sábado, julho 15, 2006

Cinema

Retorno triunfal


O homem pode voar!!

“Por que o mundo precisa do Superman?”. A pergunta é o tema central de Superman: o Retorno, filme que marca a volta do maior de todos os super-heróis as salas de projeção após um hiato de 19 anos. No filme, a questão é levantada em uma matéria escrita pela repórter Lois Lane (Kate Bosworth), após o homem de aço ter mais uma vez salvo o mundo de sua destruição iminente. O problema é que tudo isto acontece durante o retorno do herói a Terra, depois de uma ausência de cinco anos, período em que a sociedade se viu obrigada a caminhar sem a proteção de seu salvador.

Este sumiço obrigou a própria Lois Lane a seguir em frente sem seu amado protetor. Agora ela constituiu família e se tornou mãe e está prestes a ser premiada com o Pulitzer (o Oscar do jornalismo) por um artigo onde ela explica porque o mundo não precisa mais do Superman. Tantas mudanças pegaram o herói de surpresa, e configuram no maior desafio que ele poderia enfrentar: capaz de lhe dar facilmente com qualquer tipo de ameaça, o Superman não sabe o que fazer para recuperar o amor de Lois, algo que está além do controle de suas extraordinárias habilidades.

Superman: O retorno é portanto muito mais um romance do que um filme de ação propriamente dito. É claro que as seqüências de ação estão lá, repletas de efeitos especiais de primeiríssima qualidade, capazes de nos fazer crer que o homem realmente pode voar. A maioria destes momentos de aventura são ocasionados pelos confrontos com o arquiinimigo Lex Luthor (Kevin Spacey, dono dos melhores momentos do filme), que acaba de bolar mais um plano para se tornar o “senhor do mundo”. Mas tirando um ou outro problema relacionado à Kryptonita, estas ameaças não chegam aos pés das dificuldades encontradas na conturbada relação amorosa com Lois, o que transforma o herói com características divinas em um ser mais humanizado.


O que nos leva a relação entre Lois e Clark. No filme fica bem claro que os dois são apenas amigos, e que uma mulher como Lois jamais irá nutrir qualquer tipo de sentimento diferente por um tipo tão atrapalhado quanto Kent. Ela ama o Superman, algo capaz de tentar o herói a revelar o segredo escondido pelos óculos e trejeitos de seu alter-ego. Aliás, ponto para Brandon Routh pela interpretação de Kent, que mesmo sem ser tão brilhante quanto a de Christopher Reeve nos longas originais, consegue convencer de que aquele cara tão atrapalhado não pode mesmo ser o maior super-herói da Terra.

Mas voltemos a pergunta suscitada por Lois: “Por que o mundo precisa do Superman?”. A questão caiu no gosto dos críticos, que não sabem porque resolveram fazer outro filme de um herói tão deslocado do atual contexto da sociedade, principalmente quando ele é obrigado a competir com tipos modernos e problemáticos como Wolverine e Batman. Não faltaria um "algo mais" ao Superman? A questão não passou despercebida pelo diretor Bryan Singer, que responde a charada durante um belo diálogo em pleno céu entre Superman e Lois, onde o herói dispara:

- Você disse que o mundo não precisa de um salvador. Mas aqui de cima posso escutar a todo momento diversas pessoas implorando para serem salvas.

E aí reside o fascínio no Superman, um herói altruísta comprometido com os valores de um sociedade justa e honesta, que já transcendeu o modelo americano, sendo amado como um símbolo todo o mundo. Tudo bem que vivemos tempos sombrios, mas me impressiono ao constatar que geralmente as mesmas pessoas que dizem não conseguir entender o fascínio em torno de um herói tão “certinho” são aquelas que lamentam a perda de valores que a sociedade vem enfrentando. Todos nós gostaríamos que o mundo tivesse realmente um salvador. Quando somos crianças sonhamos em ter os poderes dos super-heróis para enfrentar as adversidades, mas, com o tempo, crescemos e descobrimos que este sonho não se tornará realidade. Desiludidos, passamos a desdenhar este ideal para nos preocuparmos com coisas “mais importantes”.

O plano de Luthor (que não vou revelar para não estragar surpresas), de fato, parece extremamente ingênuo quando nos deparamos com as últimas notícias oriundas do Congresso. Aí reside o ponto fraco do filme, já que o grande mérito seria um embate entre este “mundo sombrio” no qual vivemos, representado por Luthor, confrontando o mundo ideal, representado pelo Superman. Com tantos vilões presentes em nosso dia-a-dia até podemos crer no modelo de herói que o Superman representa, mas o mesmo não ocorre com o vilão que Luthor é.

Mesmo assim o saldo final é extremamente positivo, pois o filme cumpre perfeitamente o seu propósito: é uma bela história de retorno, onde somos reapresentados a um universo que já conhecemos, um clima nostálgico na melhor acepção da palavra. As arestas estão amarradas para seqüências, e estas sim, devem trazer um novo tempero para as histórias do azulão.

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