sábado, dezembro 01, 2007

Cinema

A velha mania de comparar


Tropa de elite teria condições de trazer o Oscar?

Vez ou outra, notamos semelhanças entre o cinema nacional e o futebol tupiniquim. Ambos ressaltam o temperamento brejeiro e festivo dos brasileiros, garimpam talentos em meio à vida dura nas favelas e estão sempre a procura de um novo fenômeno para garantir uns trocados a mais. A última “bola da vez” no campo do cinema é o onipresente Tropa de elite, sucesso nas telonas e camelôs.

Tropa de elite já foi analisado e discutido à exaustão. Todos os aspectos do longa parecem ter sido esgotados por inúmeras discussões suscitadas pelas mais diversas variantes do público, desde os cinéfilos acadêmicos até os adeptos da pirataria, passando pela lente global de Luciano Huck. Prefiro, portanto, ater-me a comparação do longa com o universo futebolístico, estratégia que rende magníficos dividendos políticos para nosso Presidente da República.

Assim como um grande time, que joga de forma vistosa para encher os olhos da torcida, Tropa de elite preocupa-se em mostrar na telona o que boa parte da população brasileira anseia ver: criminosos sendo exterminados. Mesmo sem analisar o mérito da questão, é impossível negar que o longa é na verdade um grande show, tal qual aqueles oferecidos pelos craques dos gramados, e por isso, angaria uma torcida pra lá de entusiasmada.

Estes querem o Oscar, um dos raros “canecos” que nenhum brasileiro teve o privilégio de erguer. O problema é que a Tropa liderada pelo Capitão Nascimento sequer entrará em campo para a disputa, pois o filme acabou preterido em relação ao longa O ano em que meus pais saíram de férias, do diretor Cao Hamburguer.

A torcida pode até chiar, mas a verdade é que a possibilidade de que Tropa de elite levasse a estatueta era tão grande quanto a de que Romário volte a seleção para a Copa de 2014. Embora seja um grande filme, Tropa de elite não possui o viés artístico necessário para encantar os jurados da Academia. A coisa piora se lembrarmos que superproduções com o pé fincado na análise social não são nenhuma novidade em Hollywood.


Policiais, bandidos e armas...
Confronto tão apoteótico quanto uma final de campeonato.


Mas os fãs seguem inconformados, em boa parte devido às inevitáveis comparações com Cidade de Deus, este sim inegável injustiçado pela Academia. As semelhanças residem na temática da violência urbana no Rio de Janeiro, mas caso nossas superproduções estivessem disputando entre si as inúmeras categorias do Oscar, Cidade de Deus certamente venceria com folga. Tropa de Elite teria de contentar-se com uma estatueta para Fernanda Machado como melhor atriz coadjuvante e um merecido prêmio para Wagner Moura como melhor ator, afinal, ele é o dono do filme.

Antes que o séquito de fãs do longa amaldiçoe minha existência, reitero minha opinião esclarecendo que considero Tropa de elite um ótimo filme. O problema é que Cidade de Deus é uma obra-prima, do nível da inesquecível seleção de 1982. Infelizmente, por alguns caprichos do destino, a qualidade de ambos não foi suficiente para que conquistassem os respectivos títulos.

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