segunda-feira, junho 29, 2009

Música

O rei e eu


Difícil citar alguém com tanta segurança de si quanto Jackson no palco

Não quero usar este espaço para hipocrisias, dizendo que passei o fim de semana em luto pela morte de Michael Jackson ou coisas do tipo. Deixo tais manifestações para amigos e reais fãs do cantor, categorias nas quais jamais me inseri. Nunca comprei sequer um disco de Jackson e considero que, do ponto de vista artístico, ele já não estava “vivo” há algum tempo. Gosto de algumas músicas e, se bem me lembro, confesso ter passado boa parte de minha infância cantarolando o riff de Black or white e, é claro, tentei por diversas vezes, sem sucesso, executar o passo “Moonwalker” – e quem não tentou?. Mas a memória mais significativa que tenho de Jackson é pra lá de inusitada. Indiretamente, Michael é responsável por ter me tornado um sem-vergonha. E antes que os mais incautos tirem conclusões precipitadas, termino este parágrafo para iniciar as devidas explicações.

É preciso esclarecer que fui um garoto tímido durante a adolescência, apesar dos constantes gracejos que fazia no afã de chamar alguma atenção. Comportamento este que, aliás, não passava de vã camuflagem para a timidez que frequentemente podava minhas vontades e gestos. Dessa forma, para mim, seria inimaginável que algum dia eu roubasse a cena de uma festa entre amigos emulando os passos de Jackson – e sem nenhum cacoete de dançarino, é bom que se diga.

O ano era 2003. Estava no terceiro período de meu curso de comunicação – em tempos de pendenga em relação a diplomas, melhor chamar assim o curso que fiz. Em um sábado, do qual não recordo a data, resolvemos fazer um descontraído encontro na casa de um amigo (o China, grande figura!). Havia bom papo e uma roda de violão, mas havia também um rapaz chamado Gustavo, a quem todos conheciam como Pinguim. Gustavo acabou tornando-se o meu amigo mais próximo nos tempos de faculdade e, se algo o poderia caracterizar na época, era sua personalidade extrovertida.

Durante a festinha em questão, Gustavo acabou encontrando um disco do Michael Jackson entre os CDs do China. Sem titubear, colocou-o no som e começou uma performance de Smooth Criminal, meio que exigindo que China e eu entrássemos na brincadeira. É claro que, no primeiro momento, meu cérebro enviava mensagens para que meu corpo se afastasse o máximo daquela sandice, que procurasse um refúgio daquele imenso mico. Mas verdade também é que aqueles arroubos tresloucados do Pinguim meio que me contagiavam! Era visível que a galera adorava o comportamento dele, então, por que não entrar na onda? Não era minha intenção copiá-lo, apenas soltar-me de amarras que há muito atravancavam minha vida. Perdi o medo e a vergonha (logo, tornei-me um sem-vergonha!!!) ao som dançante de Jackson, e adotei aquele momento como exemplo prático de conduta para outras situações do gênero.

Depois desse dia, tentei não mais reprimir minha “verdadeira natureza” em função de recalques bobos. É claro que nem sempre sou bem sucedido – sou humano e, verdade seja dita, a timidez também tem lá o seu charme. O curioso é que, recentemente, em conversa com o Pinguim, ele me revelou que algo parecido aconteceu com ele durante o colégio. Michael também serviu como gatilho para o comportamento extrovertido de meu amigo. Ao saber disso, foi impossível não divagar sobre quantos mais teriam recebido auxílio semelhante do “Rei do pop”. Uma pauta que nasce e que, sem dúvida, perdurará inacabada...

segunda-feira, junho 22, 2009

Cinema

Trama "impessoal"


O excepcional visual é o ponto forte do novo longa de Tom Tykewer

Sempre que via algum material de divulgação de Trama internacional, não conseguia tirar da cabeça que o filme era sério candidato a melhor do ano. Um thriller sobre corrupção no qual um banco – os malfeitores da vez! – finalmente estaria no papel de vilão. Na batuta do projeto, o estiloso diretor alemão Tom Tykewer (Corra lola corra). Como protagonista, Clive Owen, um de meus atores prediletos, duas vezes considerado o melhor ator na lista anual do blog (2005 e 2006) – e que até mesmo no propositalmente despropositado Mandando bala conseguiu construir um personagem carismático como poucos! Dividindo cartazes com Owen está Naomi Watts, outra queridinha deste blogueiro, já tendo também sido eleita a atriz do ano (2007).

Apesar dos muitos ingredientes positivos na receita, Trama internacional não consegue “descer” muito bem. O longa peca pela falta de identidade, flertando com os mais variados estilos, sem encontrar uma fórmula coesa para tanto, o que resulta em uma mistura requentada que até diverte, mas que fica muito aquém das expectativas.

Durante todo a fita, é fácil perceber que a atual safra de filmes de espionagem “cabeça” serviram como inspiração para Tykewer. As perseguições nos telhados, os assassinatos mirabolantes, o tiroteio em pleno museu Guggenheim e a investigação sagaz parecem saídos dos filmes da Trilogia Bourne. Por sua vez, as intricadas relações de corrupção lembram, e muito, Conduta de risco, elogiado longa de estreia de Tony Gilroy. São comparações que, normalmente, enalteceriam qualquer trabalho. O problema é que sobram pontas soltas onde os dois focos deveriam convergir.

Não se deixe enganar pela divulgação: Naomi Watts é mera coadjuvante

Os protagonistas são propositalmente mal desenvolvidos, visando tornar o tom da narrativa mais documental, retirando, em diversos momentos, a sensação de “onisciência” do espectador. Com tanta informação omitida, fica mesmo difícil prever os rumos da narrativa, tal qual acontece na vida real. Assim, personagens vêm e vão sem maiores explicações – fenômeno que acomete até mesmo a promotora vivida por Watts! – e não há grande preocupação em desenvolver uma curva dramática genuína. Mas a proposta de situar a história em um ambiente plausível parece ter sido providencialmente esquecida em certos momentos, como na investigação que leva ao assassino de um comerciante de armas italiano. Como seguir uma pista tão ridícula?

Se a intenção de Tykewer for a de que história ali contada fosse apenas um fragmento de algo muito maior, que não caberia em um filme, ele atingiu plenamente o resultado. Mas a verdade é que os fins não justificam os meios, e Trama internacional falha por, durante toda a projeção, vender um suspense sem clímax e uma investigação sem solução. Para isso já temos os telejornais...