sexta-feira, dezembro 21, 2007

Cinema

Sem medo de ser "trash"

Rose McGowan alimenta o fetiche dos fanáticos por armas de fogo

Quentin Tarantino e Robert Rodriguez podem até não ser unanimidade em Hollywood, mas poucos contestam que a dupla seja responsável pelas maiores revoluções no formato do cinema norte-americano atual. Agora, os dois voltam a somar forças. Desta vez eles não tentam criar novos parâmetros para a indústria, apenas resgatar do limbo um estilo que fervilhava nas salas ianques durante as décadas de 60 e 70. Eram as grindhouses, sessões duplas do que de melhor – ou seria pior? – existia no cinema B do Estados Unidos.

Como a fórmula nunca pegou fora da terra do Tio Sam, o projeto intitulado Grindhouse chegou dividido às telonas brasileiras. Rodriguez responde por Planeta Terror, segmento que homenageia filmes de zumbis clássicos, em especial os criados por George Romero. Tarantino manda ver com À prova de morte, fita que remete aos tradicionais thrillers estrelados por carros assassinos.

Apesar de terem grande afinidade estética – ao ponto desta ser a quinta vez em que trabalham juntos – Rodriguez e Tarantino possuem estilos bem peculiares de direção, o que torna as duas metades de Grindhouse bastante diferentes entre si. Rodriguez mostra-se dono de uma veia mais mainstrem, e Planeta Terror, apesar de proposto como uma homenagem ao estilo trash, possui uma das produções mais bem acabadas do ano, que deve cair no gosto da molecada. Os efeitos especiais são de primeira, verdadeiro deleite para fãs do estilo gore, ou seja, não falta sangue e vísceras. Apesar disso, o filme não se propõe a provocar sustos no espectador, preferindo ficar no tom da paródia, seja através do nojo provocado pelas inumeráveis mortes bizarras, ou pela profusão de personagens esdrúxulos que dominam a telona. Destaque para o perito em armas El Wray (Freddy Rodríguez), a enfermeira Dakota Block (Marley Shelton) e seus problemas conjugais e, principalmente, para Cherry Darling (Rose McGowan), dançarina exótica que ganha uma metralhadora no lugar da perna.

À prova de morte soa como uma real tentativa de revisionismo do estilo grindhouse. Sem dúvida ele está muito mais próximo do clima daqueles filmes antigos, que ficaram famosos no Brasil durante as antigas sessões do Cine Trash da Rede Bandeirantes. O problema é que aqueles que se empolgarem com a ação frenética presente no filme de Rodriguez podem acabar entediados com a lentidão do filme de Tarantino, quase todo composto por diálogos, filmados em pouquíssimos ambientes. A boa notícia é que o diretor responsável por Pulp Fiction ainda constrói alguns momentos geniais, e apesar de À prova de morte ser provavelmente seu pior filme, não deixa de estar em um patamar superior ao da maioria dos longas exibidos neste ano. As interpretações inspiradas de Kurt Russel – como Stuntman Mike, dublê maníaco que usa o próprio carro como ferramenta de execuções – e do grande elenco feminino, que serve ora como vítima, ora como flerte para o vilão motorizado, contribuem para a força do projeto.

Após assistir aos dois longas confesso ter ficado surpreso por gostar mais da fita dirigida por Rodriguez. Tarantino sempre foi um de meus diretores preferidos, mas após o excelente Kill Bill, ele deve ter ficado com o ego nas alturas, a ponto de parecer pouco empenhado em seu projeto mais recente.

Ah! Vale destacar os ótimos trailers falsos que permeiam os dois longas, com destaque para o hilário Don’t – do diretor Edgar Wright, de Todo mundo quase morto – e para Machete, do próprio Rodriguez, ao melhor estilo diversão descompromissada do diretor mexicano. A brincadeira fez tanto sucesso que Rodriguez já almeja fazer um filme de verdade para seu trailer falso. Fico na torcida!

Fale a verdade: você teria coragem de pedir carona para este sujeito?

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