quarta-feira, outubro 25, 2006

Cultura

Como uma pedra rolando


Capas da Rolling Stone: estilo exaustivamente copiado em todo o mundo

Ávido freqüentador de bancas de revistas que sou – não passo um dia se quer sem visitar ao menos duas – observo com entusiasmo o grande aumento de publicações relativas à cultura pop nos últimos anos. Cinema, música, quadrinhos, seriados de TV e derivados nunca tiveram tanto espaço na mídia.

Apaixonado por todos estes temas, me vejo todo mês na ingrata tarefa de selecionar o que devo ou não levar para a casa. Com uma oferta tão vasta e pouco dinheiro na carteira, sou obrigado a folhear diversos títulos atrás daquele que apresente melhor relação custo-benefício. Algumas revistas já se tornaram praticamente obrigatórias, mas sempre pinta alguma surpresa. Neste mês de outubro ela atende pelo nome Rolling Stone.

Originária dos EUA, berço da esmagadora maioria da produção pop mundial, a Rolling Stone foi criada na década de sessenta, auge da contracultura. Nasceu para disseminar os ideais contestadores daquela geração. Seu jornalismo original, transgressor e de grande consciência política garantiram à publicação um lugar de destaque naqueles anos de revolução da arte. Os anos dourados chegaram ao fim e a revista seguiu em frente, tornando-se um verdadeiro ícone do universo que ela mesmo cobria.

Com todo este sucesso e importância na bagagem, sempre estranhei o fato da Rolling Stone não ter aportado pelas terras tupiniquins há mais tempo – não sabia que já houveram algumas experiências frustradas. Ora, uma revista que aborda todos os temas citados no início do texto e prima por reportagens aprofundadas e opinativas certamente teria seu espaço. Principalmente em um mercado repleto de publicações que parecem não fazer mais do que publicar releases das gravadoras e distribuidoras.


Capa da primeira edição


Número 1
A primeira edição estampa Gisele Bündchen na capa, “a maior pop star brasileira”, cparafraseando a revista. Isto revela que a edição nacional está preocupada em ser vista como um produto legitimamente nacional – mesmo que Gisele seja um ícone do Brasil com “Z”. A matéria de capa, de Ademir Correa, é bem escrita, mas não consegue fugir do lugar comum que são as entrevistas com a supermodelo.

Se destacam mesmo as matérias de menos destaque, como a entrevista com “Anel”, advogado do PCC; a reportagem que traça o perfil de Mariana Ximenes (na minha opinião, a atriz mais talentosa da nova geração); um panorama a produção cultural do Acre e a entrevista com o ator Jack Nicholson. Também se destacam as ótimas análises sobre os principais lançamentos no mundo da música, cinema e literatura. O legal é que apesar de ser um veículo extremamente comercial, a revista consegue dar grande espaço para produções independentes (indies).

Outro ponto forte, principalmente para quem gosta de quantidade, é o próprio tamanho da revista (138 páginas de 36x30 cm). Diagramada em quatro colunas por página e utilizando fonte Times New Roman tamanho 10, a revista é um verdadeiro oceano de informação. Se uma revista como a SET, com 82 páginas, pode ser “devorada” facilmente em apenas uma tarde, a Rolling Stone exigirá pelo menos o triplo de tempo para ser “absorvida”.

Em suma, uma ótima pedida para quem quer se manter antenado no mundo da música e cultura pop em geral. Espero apenas que a revista corrija alguns deslizes para sua próxima edição. Se a revista quer realmente ter uma imagem de produto feito no Brasil deve corrigir detalhes como o excesso de expressões estrangeiras. Se o motivo era tentar ser mais "cool", posso dizer que não ficou, de fato, "legal".

Mas a Internet é uma inimiga?
Este aumento de publicações que percebo nas andanças por bancas de revistas me deixa, no mínimo, curioso. Vivemos na era da Internet, a enciclopédia-mor da linguagem pop, e tenho certeza de que o grande público visado por estas publicações já está inserido neste contexto virtual. Então por que as pessoas passaram a procurar mais informações sobre algo que elas poderiam encontrar na rede facilmente?

É certo que a maioria destas novas publicações mal chegam a um ano de vida, fruto do mau planejamento que assola todos os campos de negócios em nosso país. Mas para cada uma que desaparece, outras duas dão as caras.

Isto deve provar definitivamente que a Internet e sua linguagem de hiperlinks são um estímulo para pessoas procurarem cada vez mais informação sobre o que lhes interessa. A rede pode até ser inimiga de algumas publicações, mas usada corretamente, se configura em uma grande isca para leitores em potencial.

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