Ao infinito e além!

Personagens fofinhos podem sim render boas histórias.

Um olhar atento sobre as obras da Pixar, passando por seus funcionários, revela o esmero com que estes tratam suas criações. Cada detalhe é pensado, repensado, discutido e rediscutido inúmeras vezes, com a participação de todos e sem autoritarismo – algo que pode ser visto nos making offs dos DVD’s do estúdio. Ali fica fácil perceber que todo o processo é dominado por uma sensação de prazer quase palpável, presente em cada um dos envolvidos. Na Pixar o mais importante é fazer cinema com paixão, postura que explica o diferencial alcançado pelos filmes da empresa, mas que implica em assumir riscos.
WALL-E é o melhor exemplo da filosofia Pixar de fazer cinema. Apostando em uma temática adulta, que envolve desde conscientização ecológica até a massificação da produção cultural, passando por pontuais críticas às megacorporações capitalistas e um romance genuíno. Tudo isso em um filme protagonizado por dois robôs que se comunicam unicamente com sons e gestos, o que em alguns momentos nos remete ao inesquecível Carlitos de Chaplin, devidamente modernizado sob uma roupagem inspirada em ficções como 2001: uma odisséia no espaço e Blade Runner. O resultado pode afugentar adeptos da diversão mais escapista, mas não chega a comprometer o charme perante a criançada. Mesmo assim, o impacto da aposta arriscada se vê claramente nas bilheterias, com WALL-E perdendo por pequena margem para Kung Fu Panda, uma animação mais inclinada aos parâmetros tradicionais.
Quem foi que disse que o romance havia morrido?
Mas esta pequena diferença em nada compromete o reinado absoluto da Pixar. Os números continuam bastante favoráveis, e devem melhorar muito mais com as vendas de DVD’s e brinquedos inspirados na produção. As críticas entusiasmadas à WALL-E também devem garantir o terceiro Oscar para o estúdio e, com isso, mais credibilidade para poder alçar vôos ainda mais ousados, como os que vêm sendo anunciados para o futuro da empresa.
Para a vindoura nova fase, a Pixar pretende expandir seu campo de atuação, desenvolvendo filmes com atores reais. Nada mais natural para uma empresa que sempre tentou não-enxergar fronteiras entre animação e cinema convencional. Uma pena que alguns fãs de animação estejam protestando contra esses novos rumos, com argumentos (ou seriam a falta deles?) no mínimo contraditórios. Eles acham que a empresa não pode dar as costas ao formato que a consagrou. “Seria uma traição”. Ora, justo eles que sempre elogiaram a política da Pixar de enxergar a animação como um formato, e não um gênero em si... Vai entender?
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