quarta-feira, julho 16, 2008

Cinema

Ao infinito e além!


Personagens fofinhos podem sim render boas histórias.

WALL-E representa o fim de uma era. Último projeto concebido no já folclórico almoço que deu origem a Pixar – e embrião de todas as animações lançadas pela empresa até o momento – a nova empreitada mostra o porquê do estúdio comandado por Steve Jobs ter assumido a posição de líder vanguardista do cinema mundial. Uma ascensão calcada em uma fórmula simples, desprovida de estratégias mirabolantes de marketing que maquiam os defeitos da maioria dos blockbusters desta década. O segredo da Pixar também não é escondido de ninguém. Está aí, para quem quiser ver: trata-se da noção de que um bom filme começa com uma boa história, não importando se essa terá apelo infantil ou se será protagonizada por atores reais ou modelos animados digitalmente.

Um olhar atento sobre as obras da Pixar, passando por seus funcionários, revela o esmero com que estes tratam suas criações. Cada detalhe é pensado, repensado, discutido e rediscutido inúmeras vezes, com a participação de todos e sem autoritarismo – algo que pode ser visto nos making offs dos DVD’s do estúdio. Ali fica fácil perceber que todo o processo é dominado por uma sensação de prazer quase palpável, presente em cada um dos envolvidos. Na Pixar o mais importante é fazer cinema com paixão, postura que explica o diferencial alcançado pelos filmes da empresa, mas que implica em assumir riscos.

WALL-E é o melhor exemplo da filosofia Pixar de fazer cinema. Apostando em uma temática adulta, que envolve desde conscientização ecológica até a massificação da produção cultural, passando por pontuais críticas às megacorporações capitalistas e um romance genuíno. Tudo isso em um filme protagonizado por dois robôs que se comunicam unicamente com sons e gestos, o que em alguns momentos nos remete ao inesquecível Carlitos de Chaplin, devidamente modernizado sob uma roupagem inspirada em ficções como 2001: uma odisséia no espaço e Blade Runner. O resultado pode afugentar adeptos da diversão mais escapista, mas não chega a comprometer o charme perante a criançada. Mesmo assim, o impacto da aposta arriscada se vê claramente nas bilheterias, com WALL-E perdendo por pequena margem para Kung Fu Panda, uma animação mais inclinada aos parâmetros tradicionais.

Quem foi que disse que o romance havia morrido?

Mas esta pequena diferença em nada compromete o reinado absoluto da Pixar. Os números continuam bastante favoráveis, e devem melhorar muito mais com as vendas de DVD’s e brinquedos inspirados na produção. As críticas entusiasmadas à WALL-E também devem garantir o terceiro Oscar para o estúdio e, com isso, mais credibilidade para poder alçar vôos ainda mais ousados, como os que vêm sendo anunciados para o futuro da empresa.

Para a vindoura nova fase, a Pixar pretende expandir seu campo de atuação, desenvolvendo filmes com atores reais. Nada mais natural para uma empresa que sempre tentou não-enxergar fronteiras entre animação e cinema convencional. Uma pena que alguns fãs de animação estejam protestando contra esses novos rumos, com argumentos (ou seriam a falta deles?) no mínimo contraditórios. Eles acham que a empresa não pode dar as costas ao formato que a consagrou. “Seria uma traição”. Ora, justo eles que sempre elogiaram a política da Pixar de enxergar a animação como um formato, e não um gênero em si... Vai entender?

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