terça-feira, agosto 29, 2006

Cinema

Sem anjos da guarda


Meninas como escravas sexuais: triste realidade em nosso país

Quando filmes como Anjos do Sol chegam aos cinemas não faltam críticos puritanos para afirmar que o cinema brasileiro é uma porcaria, já que nossos filmes “só mostram o que o Brasil tem de pior”. Foi assim com Cidade de Deus, Central do Brasil, Carandiru e tantos outros. Nada mais injusto, afinal, todos estes filmes retratam muito bem tristes facetas de nosso país, que não devem ser esquecidas, e portanto, não podem ser escondidas.

Anjos do Sol aborda a terrível realidade de milhares de garotas brasileiras: a prostituição infantil e a exploração sexual. O drama vivido por Maria (vivida pela pequena Fernanda Carvaho) e suas “colegas de trabalho” foi inspirado em diversas matérias de jornais de todo o Brasil, o que confere à trama uma verossimilhança perturbadora, afinal estamos falando de crianças que são tratadas como mercadorias, valendo pouco mais que nada e sem nenhuma perspectiva de melhorar de vida. Sem dúvida um roteiro triste, que não exultará o patriotismo ou tampouco tornará os brasileiros mais otimistas em relação ao futuro do país, e mesmo assim o filme se revela uma das melhores produções do novo levante do cinema nacional.

A história começa quando os pais de Maria decidem vendê-la por alguns míseros trocados e a promessa de que ela seria recebida como doméstica na casa de uma boa família, que teria condições de dar uma vida melhor à menina. Inocentes, os pais de Maria nem poderiam imaginar que a filha estava sendo levada para Nazaré (Vera Holtz), uma cafetã que vê na pouca idade de Maria um atrativo a mais para elevar seu preço de venda. A partir daí a menina se transforma em uma mercadoria, de pouco valor, passada de mão em mão até chegar ao bordel comandado pelo impiedoso Saraiva (Antônio Calloni), onde se torna uma escrava sexual, submetida aos mais cruéis castigos pelo cafetão, sem praticamente nenhuma chance de fuga.

O tom cruel da narrativa adotada pelo diretor Rudi Langemann, um estreante no ofício, faz com que assistir à Anjos no Sol seja como levar um golpe no estômago. Nos sentimos impotentes ao testemunharmos o sofrimento ao qual Maria é submetida, conscientes de que cenas como àquelas devem se repetir diariamente pelo nosso país. A excelente fotografia, que exalta ainda mais a tristeza de toda esta realidade, somada aos ótimos diálogos, enxutos e extremamente realistas, nos traz a terrível percepção de que tudo aquilo que estamos vendo é verdadeiro demais, nos enojando, o que explica facilmente porque filmes como este sejam tão mal compreendidos.

Desta forma, o grande mérito do filme é nos expor a este terrível cenário, nos obrigando a discutir soluções para o mesmo, por mais que elas pareçam difíceis ou inexistentes. O próprio filme teve conhecimento desta dificuldade, e o final da história não pode deixar ninguém esperançoso.

Mas se a história contada pela produção não é capaz de despertar o orgulho dos brasileiros o mesmo não acontece quando analisamos as fantásticas interpretações do elenco, em especial de Antônio Calloni como o cruel Saraiva, naquela que é, provavelmente, a melhor interpretação de sua carreira. Sua ótica distorcida de toda a situação, capaz de convencer a todos em sua volta de que ele é na verdade um empresário comum, ou até mesmo um benfeitor para as meninas, mostra como será difícil reverter este quadro fora das telas. Aqui percebemos que seu talento é muito maior do que o que o visto na televisão. Vê-lo em cena é capaz de evocar nosso patriotismo, mesmo interpretando o que existe de pior em nosso país...

domingo, agosto 13, 2006

Expocom

Prata da Casa na Expocom!!!


Documentário sobre produção de queijo é destaque nacional!

O vídeo-documentário Prata da Casa foi indicado para participar da 13° Expocom, na categoria Cinema e Vídeo – Modalidade Científico. Promovida pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), a Expocom é uma mostra que seleciona e reúne os melhores trabalhos de estudantes de graduação em todas as escolas de Comunicação do país.

A Expocom é a maior exposição de trabalhos produzidos por estudantes de Comunicação Social em todo o Brasil. Apenas quatro trabalhos são indicados em cada modalidade. Concorrendo contra Prata da Casa estão os vídeos Ceará Selvagem, produzido pela Universidade de Fortaleza; Peixes de Bonito, da Uniderp e Tubo de Ensaios, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. São representantes extremamente distintos entre si, o que mostra a diversidade cultural na produção intelectual de nosso país. A premiação acontecerá no dia oito de setembro, na Universidade de Brasília, durante a XXIX Intercom.

Prata da Casa é um vídeo documentário de aproximadamente 30 minutos de duração, que mostra o cotidiano do município de Pratinha - MG, usando a tradicional produção de queijo da cidade como fio condutor de sua narrativa. O documentário foi produzido como projeto de conclusão de curso de jornalismo pelo aluno Luis Felipe Silva em parceria com Guilherme de Oliveira Marinho, sendo coordenado pela professora Celi Camargo da Universidade de Uberaba (Uniube).

O documentário acompanha as dificuldades que os produtores enfrentam para comercializar seu produto tradicional, que enfrenta uma grave crise. O vídeo também registra os esforços para qualificar o queijo da cidade através do projeto Identidade e Qualidade do Queijo Minas Artesanal Pratinha, desenvolvido pela Uniube em parceria com a Emater - MG.Por não possuir uma identidade própria o queijo da região acaba sendo comercializado como se pertencesse a outras localidades, impossibilitando assim a consolidação de uma marca forte, capaz de atrair novos mercados.

Além de Prata da Casa, outros três trabalhos produzidos pela Universidade de Uberaba estarão presentes na Expocom em outras categorias. Isso demonstra a qualidade do trabalho desenvolvido pelo Curso de Comunicação da instituição, que consolida seu nome como um dos melhores do país.


Confira a relação completa de trabalho indicados para a 13° Expocom:
http://www.intercom.org.br/congresso/2006/trabalhosaprovadosexpocom.shtml

sexta-feira, agosto 11, 2006

Cinema

2006 - O ano que não acabou!!

Metade de agosto e a grande maioria dos blockbusters americanos já estrearam pelas terras tupiniquins causando um alvoroço nas férias. Mas quem gosta de cinema sabe que o ano ainda está muito longe de acabar... Anotem aí alguns dos filmes mais promissores (alguns ainda não tem data de estréia no Brasil, ou mesmo título em português) pois 2006 ainda é uma criança!!


A scanner darkly: com visual inovador é candidato a "cult" do ano

A scanner darkly – 25 de agosto
Dirigido por Richard Linklater, este filme tem tudo para se transformar na produção “cult” do ano, graças a revolucionária técnica de “cell shading” que permeia todo o longa, uma renderização que deixa o filme e os atores com aspecto de animação. Parece que Keanu Reeves acertou de novo...

A dama da água – 01 de setembro
Um filme de Shaymalan sempre merece bastante atenção. O diretor é dono de um senso estético refinado e suas tramas carregadas de suspense quase sempre reservam boas surpresas ao espectador. O melhor de tudo é que nesta empreitada Shayamalan contará com atores do calibre de Paul Giamatti e Bryce Dallas Howard.

Volver – 10 de novembro
O que dizer de Pedro Almodóvar? Quem quiser achar novos elogios para o diretor certamente terá que recorrer ao dicionário. Em Volver ele parece estar em casa, de volta as histórias sobre mulheres, com direito as cores vivas que marcam seu estilo inconfundível. O filme rendeu ao cineasta a Palma de Ouro de melhor diretor no Festival de Cannes deste ano. Alguém duvida que vem obra prima por aí?

O balconista 2
Meu amigo Renato Pena (dono de um excelente blog: http://renatopena.blog.uol.com.br/) sempre me perguntou o que eu via em Kevin Smith. O problema é que ele não assistiu ao primeiro O balconista, e por isso não sabe que Smith é capaz de nos brindar com diálogos maravilhosos sobre o cotidiano, no maior estilo Tarantino, e sem precisar de gangsters para soar convincente (ou não...). Após algumas derrapadas parece que Smith voltou ao que sabe fazer de melhor: um “neo-realismo nerd”. A ovação gigantesca em Cannes só pode ser um bom sinal...

The Fountain
Certamente o que aguardo com mais ansiedade. É Darren Aronofsky pô!! O cara é um gênio e estava afastado das telas a seis anos. O motivo: The Fountain, uma produção tão ambiciosa (e por que não dizer maluca?), que nenhum estúdio estava disposto a bancar. Hugh Jackman e a oscarizada Rachel Weiz estrelam a história que transcende os limites do tempo.

Scoop
Woody Allen + Scarlett Johansson + Londres = Um novo Ponto Final? Não exatamente. Scoop é o retorno de Allen as comédias, acompanhado de sua nova musa. A combinação, que tem Hugh Jackman a tiracolo, tem tudo para repetir o sucesso da primeira empreitada, consolidando de vez o retorno triunfal de Allen.

Apocalypto
Mel Gibson só pode ter pirado: não bastasse ter se arriscado tanto em A paixão de Cristo, agora ele resolve fazer um filme trilhões de vezes mais arriscado? É galera, o bom Mel não só filmou um filme todo falado em Yucateco, antigo dialeto maia, como dispensou todas as estrelas para conseguir dar veracidade a uma história de vingança em plena América pré-colonização. Tudo em nome da arte, quem diria!

Renaissance
Este é nos moldes de A scanner darkly, só que aqui o visual de desenho animado adota o preto e branco, o que lhe confere um charme todo especial. Os produtores prometem uma revulução à Matrix (quantas vezes ouvi isto...), mas depois de ver o trailer acho difícil ser ma furada, ainda mais com Daniel Craig na parada...

The Prestige
Hugh Jackman de novo!? E como par romântico de Scarlett Johansson outra vez!? Putz! Quem é o agente deste cara? Desta vez o “Wolverine” está no centro de uma disputa com Christian Bale pelo posto de maior mágico de sua época. Disputa esta que não promete ser muito amigável, e tudo sob o comando de Christopher Nolan, disparado um dos melhores diretores da atualidade.

O ilusionista
Outro filme sobre mágica, mas desta vez com Edward Norton no papel principal. E como sua presença já é quase uma garantia de um bom filme, o diretor Neil Burger não deve decepcionar em sua estréia atrás das câmeras. E se a presença de Norton não é suficiente para convencer meus leitores, adicione Paul Giamatti (sempre ótimo) e Jessica Biel (sempre linda) a mistura toda. E aí, está convencido? Não? E se eu disser que os produtores envolvidos aqui são os mesmos de Sideways e Crash? Não, ainda não tem data de estréia...

Oh in Ohio
As dificuldades da vida sexual de um casal a beira da meia idade tem sido descritas como hilárias pela mídia americana. Dirigido por Billy Kent e com um elenco de primeira (Parker Posey, Paul Rudd e Danny DeVitto) este filme tem cara de ser uma das raras comédias românticas realmente inteligentes deste ano. Vamos torcer!

Babel
Em um mundo cheio de desentendimentos, como se fazer entender em um lugar onde sua língua não é compreendida? Esta é a premissa de Babel, novo longa de Alejandro Gonzales Iñárritu, outro que figura facilmente em qualquer lista de melhores cineastas da atualidade. A empreitada, que tem a presença de Brad Pitt, era a grande favorita para vencer Cannes. Dizem que não ganhou por muito, muito pouco...

Maria Antonieta – 12 de janeiro (2007)
Tudo bem, este só estréia no Brasil no ano que vem, mas é Sofia Copolla galera. Estou torcendo para que esta fita apareça aqui no Festival de Brasília, afinal, Sofia ousou mais uma vez: contou a história sobre uma perspectiva um tanto “favorável” a Maria Antonieta (vivida pela talentosa Kirsten Dunst). Os franceses não gostaram nem um pouco disto, e trataram de vaiar o filme em Cannes. Já os críticos internacionais preferiram aplaudi-lo em resenhas pra lá de favoráveis.