domingo, março 11, 2007

Cinema

Motoqueiro sem rumo


Motoqueiro Fantasma se salva graças aos bons efeitos visuais.

Os primeiros resultados das bilheterias americanas em 2007 comprovam: os quadrinhos tomaram Hollywood de assalto e parecem ter vindo para ficar. As duas melhores estréias do ano até agora pertencem exatamente as duas adaptações da nona arte, Motoqueiro Fantasma e 300. Com tantos personagens disponíveis em um número quase igual de editoras até o analista mais pessimista deve concordar que esta é uma fonte que ainda vai demorar a secar.

A Marvel, maior editora de quadrinhos dos EUA, desponta, naturalmente, como a mais importante fonte de material para o gênero. Após o sucesso gigantesco dos grandes carros chefes da empresa (X-MEN, Homem-Aranha e Quarteto Fantástico) os produtores americanos perceberam que a simples inserção de da logomarca “Marvel” no início de uma produção cinematográfico significa retorno certo, além de uma quase infalível probabilidade de grandes lucros.

Ávidos para explorarem esta mina de ouro, empresários do setor passaram a olhar com bons olhos para personagens de segundo escalão da editora. Um dos primeiros a enxergar potencial nesses personagens menos populares foi o diretor publicitário Mark Steven Johnson, que fez o seu debut no cinema ao levar as aventuras do herói cego Demolidor para as telonas. O filme obteve um razoável sucesso nas bilheterias, mas foi mal visto pela grande maioria dos fãs do herói, considerado dono de algumas das mais memoráveis mitologias da editora.

O sucesso de Demolidor abriu as portas para que o diretor/produtor trabalhasse em uma continuação, agora focada na ninja Elektra, ex-namorada do herói. Desta vez Steven Johnson não conseguiu um retorno financeiro tão positivo, apenas equilibrando os ganhos ao custo da produção. Mas o pior foi a reação de ódio dos fãs ao filme, graças ao direcionamento adolescente que a película recebeu, contrastando com a origem profundamente violenta da personagem.

Steven Johnson deu um jeito de se esquivar das críticas. Culpou a FOX, empresa parceira da Marvel em ambos os projetos, alegando que o estúdio foi responsável pelas mudanças, objetivando aumentar os lucros. Para atestar esta teoria o diretor lançou uma versão do diretor de Demolidor com meia hora a mais projeção, que não chegam a salvar o longa, mas inegavelmente, melhoram o resultado final.

Em paz com os fãs, Johnson aproveitou o crédito obtido com o sucesso de Demolidor - versão do diretor para obter carta branca da Marvel e mexer com mais um herói de menor status da editora. O escolhido da vez foi o Motoqueiro Fantasma, um herói mais conhecido pelo visual heavy metal impactante do que pela qualidade de suas histórias.

E é aí que reside o problema. Ao adaptar Demolidor e Elektra Johnson teve a sua disposição um enorme acervo de ótimas histórias e, mesmo assim, não obteve um resultado satisfatório. Já para Motoqueiro Fantasma, personagem marcado por aventuras irregulares, o quadro era muito menos animador.

A história não sofreu grandes alterações desta vez, mas são necessários poços minutos de projeção para descobrir que a decepção anunciada tinha fundamento. Calcado em uma mitologia permeada por demônios e criaturas bizarras, chega a ser constrangedor constatar que os vilões do longa são incapazes de provocar um único arrepio durante toda a projeção. Certamente eles se borrariam de medo caso fossem enclausurados por poucos minutos em qualquer penitenciária brasileira.

Apesar de tantas falhas, o longa não chega a ser um desastre completo. Merece destaque a atuação de Nicolas Cage como Johnny Blaze/Motoqueiro Fantasma, que após inúmeras tentativas, finalmente consegue realizar o sonho de interpretar um herói dos quadrinhos. Sua postura canastrona (até certo ponto blasé) conferem um certo charme ao personagem e garantem duas ou três risadas. Sam Elliot e outro que garante bons momentos na pele de um cowboy fantasma, antigo detentor do manto do Motoqueiro; e Peter Fonda, como Mefisto, demônio que engana Blaze e o faz assinar o contrato que o transforma no anti-herói flamejante.

Mas quem rouba a cena mesmo é Eva Mendes, vivendo a jornalista Roxxane Simpson, a mocinha “boazuda” da vez. Um papel extremamente vazio, que não deixa espaços para vôos dramáticos maiores do que aparecer com um generoso decote a cada dois minutos. Mesmo assim, a moça cumpre o papel com perfeição, arrancando suspiros da platéia masculina a cada aparição, o que eleva o nível de testosterona no recinto a patamares geralmente reservados a filmes destinados a maiores de idade. Uma pena que tal “performance” seria muito mais apreciada em alguma revista masculina. Mas pior mesmo é pensar que Motoqueiro Fantasma pode ter uma continuação devido ao bom desempenho financeiro. Ou talvez pensar que Mark Steven Johnson pode continuar adaptando super-heróis... Isso sim é assustador.

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com você Luis. Eva Mendes é mesmo o único bom motivo para assitir ao Motoqueiro Fantasma. Espero que a Marvel não continue insistindo com o Mark Steven Johnson. O pior é que a DC está negociando com o cara para levar Preacher para as telas de TV. Tenho medo...

Tiago disse...

Cara... uma bosta, com o perdão da palavra. Só a Eva Mendes de bom mesmo!