terça-feira, janeiro 23, 2007

Cinema

Entretenimento lapidado


Elenco estrelado garante brilho de produção politicamente engajada


Ativismo político não é novidade em Hollywood. Até mesmo Chaplin aproveitou o auge da fama para realizar um verdadeiro panfleto contra o nazismo em O grande ditador, onde teve oportunidade de ridicularizar a figura de Hitler. Mais do que bilheteria, este gênero de filme costuma ter grande repercussão na mídia por apresentar à sociedade diversos temas de extrema importância, que muitas vezes são relegados pelos noticiários convencionais.

Neste quesito, o continente africano parece despontar como uma “mina de diamantes” para inspiração de roteiristas engajados, ainda mais agora, quando a África está “na moda”, graças a uma sucessão interminável (e até certo ponto, questionável) de adoções realizadas por celebridades. Muitas outras, engajam-se em missões humanitárias. Estes atos atraem, invariavelmente, a atração da mídia global.

Desta forma, rodar um filme que aborda o problema político, social e econômico gerado pela extração de diamantes em zonas de conflito não chega configurar como uma idéia muito original, mas revelar o assustador quadro financiado pela indústria de jóia parece essencial. Atualmente, brilhantes servem como moeda para financiar milícias rebeldes e até mesmo alguns exércitos nacionais. Estes se digladiam de forma incessante, deixando o povo a mercê da miséria e destruição causada pelos conflitos.

O diretor Edward Zwick acertou a mão neste ponto. Diamantes de sangue não tem pudor de mostrar as barbáries cometidas por ambos os lados. Escravidão, chacinas e recrutamento de crianças para o combate podem não ser temas muito atrativos para pessoas que estão atrás de diversão escapista, mas sem dúvida são capazes de suscitar um pouco mais de reflexão.

Mas é claro que se o filme tivesse apenas esta intenção, quase ninguém iria aos cinemas, e fazer um panfleto para convertidos não ajudará a mudar o quadro. Por isso, Zwick optou por uma constelação de estrelas para o elenco. Leonardo DiCaprio encabeça a lista, na pele de Danny Archer, inescrupuloso mercenário que está atrás do diamante encontrado pelo pescador Solomon Vandy (Djimoun Housson, em ótima atuação). A maravilhosa Jennifer Connely dá vida à jornalista Maddy Bowen, uma idealista que cruza o caminho de Archer e se torna o interesse romântico do rapaz, e até certo ponto, sua consciência.

Recheado de ação e com diversas seqüências de tirar o fôlego, Diamantes de sangue pode ser rotulado como um blockbuster politicamente engajado. Deve agradar tanto aos fãs de filmes de ação, quanto adeptos de um cinema mais “cabeça”. Estes últimos certamente irão reclamar de alguns deslizes do filme, como a forçada relação entre Archer e Bowen, ou mesmo o final feliz, que causa a falsa impressão de que no mundo real os problemas também se resolvem naturalmente.

Diamantes de sangue tem tudo para atrair um grande público e alimentar calorosos debates sobre a exploração dos diamantes de conflito. Sem dúvida ele não fornece embasamento necessário para uma argumentação mais criteriosa, mas serve como primeiro passo. Também é certo que muitos permanecerão incessíveis à mensagem, guardando na memória apenas os espetaculares tiroteios, ou a beleza do casal protagonista. Lembro-me de que, na estréia de Super size me, filme que retrata os malefícios que a dieta fast food pode causar, muita gente saiu do cinema e foi direto para o McDonalds! Portanto, se Zwick não conseguir mobilizar tipos assim, não vamos culpá-lo!!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Leonardo merceu a indicação... Está melhor do que em Os infiltrados!!!