segunda-feira, abril 14, 2008

Cinema

Olhando para trás...


Se Stallone pode, porque eu não poderia?

Antes de mais nada, preciso me desculpar pelo marasmo e preguiça que tomaram minha rotina nos últimos dias. Abril já está pela metade e em breve os blockbusters do verão americano aportarão em solo tupiniquim. Sem dúvida um momento propício – talvez o último! – para lançar um olhar mais crítico e analítico sobre as produções que marcaram o mês de março. Aqui vai uma análise sobre três filmes que assisti durantes aquele mês.

Começo por Rambo IV, a mais nova visita de Stallone ao próprio passado. Aqui ele segue a risca a fórmula apresentada em Rocky Balboa, “um homem tentando encontra sua essência e provar seu valor”. O problema é que o retorno do boxeador emanava certo charme. Era um retorno improvável, ridicularizado por todos, dentro e fora das telas, trajetória que se mesclava com a do próprio Stallone. Torcemos para o triunfo de Rocky sem que para isso o diretor tivesse de apelar ao maniqueísmo. Não existem vilões e mocinhos, apenas um homem que compreende o que é e clama por uma nova chance.

Rambo também compreende sua essência, algo que fica claro no flashback que utiliza cenas das produções anteriores. Mas tentativa de Stallone em traçar um paralelo entre a trajetória dos dois maiores personagens falha porque, ao contrário de Rocky, Rambo não precisa provar mais nada a ninguém. Isso obriga o diretor a criar uma situação justificável para o retorno do herói, que assume a forma de um roteiro bobo, repleto de vilões que são verdadeiras caricaturas para o “mal encarnado”. Ainda sobrou tempo para inserir um grupo de missionários que terão uma “lição de vida” por meio da retórica de Rambo, um interesse romântico (!?) pra lá de forçado e um grupo de mercenários que só estão lá para servir de parâmetro para a inacreditável aptidão do protagonista para a guerra. Tudo elevado a enézima potência no quesito violência, onde Rambo IV estabelece novos recordes para derramamento de sangue em película.

Violência também é uma constante na vida do mafioso russo Nikolai, personagem vivido por Viggo Mortensen no bom Senhores do crime, novo fruto da parceria com o diretor David Cronenberg, que já rendeu o aclamado Marcas da violência. O interessante é que a dupla cria uma história que evolui de forma quase contrária a do longa anterior. Se em Marcas da violência Mortensen constrói um personagem pacato e simples, que aos poucos revelava uma faceta assustadora, aqui ele dá vida a um assassino frio que, com o desenrolar da história, apresenta-se como sujeito de motivações nobres, preocupado com o bem-estar do próximo.

Naomi Watts vive Anna, enfermeira de Londres que presencia a morte de uma prostituta russa em pleno parto. Como a filha da jovem sobrevive, Anna, descendente de russos, assume o compromisso de traduzir o diário da garota a procura de parentes que possam assumir a guarda da criança. Com a ajuda do tio e de um enigmático dono de restaurante – Armin Mueller-Stahl, ótimo – que é mais do que aparenta ser, Anna acaba no meio de uma trama que pode levar a prisão do chefe local da máfia russa. O filme ainda conta com a participação de Vicent Cassel no papel que ele mais gosta de interpretar, o de bandido com sérios distúrbios sexuais. Cronenberg pode não ter atingido aqui o patamar de excelência do filme anterior, mas prova nunca devemos relegar atenção as produções com sua assinatura.


Além de exímio matador, Mortensen leva jeito com as mulheres.

Também é bom prestar atenção ao novo longa de James Magold, Os indomáveis, refilmagem do faroeste Galante e sanguinário, de 1957. O trabalho com um texto clássico, do qual Magold é profundo admirador, faz com que os rumos da história continuem os mesmos, mas com a vantagem de uma produção obviamente mais requintada, com direito a atores tão dedicados quanto os do original. Christian Bale dá vida a Dan Evans, ex-soldado manco que tornou-se fazendeiro e tenta ganhar a admiração do filho ao aceitar escoltar o criminoso capturado Bem Wade – Russel Crowe, magnífico – até o trem que leva os prisioneiros até a detenção da cidade de Yuma.

Logo percebemos que Wade não se encaixa na imagem que Evans faz de um bandido. Consciente da gravidade de seus crimes, Wade jamais tenta se passar por um bom sujeito, o que não impede que ele tenha bons modos e siga um código de honra em certos pontos mais elaborado do que o cultivado pelos guardas que acompanham Evans na jornada. Logo a dupla conquista nossa simpatia, tendo suas performances ofuscadas somente quando um dos pistoleiros comandados por Wade – vivido por um quase sobrenatural Ben Foster – surge na tela, sempre tentando devolver a liberdade do chefe.


Bale e Crowe estão impecáveis nesta refilmagem de um faroeste clássico.

Em breve prometo escrever sobre outras produções que chamaram minha atenção nestes últimos dias. De cara, faço questão de recomendar o novo filme de Wong Kar-wai, Um beijo roubado, que embora não seja a melhor obra do diretor, é um belo filme e uma das melhores pedidas para o fim de semana. Abraços!