar a um excêntrico e hiperbólico palhaço. Suas artimanhas são executadas de forma gratuita, com um fim nelas mesmas. No primeiro longa Sparrow aprontava para se dar bem. Agora, ele não passa de uma alegoria para crianças.

Apenas Shrek Terceiro não estreou em terras tupiniquins, mas este carrega o estigma de ter recebido as piores críticas entre os três. Não parece injusto. O trailer da produção não consegue despertar um riso sequer e ainda apresenta piadas constrangedoras de tão ruins.

Apesar das críticas negativas, todos os filmes obtiveram excelentes aberturas nos EUA. Homem-aranha 3 inclusive conseguiu quebrar o recorde de melhor fim de semana de estréia. É uma pena que iremos lembrar o “ano dos três” muito mais pelas cifras históricas do que pela qualidade dos filmes em questão.


Não basta estar bem vestido para agradar.