sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Cinema

Jovialidade contagiante


Ellen Page conquista o mundo como uma simpática grávida adolescente

Ah, a adolescência! Basta envelhecermos um pouquinho para passarmos a maldizer as gerações atuais. Quantas vezes estive entre amigos reclamando da superficialidade dos ídolos teens, da onda de consumismo aparentemente irrefreável que assola os mais jovens ou da preocupação quase que exclusiva deles para com os temas mais fúteis possíveis. Procurava entender porque as novas gerações insistiam em avalizar porcarias como as terríveis besteiras protagonizadas por gente como Rob Schneider ou os irmãos Wayans. E olha que eu nem sou tão velho assim!!! Tenho só vinte três anos, e sob a ótica de alguns analistas atuais, ainda posso ser chamado de adolescente.

Mas eis que surge no horizonte uma produção chamada Juno, comédia sobre adolescentes voltada para os adolescentes e que, surpresa, não os trata como idiotas. Talvez isso se deva a postura da roteirista revelação Diablo Cody, que parece realmente conheçer o público alvo, ao contrário de tantos executivos que costumam abdicar do cérebro, utilizando os bolsos para pensar. Melhor ainda é saber que o filme é um sucesso arrebatador em todos os lugares que passa, provando que ainda existe muito jovem a fim de utilizar os neurônios, o que destrói meus argumentos iniciais.

Juno, personagem que dá nome à produção, é um bom exemplo desta leva. Com apenas dezesseis anos, a garota interpretada por uma surpreendente Ellen Page encara a vida com maturidade e franqueza raras até em pessoas muito mais velhas. Despojada e espontânea, Juno não economiza em tiradas ácidas, sempre muito segura de suas decisões. A única coisa que falta à garota é um pouco de experiência. Caso ela a tivesse, provavelmente não teria engravidado logo em sua primeira transa.


Um casal; uma gravidez indesejada: fórmula batida; roteiro primoroso

E é esta gravidez indesejada, roteiro já trivial no cotidiano adolescente, que move uma das produções mais encantadoras dos últimos anos. Ancorada em ótimos personagens, todos bem construídos, Juno narra as reações da personagem título diante da “incômoda” situação. Sempre independente e decidida, Juno nem cogita entregar parte da responsabilidade para o pai da criança, Paul Bleeker (Michael Cera), o nerd apaixonado pela personalidade única da garota. Após ter desistido de optar pela “alternativa” mais fácil (um aborto), Juno comunica a gravidez aos pais, e explica que entregará o menino para um casal que ela encontrou nos classificados.

Bonito e bem sucedido, o casal formado por Mark (Jason Baterman) e Vanessa (Jennifer Garner) chama a atenção da garota, que procurou selecionar os melhores partidos para o rebento. Logo ela descobre que os dois são muito diferentes entre si, e que Mark, do alto de seus trinta e poucos anos, é muito mais “adolescente inseguro” do que ela própria. As reviravoltas que sucedem a descoberta descambam para um final que, embora feliz, é demasiadamente inusitado.

A direção precisa de Jason Reitman (Obrigado por fumar) e o texto afiado de Diablo Cody casam perfeitamente. Reitman embala seu produto com o típico visual indie pós Wes Anderson, e de quebra seleciona uma das trilhas sonoras mais inspiradas dos últimos anos. Com um orçamento estimado em pouco mais de dez milhões de reais, Juno é uma produção modesta para o padrão hollywoodiano, e seu sucesso prova mais uma vez que um bom texto, um diretor criativo e atores dedicados podem render dividendos maiores do que entupir filmes com efeitos especiais descerebrados. Juno é um alento para quem anda decepcionado com algumas atitudes da juventude, sendo a prova de que é melhor termos boa vontade com os adolescentes, afinal de contas, talvez sejamos nós que estamos ficando ranzinzas como nossos pais com o passar dos anos...

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