segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Cinema

Ser ou não ser você mesmo?


Randy "The Ram"? Mickey Rourke? Discussão vazia? Você escolhe...

O lugar comum em que caem boa parte das críticas sobre O lutador soa como campanha contra a eventual vitória de Mickey Rourke na cerimônia do Oscar. Posto que é impossível negar que o ator esteja perfeito no novo filme de Darren Aronofsky, os detratores trataram de adotar uma tática diferente: relativizar. Para esses, a atuação de Rourke nem mesmo assim deveria ser classificada. O ator não estaria sequer representando um personagem, mas tão somente sendo ele mesmo.

Ora, como se conseguir mostrar-se de forma transparente diante das câmeras já não fosse um esforço soberbo de interpretação (que o diga Eduardo Coutinho!). Quem nunca se intimidou diante das câmeras? Quem nunca posou como alguém diferente, tentando se passar por uma figura mais interessante? Quem se comporta de maneira absolutamente idêntica em todos os círculos de convivência social? Pois bem, estamos sempre encenando o nosso próprio “papel” de forma diferente. Somos a soma dos personagens que criamos para nós mesmos. Como condenar Rourke por sua autenticidade e perfeita unidade no papel do
wrestler Randy “the Ram”?

As trajetórias de ator e personagem são, de fato, parecidas. Ambos estiveram no auge de suas carreiras no final dos anos 80, mas na década seguinte, por circunstâncias diferentes, acabaram condenados ao limbo do esquecimento. Passaram anos lutando em pequenas arenas – Rourke largou os pequenos papéis para se dedicar a uma carreira no boxe, o que fermenta ainda mais as comparações. Agora, tentam se auto-afirmarem e reconstituírem a parte da vida que ficou perdida durante os anos mais amargos.

Se é mais fácil interpretar a si mesmo em frente às câmeras, não sei dizer. Talvez a resposta varie caso a caso. E aí reside minha bronca com quem tenta diminuir o trabalho de Rourke. Boa parte das opiniões parecem carregadas com certo preconceito. Dois pesos, duas medidas.

Rourke não pertence ao primeiro escalão (ainda). Passou anos no ostracismo e teve poucos papéis que realmente mereçam elogios. É fácil criticá-lo. O mesmo não acontece com Jack Nicholson, por exemplo. Sua caracterização do Coringa para
Batman sempre foi coberta de elogios. “Apagou até o Batman!”, dizem os mais exaltados. Porém, uma olhadinha mais cuidadosa nas entrevistas de Nicholson, no comportamento deste longe das câmeras ou em documentários em cujo ator seja objeto de observação nos mostra uma figura bem parecida com a vista no filme de Tim Burton. Mas como criticar Nicholson, um verdadeiro “monstro” do cinema, quase uma unanimidade? Ou talvez seja eu que esteja sendo chato, incapaz de perceber que a maquiagem carregada seja capaz de tornar certos comportamentos tão distintos de outros.

4 comentários:

Tiago disse...

Nein sabia que tinha gente menosprezando o trabalho do ator por que o personagem é parecido com ele. Provavelmente é comentário de leigos, que tem o cinema como hobby, e não como estudo. E que adoram fazer comentários desse tipo para parecerem mais espertos... tô certo??? IAhIAUhIAuhIAUh...

André Renato disse...

Um conceito muito corrente por aí é o de que atuar para cinema é diferente de atuar para teatro. O bom ator de cinema seria mais um cara que interpretasse o seu próprio tipo (como Nicholson ou Tom Cruise), ao invés de "viver" e encarnar outra pessoa...

Anônimo disse...

Como já comentei por aí, "O Lutador" é o primeiro grande filme do ano e talvez o melhor trabalho do Aronofsky até hoje. E concordo quanto ao Rourke!

Denis Torres disse...

Luís Felipe, concordo com seus comentários que Slumdog Millionaire funciona muito bem até a sua metade. Principalmente a parte infantil, que encanta mesmo. Slumdog pra mim é filme de momento devido à crise mundial, aquela coisa da esperança, etc. Daqui a alguns anos ninguém vai lembrar dele assim, não a ponto de justificar tanto prêmio, entende? Eu até gosto do filme, mas vejo muita coisa por trás além da "pura" qualidade do mesmo. Abs.