segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Cinema

Ressaca do Oscar


Tão enfático quanto José Wilker...

Desta vez resolvi inovar e postei uma análise em vídeo da 79ª premiação do Oscar. Não deixem de comentar!!!

ERRATA: Babel venceu sim um Oscar. O longa de Iñarritu foi premiado com a estatueta de melhor trilha sonora. Desculpem-me pelo deslize!

sábado, fevereiro 24, 2007

Cinema

Agente duplo


Clint Eastwood dirige japoneses em "Cartas de Iwo Jima"...

Pra mim é difícil falar de Clint Eastwood sem ser parcial. Não chego a considerá-lo um de meus diretores favoritos, mas tenho o velho caubói como um modelo de conduta com relação aos seus projetos. Aos 76 anos de idade, Clint continua firme, emendando um bom lançamento atrás do outro, passando longe dos dois maiores males que podem acometer um artista: a preguiça e o ego.

Com mais de trinta anos de carreira e dois Oscars de melhor diretor, Eastwood poderia facilmente ter sido tomado pela soberba que domina tantos diretores. M. Night Shyamalan, Tim Burton e até Martin Scorsese são exemplos de diretores talentosos que já fizeram filmes com ares de alto-indulgência. Clint, por sua vez, prefere contiuar falando sobre assuntos mais próximos de sua personalidade, utilizando sua habitual narrativa detalhista. O que impressiona é ver que apesar de manter uma fórmula, o diretor não costuma se repetir.

Quanto à preguiça, os últimos trabalhos do diretor são a prova definitiva que ela passa longe de sua rotina. Clint resolveu estrear no gênero da guerra, famoso pela complexidade técnica, mas ele não se deixou intimidar, e resolveu filmar não apenas um filme, mas dois, contando a história da batalha de Iwo Jima sobre as perspectivas dos dois lados envolvidos, americanos (A conquista da honra) e japonês (Cartas de Iwo Jima). O diretor soube contornar a questão de sua nacionalidade e evitou o maniqueísmo habitual de filmes do estilo. O resultado é pra lá de satisfatório.

Isolados, A conquista da honra e Cartas de Iwo Jima são grandes filmes, com uma ligeira vantagem para o segundo, mas juntos, ganham ares de tratado anti-belicista. O primeiro fala sobre a história da famosa foto onde soldados americanos içam sua bandeira no alto do monte Iwo Jima, registro que ajudou a mudar o curso da guerra. Naqueles tempos os EUA estavam praticamente sem recursos para manter a gigantesca iniciativa de guerra, e a população do país já estava farta do combate. Graças a essa foto, estampada na capa de todos os jornais americanos, os estadudinenses foram tomados pelo patriotismo, e passaram a enxergar um sentido na batalha.

O governo percebe neste novo sentimento uma oportunidade para conseguir fundos para continuar com força total na investida contra o Japão. Um gigantesco esquema de publicidade é montado em cima do evento, distorcendo fatos em nome de uma versão mais emblemática para o público. Os sobreviventes presentes na foto são convocados de volta aos EUA para servirem de garotos propaganda para venda de títulos para a guerra.

Cartas de Iwo Jima se concentra na preparação das tropas japonesas para se defender do iminente ataque americano. Conscientes da grande desvantagem numérica, a maioria dos soldados vê o combate como uma forma de morrer honrosamente. Não é o caso do general Tadamichi Kuribayashi (Ken Watanabe), comandante das tropas. Ele acredita que suas tropas devem empregar todas as forças para segurar o inimigo pelo maior período possível, possibilitando que o restante do Japão tenha tempo para se reestruturar para as próximas batalhas. O conflito de ideologias dá o tom do filme, auxiliado pela dinâmica do relacionamento dos soldados, e do assombro dos mesmos diante de uma inevitável morte.

Aliás, analisar o comportamento humano sempre foi um dos fortes do diretor. Ambos os filmes contam com diversas cenas de combate impactantes, mas elas são apenas pano de fundo para a preocupação maior de Clint, analisar a mente dos soldados, vítimas de combates irracionais criados por burocratas engravatados, que na grande maioria das vezes, fica muito longe dos campos de batalha. Uma triste realidade que perdura até os dias de hoje. Basta olhar o esforço dos governantes para acobertar as mentiras por trás da histórica foto do primeiro filme. Qualquer semelhança com o governo Bush e sua “Guerra contra o terror” não é mera coincidência.

Vale destacar também a bela fotografia, extremamente dessaturada, deixando ambos os longas próximos do preto e branco, e da direção coesa de Eastwood, que só pecou pela grande quantidade de flashbacks em A conquista da honra (que comprometem o ritmo da produção). Ironicamente, torço para que Clint perca o Oscar nesse domingo. A noite é de Martin Scorsese. Eastwood certamente não se importará, não porque ele já ter duas estatuetas, mas pela certeza de que se continuar mantendo a postura que tanto admiro, ele ainda concorrerá para muitos outros.


... e americanos em "A conquista da honra".

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Cinema

Último assalto


Stallone aos sessenta anos. Alguém duvida que ele é o mais forte?

A arte imita a vida, e a máxima também vale para Sylvester Stallone. A trajetória do ator-diretor-roteirista-produtor se confunde com a de sua criação suprema, o boxeador Rocky Balboa. Ambos iniciaram carreiras desacreditados. Lutaram para se afirmar no show bizz, enfrentando, respectivamente, bordoadas de críticos e pugilistas. Provaram que o sucesso pode ser alcançado através de muita luta e dedicação.

Rocky - Um lutador (1976) personificava com perfeição o ideal do sonho americano. A identificação do público foi imediata. Um cara humilde, americano típico, que vencia na vida graças ao esforço e persistência com que ele perseguia seus ideais. O filme se tornou um sucesso de público e crítica, faturando até o Oscar de melhor filme em 1977, elevando Stallone, antigo ator de filmes pornográficos ao status de estrela de primeira grandeza.

Os anos que se sucederam à premiação reservaram bons frutos para a dupla. Enquanto as continuações do filme do boxeador mostravam o caminho de Rocky até o topo dos ringues, “Sly” se firmava como o grande nome dos filmes de ação dos anos 80 (ao lado de Arnold Schwarzenegger). Criador e criatura desfrutavam agora de fama, dinheiro e respeito.

A esta altura, Stallone já admitia que havia se inspirado em sua própria vida para dar luz às aventuras de Rocky. Ele só não poderia imaginar que o processo contrário pudesse acontecer quando decidiu dar mexida na fórmula. Rocky V (1990), mostrava o declínio do boxeador em um filme sofrível, que acabou tragando Stallone para o mesmo limbo que ele havia reservado para sua contraparte pugislista.

Foram anos sofríveis para a carreira do ator, que amargou um fracasso atrás do outro. Apenas um bom filme (Cop Land, 1997) e nenhum sucesso comercial. Prestes a ser relegado ao esquecimento, restou a “Sly” acenar um retorno de franquia Rocky. Porém, perto dos sessenta anos, ele não foi levado a sério.

Inicialmente, o roteiro seguiria de perto os passos do ex-pugilista George Foreman, campeão dos pesados aos cinqüenta anos de idade, após um bem sucedido regresso da aposentadoria. Foram anos tentando adequar o texto, que nunca conseguia agradar ao próprio autor. “Ele não parecia sincero”.

Era óbvia a resposta: faltava a vertente humana que Stallone sempre foi buscar em sua própria vida. A história deles se cruzava novamente, no exato ponto onde tudo começou. Desacreditados, Rocky e “Sly” poderiam partir para um round final para suas carreiras, sem vergonha de se fundirem em busca de redenção.

Rocky Balboa se torna um filme forte graças a este almágama. O discurso do pugilista, até certo ponto clichê, é tão sincero que e é capaz de comover até os mais desconfiados. Nesta última jornada, Rocky decide voltar a lutar para apagar a sombra do passado vitorioso, esquecer a dor da perda da esposa e reaproximar-se do filho. Stallone luta para recuperar o respeito perdido.

“Sly” demonstra habilidade e sensibilidade para encerrar a trajetória vencedora de Rocky. Como a carreira do artista irá continuar, nada melhor do que voltar as atenções para o resgate de outra franquia de sucesso. Rambo volta às telas em 2008, mas é uma pena que este último não tenha tanto em comum com seu criador.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Cinema

Apocalypto Now!!


Mel Gibson na direção: sinônimo de línguas exóticas e muita violência

De uns anos pra cá, muitos foram os críticos que exultaram a originalidade do cinema oriental. Não faltaram adjetivos para enaltecer as exóticas estruturas narrativas de longas como O tigre e o Dragão ou OldBoy, filmes que também ganharam o aval do público ocidental. Mas todo este frenesi acaba gerando a pergunta: o que difere aquele cinema do nosso? Seriam as experiências que estes povos vivenciam e, consequentemente, retratam em película, tão diferentes das nossas? Teriam eles realmente desenvolvido uma maneira diferente de contar histórias? Ambas as possibilidades?

Apocalypto, novo filme de Mel Gibson, pode até não abordar temas sobre a civilização oriental, mas ajuda a esclarecer a questão. O filme conta a história de Pata de Jaguar, índio pertencente a uma tribo de caçadores da América Central, que acaba sendo capturada por uma tribo maia para serem sacrificados como oferenda aos deuses, para que este providencie colheitas melhores. Durante a batalha, nosso herói consegue esconder a esposa grávida e o filho pequeno, mas acaba preso nas mãos dos agressores.

O que se vê em seguida é o mais típico filme de ação Hollywoodiano, quando Pata de Jaguar consegue escapar e passa a ser perseguido pelos seus raptores enquanto procura o esconderijo da mulher amada. Tudo acontece de forma frenética, não dando muitas oportunidades para o espectador respirar. Mesmo assim, Apocalypto é certamente um filme único, que exala frescor em sua narrativa. Mel Gibson não se preocupou em se ater aos aspectos históricos, tomando diversas liberdades criativas. Apesar disto, o longa se mostra extremamente verossímil, em boa parte por ser todo falado em iucateque, antigo dialeto maia, o que revela uma certa paixão de Gibson por línguas extintas (como visto em A paixão de Cristo, falado em aramaico) e muita coragem para realizar projetos que, não fossem a persistência e teimosia do diretor, jamais sairiam do papel.

Mas mesmo que Apocalypo fosse falado em inglês, ele ainda despontaria como uma produção atípica. Seus protagonistas não são interpretados por atores famosos e suas feições nem de longe remontam ao padrão europeizado de beleza. Rostos de pele vermelha, marcados por adereços e tatuagens, são uma atração à parte. Não deixa de ser reconfortante assistir a um longa que se dedica a apresentar um padrão de beleza tão comumente menosprezado.

A ação também ganha um contexto totalmente novo. Apesar da perseguição praticamente não possuir diálogos e transcorrer de maneira semelhante a maioria das outras perseguições já realizadas no cinema, a fuga de Pata de Jaguar se destoa das demais simplesmente porque abdica das usuais metralhadoras e rifles, para fazer uso de armar indígenas como zarabatanas, lanças e arco e flecha. Alguns utilizados de forma extremamente criativa, cativando o público.

O último diferencial que merece ser citado tem mais a ver com o fato deste filme ser dirigido por Mel Gibson do que pela abordagem da civilização maia. Novamente o diretor abusa da violência. Em nenhum momento Gibson faz concessões e nos poupa de observar degolações. crânios serem esmagados, corações arrancados, além de torturas diversas. A brutalidade também ajuda a tornar crível todo aquele ambiente. Infelizmente, o mundo real trata de nos mostrar diariamente que os seres humanos são capazes das mais diversas barbaridades.

Estou quase terminando o texto, e o leitor mais atento deve estar se remexendo na cadeira: “Ué Luis! Como este filme pode ajudar a entender a nossa fascinação pelos filmes orientais?” Apocalypto segue a estrutura habitual das histórias ocidentais, mas acaba sendo único pela pouca exposição que temas sobre a civilização maia têm em nosso dia-a-dia. Só conseguimos nos identificar com esta história porque os conceitos de família, liberdade e agressão presentes na mesma são universais na cultura humana. Portanto, se somos capazes de nos identificar com histórias de culturas tão distintas, é porque o gênero humano ainda é muito parecido. Diferentes civilizações apenas escolhem maneiras distintas de representar as mesmas idéias. Resumindo: só achamos os orientais originais porque nunca tínhamos reparado neles antes!!